terça-feira, 27 de dezembro de 2016

yeshuas' day


nothing better than
a Nobel Prize as an
Yeshuas' day gift
just Bob Dylan
but no letters, only hits
none books, only a dvd

(even 22 years latter!)

(nada melhor do que
um Prêmio Nobel como
presente no dia de Jesus
apenas Bob Dylan
mas sem escritas, só músicas
nenhum livro, só um dvd)

(mesmo 22 anos depois!)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

lentamente...


Lentamente,
cuidadosamente,
respeitosamente, (*)
as mãozinhas vão se movendo, se erguendo, se aproximando e, enfim, tocam, a minha barba, o meu óculos, o meu nariz, a minha orelha, o meu cabelo, a minha pele; como se estivessem, e de fato estavam, tocando pela primeira vez a minha barba, os meus óculos, o meu nariz, a minha orelha, o meu cabelo, a minha pele.
(e aqueles olhinhos lindos, puros, instigantes, perscrutadores, perturbadores; divina, luminosa e cristalinamente azuis?! melhor deixar pra outro capítulo! concentremo-nos, por hora, apenas nas mãozinhas; suficientes pra tirar o fôlego e insuflar a alma!)
Ah... as mãozinhas!
É absolutamente fantástico, mágico, inacreditável, extasiante, inexplicável, ver e sentir um bebê de sete meses erguer as suas mãozinhas pelas primeiras vezes pra tatear o mundo, pra conhecer as coisas e as pessoas, pra tocar e contatar a vida ao seu redor!
E o mais admirável, prazeroso, respeitável e gostoso de tudo é poder ver e sentir como eles, esses pequenos seres incríveis e fabulosos (no estrito sentido de seres de fábulas), fazem isso constante, dedicada e meticulosamente:
Eles vão avançando em direção a seus objetivos lentamente, vagarosamente, cuidadosamente, respeitosamente, e até veneravelmente (e nunca de forma brusca, medrosa ou temerosa)
São gestos lentos, mas, certeiros; vagarosos, mas, objetivos; desajeitados, mas, precisos; sempre cuidadosos e amorosos.
Muitos poderão dizer que tudo isso, a lentidão, o cuidado, a vagareza, deve-se simplesmente à sua ainda precária habilidade tátil e manual, sua ainda pouca capacidade corporal e motora. Balela! Conversa! Ledo engano!
Preste bastante atenção neles! Eles sabem perfeitamente o quê, para quê e como, estão fazendo isso. Suas ações são perfeitamente coordenadas, pré-estabelecidas, processadas, concluídas e auto-avaliadas.
Bobos somos nós que não os entendemos!
Quisera que todos nós, crianças, jovens, adultos, velhos, fôssemos assim... quem dera... como os bebês: sempre lentos, cuidadosos, respeitosos, vagarosos, curiosos... e amorosos.

(*) homenagem à minha neta Cecília, que fez sete meses num dia desses, e
ainda ergue, assim, as suas mãozinhas pra mim.

vícios

Mais um dezembro badalando seu solstício
Milhares de lindos pacotes balançando
nos corredores do hospício
Comemoram algum supremo, divino e redentor evento natalício?!
Disso não vejo o menor indício!
É só um vício...
Quanto desperdício!
E o mundo segue avançando pro precipício.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

sem graça

Sem graça (*)
tudo fica sem graça,
não acho a menor graça.
E se acho alguma graça,
continuo sem graça.

Cadê a graça?!
Não vejo graça!
Coisa mais sem graça!

Se estou sem graça,
o mundo perde a graça,
a vida fica sem graça.

Só há uma desgraça:
eu ficar todo sem graça,
e perder a graça.

(*) terceiro poema da graça

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

entre... e...

entre... e...

meu dia a dia é que nem
um constante vai e vem

entre a engenharia
e a poesia

entre a infra-estrutura
e a literatura

entre o concreto
e o incerto

entre números
e versos

entre contas
e contos

entre o executar
e o pensar

entre o medir/cavar
e o sentir/meditar

entre o teorema
e o poema

entre a construção
e a contemplação

entre o problema
e o dilema

entre martelos
e sufixos elos

entre serrotes
e bons e belos motes

entre a solução
e a indagação

entre o prego
e o poeta grego

entre a concretização
e a pura divagação

entre o axioma
e a musa de roma

entre a chave de fenda
e a espiritual oferenda

entre o parafuso
e palavras de pouco uso

entre a furadeira
e a palavra derradeira

entre a equação
e a sublimação

entre utilidades
e banalidades

entre a caixa de ferramenta
e tudo que ao espírito sustenta

div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

tempus ventus II


Tempus Ventus II
(Vento do Segundo Tempo)

Se há demora
o tempo a leva embora
no passar das horas
sem demora.

E fica o mormaço de um nunca mais
e um vento que sopra o jamais
de uma nova brisa nos quintais.

Um vento que não sopra jamais
Um tempo sem mais, de nada mais
Como uma trava em todos os portais.

Tempo que vira vento
Vento que não vira tempo

É um tempo que flui como o vento.
É um vento portador de vagas imemoriais
que se quer inutilmente passar por tempo, e nada mais

E a tua demora
é o tempo que vai embora
deixando apenas um jamais
com gosto de nunca mais.

Quando lhe dei meu tempo
você o levou como vento
sem menos nem mais.

Sim, senhora!
Dona das minhas horas
Deixou os meus aposentos irreais
perdeu a hora e foi embora
para nunca mais.

E agora?
Ficou só o vento frio que trespassa os vitrais.
Calor nessas horas?
Só se eu botar fogo nessa casa sem demora,
queimando mesas e cadeiras,
livros, revistas e jornais!

(na versão I, se bem me lembro,
foi no Leblon, no inverno de 2003, e
quando escrevi
lembrei e entendi
as ruas que percorri
nisso que Adriana diz:
“caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial”)

sábado, 3 de dezembro de 2016

pés sem chão


Que pés são esses?!
No meu gramado, meu campo, minha terra
Meus pés não mais tocam esse chão?!
Não chuto a bola, não defendo, não ataco, não faço o gol...
Não, nunca mais, não!
Mas, que pés são esses que me levam pro meu campo, pro meu gramado?!
Quem são eles? Quem são?
Por que e pra que me levam tantos pés, que não os meus?!
Ah! Já sei! Claro! Me carregam pra galera!
Sou campeão!!!

Homenagem à Associação Chapecoense de Futebol

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

nuvens


nuvens (MCMLXIV)

olhando bem lá fundo,
na linha do último horizonte,
ainda é possível vislumbrar
as nuvens dos primeiros dias,
e, além desse infinito espaço,
levitar, flutuar e se abandonar
no céu das eternas memórias
das últimas noites no tempo
do planeta mais profundo.

by brumbe over the clouds

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

52 quadros


52 Porta-Retratos

Depois de refeita do susto de alagamento
(por rompimento da tubulação de água de aquecimento)
Após se recompor da ameaça de desabamento
Reforçada com tijolo, pedra, areia e cimento
A parede do meu mural
The wall of my world of real
(which means, too, words of real)
Aquela em frente à lareira
(onde dependuro as fotos das pessoas
que aquecem minha alma no inverno e no verão)
está novamente inteira.
É aquela atrás do sofá
com a colcha de retalhos coloridos da vovó
(ou será da mamãe, será?)
Aquela entre a sala de tocar e a escada pro segundo andar
Minha parede predileta, uma das favoritas
(da casa é, seguramente, uma das mais descritas)
Meu muro das exaltações
Minha parede de divagações
Meu altar de reflexões e venerações
Só que, agora, ela tem 52 porta-retratos
Retratos que sempre portam,
de porta a porta,
quem sempre mais importa.
Parede recuperada, reforçada, reaprumada rebocada e repintada
Parede altamente, largamente e profundamente retratada.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

vapores acortinados


vapores acortinados

gosto dessa mudança de cor,
de tonalidade, de cheiro e de sabor,
de cinza cinzento acinzentado,
nuances do tempo fechado,
que a chuva provoca,
que a névoa deixa,
e que o espírito evoca,
em forma de água em vapor.
costumo até me aquietar e sentar
apoltronado no avarandado
da casa só pra ler e ver.
não fosse o cair da noite, ficaria o dia inteiro,
ou, pelo menos, boa parte da tarde,
admirando-as, saboreando-as,
observando-as, absorvendo-as.
um longo e transitório vai e vem de imagens,
vaporosas e dançantes miragens
(inepsifíbios vasteporis mega I),
às vezes em formas tão estranhas tamanhas,
que a chuva entorpece e acortina,
que nem visual morfina,
nas minhas montanhas.

domingo, 20 de novembro de 2016

melancolia


Ah... minhas montanhas de Minas...
é só olhar para elas
é só visualiza-las
sossegar os olhos nelas
em simples contemplação
e logo vem o espanto e o êxtase
por bilhões de anos existidos e vividos
Inexplicável mistura de desolação,
melancolia e sublimação
Vastas e devastadoras solidões,
e uma infinita, sonolenta e estranha saudade
das longínquas terras desconhecidas e misteriosas
que se ocultam por trás delas,
bem além das suas suaves ondulações

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Holocausto das Mariposas



da longa série
Ensaios Poéticos Ao Bel-Prazer
Por Pura Falta Do Quê Fazer

Holocausto das Mariposas


Que nem nos blackouts energéticos,
daqueles tipo light elétricos,
coloquei umas velas
no parapeito da janela
para, de um jeito de outro,
parar, queimar, torrar, estorricar,
na chama do fogo ardente
o enxame de mariposa
que na sala voa,
na pele pousa
e na cabeça zoa.
Sete joules por segundo
de calor incandescente,
creio que quarenta minutos,
segundo meus cálculos, será suficiente.
Pode até não eliminar toda mariposa, libélula,
aleluia, pernilongo, besouro ou mosquito.
Mas, que ficou, ficou sim, muito bonito!
Tá parecendo um oratório,
oratório sem santo,
feito só para o pranto,
onde posso rezar inclementemente
pelo breve velório,
da morte em holocausto,
desses insetos impertinentes

(funcionou com 99% de eficiência!
vou postar no fakebook como receita de pseudo ciência)

foto by Brumbe, 16/11/16

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

aquamoto


aquamoto

entre uma chuva e outra,
bem no meio das nuvens
de cúmulo-nimbus,
nimbus com toneladas
de água acumulada,
corri pra tirar a foto,
debaixo desse aquamoto,
e juro que, enfim, eu vi!
ela, a super lua, a tal,
passando no meu quintal
isso mesmo, a tal super lua
aqui, agora, cruzando a minha rua

foto by Brumbe, 15/11/16

domingo, 6 de novembro de 2016

bugainvilles


novas flores estacionadas
na minha garagem transformada
sairam os automobiles
entraram os buganviles

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

inquestionabilidade

inquestionabilidade

tudo é questionável
a história é questionável
a conversa e o discurso são questionáveis
o conceito, o preceito, o dogma, a lei e o prefeito são questionáveis
futebol, políticas e religiões são questionáveis
o jogo, o gol, o pênalti e o impedimento são questionáveis
países, barreiras, juízes e fronteiras são questionáveis
o comunismo, o capitalismo, o anarquismo, o niilismo e todos os demais ismos são questionáveis
o infinito e o eterno são questionáveis
o tamanho do universo é questionável (inclusive se ele é uni ou multi)
algumas sub partículas atômicas são questionáveis
a manipulação genética é questionável
um texto sem pontuação, principalmente o carente de vírgulas, é fortemente questionável
tudo que aperece nessa tela, e mesmo o que nunca se vê nela, é questionável
há (e como há!) obras de arte questionáveis
a filosofia, a biologia, a psicologia, a astrologia, a economia, e tudo mais que foi, vai ou ia, é questionável
a falta de beleza, de estética, de moral e de ética são altamente questionáveis
o vinho, o carro, a cidade, o queijo, o cigarro e a idade são questionáveis
deus e o diabo são profundamente questionáveis
este texto é totalmente questionável
até o amor é questionável
(você me ama? eu te amo?)
só há uma coisa inquestionável:
a vida
somente a vida é inquestionável
tudo o mais é questionável

by brumbe (c) 2016, se questionando sobre certas questões

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

política no Brasil

O grande problema da política no Brasil é que enquanto os políticos profissionais já atingiram, há séculos, a plena maturidade (ir)responsável e até a velhice senil; o eleitor, o povo em geral, ainda está saindo da inocente infância e mal entrando na agitada, deslumbrante e enganosa adolescência.

domingo, 23 de outubro de 2016

agraciado

Agraciado

Um homem deve reconhecer quando recebe uma grande graça
Principalmente quando uma mulher é a própria graça
Uma graça em forma de mulher
E não há o que ele não faça
para a ela merecer, receber e acolher
Ele é, então, um homem agraciado,
de fato abençoado
E ela, a graça, talvez não tenha caída dos céus,
nem tenha sido ofertada por algum deus
Mas é real e concreta
deste chão, desta terra
É um anjo do mundo
(ah, e se eu me chamasse Raimundo,
seria só uma rima)
Sem ela, sou só um ser inerte, sem graça
Só ela me vitaliza e anima.
Ela, minha grande graça!

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

crossing II

my abbey road crossing - heavy version
london, june 2nd, 2015

background sound:
she's so heavy - lennon / mccartney,
abbey road, Beatles

(video available in my facebook's timeline at october 13, 2016)




segunda-feira, 3 de outubro de 2016

só pra diversão


Só pra diversão!
Que coisa boa, né?! Fui num shopping hoje de manhã só pra comprar quatro coisas:
Um dvd de rockão pauleira
Umas garrafas de vinho
Uns palitinhos de incenso
E mais 200Euros pra próxima viagem.
E sai de lá pensando: que coisa boa, né, sô?! Tô comprando coisas só pra diversão! Nada por obrigação, sobrevivência, alimentação ou ostentação. Só pra pura diversão! Que trem bão! Estou realmente vivendo a melhor, mais rica e mais privilegiada época da minha vida. Pois é como ela costuma dizer: sou mesmo um folgadão. E eu acrescento: um sortudão!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

vezes


Às vezes a gente...

Às vezes as vezes se vão
As vezes às vezes se perdem
Às vezes, sim
Outras vezes, não
Às vezes a gente não pensa direito antes de falar
As vezes que a gente não falou pode ser porque pensou direito antes de falar
As vezes às vezes não se repetem pra gente poder corrigir o que às vezes as vezes podem permitir
Sem falar que certos agentes às vezes impedem as vezes da gente
Ou das vezes que certa gente às vezes é agente do cerceamento da gente
E quantas vezes a gente já tentou multiplicar zero vezes infinito?
Deu certo? Às vezes
(resultado muito bonito!)
As vezes às vezes se perdem
Às vezes as vezes se vão
Umas vezes, sim
Às vezes, não
Outras vezes?
Talvez, às vezes,
Com outras vozes

by Brumbe (c) 2016,
às vezes, sem outras vezes
com outras vezes, às vezes

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

outra prima (versão II)


outra prima (versão II)

tá chegando, enfim, a primavera
com seus longos e belos cabelos,
todos bem floridos e presos à cabeça.
e que sejam todos deveras
livres, leves, sedosos e soltos,
mesmo não sendo os da prima vera.
mesmos cachos e mechas revoltos,
mas, de uma outra prima que seja.
talvez uma que eu nem mais reconheça,
já longínqua e perdida em remotas eras.
ou outra cuja estação venha e permaneça,
uma bela e graciosa prima dos outros.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

do fio à fibra


do fio à fibra

Ivan Gagarin, o pai, viu uma lâmpada elétrica pela primeira vez em 1931, lá nos cafundós das estepes da Rússia.
Iuri Gagarin, o filho, foi o primeiro ser humano a subir ao espaço, num vôo orbital, em 1961, lá no deserto do Cazaquistão.
Li esta pequena historinha há algumas décadas e isto me deixou profundamente impressionado.
Imaginem só: um humilde carpinteiro russo conheceu a luz elétrica em 1931, e o seu próprio filho pilotou uma nave espacial, a primeira engenhoca cósmica tripulada (Vostok 1 (*)), apenas 30 anos depois!
(*) Estas primeiras cápsulas espaciais – tantos as americanas (Mercury) quanto as soviéticas (Vostok) –, para apenas um tripulante, eram tão pequenas e apertadas que os engenheiros diziam que os astronautas, ou cosmonautas, não entravam nelas, eles as “vestiam”.
Voltando ao vestido em pauta: Esta disparidade, este contraste, temporal entre a luz elétrica e a nave espacial, sempre representou para mim um fato altamente emblemático, marcante, simbólico, da incrível, fantástica e vertiginosa evolução científica e tecnológica que a humanidade experimentou nos últimos cem anos (1910-2010).
E posso dizer que comigo aconteceu algo bem parecido, tecnologicamente falando, ao que aconteceu com a família Gagarin – mas, claro, guardada as devidas e infinitas proporções entre a importância dos fatos e dos personagens envolvidos –, com a diferença que não foram fatos ocorridos com meu pai e comigo ou comigo e uma filha minha. Não, foram fatos ocorridos comigo mesmo num período ainda menor, em cerca de dez anos – mas todos no nível do solo, da terra, ou no máximo a três metros de profundidade ou oito metros de altura, nada a nível estratosférico, espacial ou cósmico.
Por volta de 1975, eu percorri a pé uma estradinha de terra no norte de BH para mapear e projetar um único circuito de fios de cobre, através de postes e cruzetas de madeira, saindo de um cabo telefônico na esquina de Pedro I com Pe. Pedro Pinto, para instalar um único telefone fixo num sitiozinho lá pros lados do antigo hipódromo Serra Verde, próximo de onde é hoje a Cidade Administrativa do Estado – e era muito comum eu fazer este tipo de serviço naquela época.
Em abril de 1985, eu participei do planejamento e projeto para instalação do primeiro cabo de fibras ópticas do Brasil – um projeto nacional, com instalações simultâneas nos maiores Estados –, um simples cabinho subterrâneo com 6 fibras ópticas, em que cada fibra (com pouco mais que a espessura de um fio de cabelo) era capaz de transmitir, num feixe de laser multímodo, a exorbitância inacreditável de 480 comunicações telefônicas simultaneamente!
E este cabo foi instalado interligando o centro de BH e a região da Pampulha, até uma estação telefônica próxima daquela estradinha onde dez anos antes eu projetava circuitos de fios de cobres de 2,5 mm pra instalar um único telefone!
Pois é, o Gagarin Pai não inventou a lâmpada elétrica e só viu tal luz, pela primeira vez na vida, já adulto. Eu também não inventei nada de fios telecomunicadores e só os conheci já menino na vida.
E o Gagarin Filho também jamais inventou ou construiu um bólido espacial, mas foi o primeiro homem a se encapsular e voar num deles. Eu também jamais tive coisa alguma a ver com a criação da fibra óptica para fins de telecomunicações, mas ajudei a instalar as primeiras do Brasil.
E hoje, em 2016, quando passo de carro a 110 km/h, semanalmente, por onde era aquela mesma estradinha de terra – hoje é uma grande via expressa de pistas de concreto e asfalto –, me pego freqüentemente pensando:
Em 40 anos: de um fio de cobre, passando por uma fibra óptica, e, agora, este celular no bolso, que, aliás, faz muito mais do que só falar: traz o mundo inteiro, em texto e imagens, nesta telinha!
E fico pensando como é que vai ser daqui a 10, 20 ou 30 anos, quando eu passar, talvez voando, levitando ou me teletransportando, por aquela mesma estradinha.

Foto: Diagrama de parte da rede de cabos opticos da área central de BH em 1995, projetada e desenhada por Roberto (Brumbe) Correa e equipe, para Telemig/Telebras

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Paredes Caídas, Paredes Erguidas


Paredes Caídas, Paredes Erguidas

Foi lá no quartinho dos fundos, muito além, rumo norte – onde me nortei ou me desnortei de vez –, além de todos os grandes quartos, salas, corredores, varandas e halls, entre paredes que testemunharam quase 20 anos de Rock’n’Roll. Quase 40 anos depois, volto à casa onde nasci, cresci e vivi por exatos 25 anos, e da qual só sai depois que casei. Casa que o meu pai vendeu logo depois que eu me mudei.
Foi lá no dia dos 100 anos do nascimento dele, do meu pai, depois da missa na igreja já quase secular quase ao lado da casa também já quase centenária onde eu nasci. A nova dona da casa chamou a gente pra visitar a velha casa agora nova – se não estivéssemos dentro de uma igreja católica, eu diria que foi quase um histérico pandemônio familiar.
Era um casão, a casa velha: 5 quartos, 3 salas, 3 banhos, 1 cozinhão, 1 alpendre e 1varandão, 1 quintal, 13 irmãos, pai e mãe, 3 ou 4 empregadas, população flutuante indefinida e constante, e 1 barracão (com mais 3 quartos, 1 banho, fogão a lenha e um grande, imenso, tanque de lavar roupas – pra roupa de 15 a 20 pessoas, haja tanque!
No quintal? figueiras, limoeiros e laranjeiras, gangorras (balanços pras crianças) sob a parreira das videiras, um galinheiro, um coelhal e um pombal. Um quintal todo trançado de arames de varal. Com tanta gente, onde quarar tanta roupa, afinal? Haja varal!
Na frente da Rua Silva Jardim, um belo jardim com roseiras, manacás e roseiras, e damas da noite e do dia, e outras plantinhas dia e noite perfumeiras. Garagem pra 3 ou 4 carros, em época que cada casa tinha apenas um – um carro pra carregar 15 ou 20 pessoas? Kombi! (freqüentemente duas)
Na frente do jardim, um murinho baixinho, de pouco menos que um metro, de frente pra rua e pra cidade felizes e amigas. Muro depois erguido, elevado, pra mais de dois metros de altura quando, de repente, não se sabe bem quando nem porquê, a rua e a cidade se tornaram tristes e inimigas.
Casa antes já tão velha e agora tão nova. Reformada, reformulada, reconstruída, refuncionalizada. O quarto de dormir, estar, viver, ler, ouvir sonhar e acordar virou sala de jogos de jogar. No lugar da cama, uma mesa de bilhar. Mas, como então, continua local de pura diversão.
Paredes caíram, paredes subiram.
Mas, lá onde era aquele quartinho dos fundos, onde eu e o meu rock'n'roll nos exilamos voluntariamente há mais de 50 anos, na mesma irremovível parede do fundo, onde pendurei uns velhos pôsteres dos Beatles e dos Pink Floyds, agora encontrei pendurados novos pôsteres dos mesmos Beatles e Pink Floyds.
Pois é, as paredes caíram, mas os pôsteres ficaram. Permaneceram como, talvez, as únicas coisas que concretamente ligam, conectam, as duas casas. Paredes que, ao invés de mural pintado, riscado e cheio de cartazes, mapas, pôsteres e papeis colados ou pregados, agora sustenta e ostenta simples tijolinhos envernizados.
Paredes testemunhas e cúmplices concretas de 15 felizes e fantásticos anos (1962-1977) de Beatles, Pink Floyd, Genesis, Aldous Huxley, George Orwell, Chico, Caetano, Gil, Mutantes, Raul Seixas, Jorge Amado, João Cabral, Betânia, Elis, Gal, Isaac Azimov, Dostoievski, Hermann Hesse, Led Zeppelin, Bob Dylan, Vinicius, Jobim, Lenine, Tom Zé, Zé Ramalho, Carlos Drummond, Fernando Pessoa, Garcia Marquez, Pablo Neruda, Chopin, Mozart, Beethoven, Pink Floyd e Beatles, no quartinho dos fundos.

Mapas by Brumbe: planta-baixa da casa velha, depois da última reforma feita pelo papai.
Foto by Ana Corrêa: Brumbe postado na parede posterizada do quartinho dos fundos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

a conta de quem lê


a conta de quem lê

aaahhhh,
por isso gosto tanto de escrever:
a interpretação, boa ou má,
tanto faz como tanto fez,
é da conta de quem lê.
e a minha não conto,
pois não conta
e não há que conhecer
e nem é necessário saber
se bem ou mal se vê.

by Brumbe (c) em 2016
ou em outro ano, talvez

terça-feira, 30 de agosto de 2016

eu?!


eu?! há tempos já largei
a política e a engenharia,
a religião e a economia,
e outros tantos ão
e outras tantas ia.
(e que assim vão...
com o seu deus-guia)
hoje sou feliz,
e muito feliz,
só com a poesia!

(só não largo o futebol
que não trás nenhum mal.
aliás, ultimamente,
só alegria!)

by Brumbe (c) 30/08/16

foto by Brumbe:
Igreja da Floresta em BH
(uma bela combinação
de religião, engenharia,
arquitetura e poesia)

domingo, 28 de agosto de 2016

Pai


Pai

Já escrevi sobre irmãos, irmãs e amigos, já poetizei para filhas, netos e tios, já poematizei para mãe, a mamãe, e para namoradas, já textualizei até para cunhados e agregados, pode?!
Mas, escrever sobre pai, para o papai, nosso pai, confesso, foi a escrita mais difícil com que já me deparei até hoje. Falar sobre pai, principalmente o nosso pai, é algo tão grandioso, tão honroso, tão prazeroso e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, tão misterioso, tão assustador, tão superior que - desculpem o clichê, mas não é lugar nada comum - faltam realmente palavras para cumprir tal empreitada.

Todos nós, eu e vocês, vivemos aqui no comum nível terreno, nas superfícies da terra, e somos todos plenamente acessíveis, palpáveis, alcançáveis, tratáveis, inclusive as mamães, com aquelas suas doces e plenas disposições amorosas que só as mães têm.
Mas, pai é totalmente diferente.
Pais vivem e reinam em patamares superiores, em níveis divinos, míticos, quase inalcançáveis. São de fato, simplesmente, os nossos entes queridos, os nossos familiares, mais veneráveis e respeitáveis.

O quê falar sobre pai, sobre o nosso pai?!

Eu poderia ficar aqui falando, apenas íntima e domesticamente, sobre o filho e o irmão que ele foi, o caçulinha da grande família Corrêa, o quanto ele era querido, admirado e respeitado por seus pais, irmãos e irmãs. Como ele era bem falado, e bem ouvido, por todos os seus tios, primos, cunhados e concunhados.

Eu poderia passear pelas histórias do "amancinho" viajante, em como ele era benquisto e bem recebido nas viagens que fazia por esse interior de Minas Gerais afora para visitar a parentada - Divinopolis, Luz, Lagoa da Prata, Araújos, Perdigão, Santo Antonio do Monte e outros tantos santos e santas -, onde a sua popularidade e a sua amizade eram imensas e sempre bem saudadas.

Eu poderia escrever páginas e páginas, sem contabilidade, sobre o profissional, o comerciante e negociante que ele era, no São Rafael, no João Bosco & Cia, no São Luis e em outras tantas casas comerciais. O homem sempre correto, justo, sério, ético e moral nas suas atividades comerciais; sempre respeitado e admirado por seus pares, inclusive por seus concorrentes, e por seus fregueses - não só devido aos precinhos mais baratos e justos que praticava, como também pelo tratamento sempre amigável, humano, e muitas vezes humanitário, que dispensava aos seus clientes, principalmente os mais pobres e carentes.

Eu poderia lavrar escrituras sagradas, canônicas, talvez uma bíblia inteira, sobre o homem altamente religioso, piedoso e caridoso que ele era. Sua expressiva e constante atuação na Sociedade São Vicente de Paulo e aqui mesmo nessa casa, nessa igreja. De como o seu espírito de liderança, colaboração e pro atividade no meio religioso e assistencial era tão contagiante, respeitado e acatado junto aos seus confrades nas diversas "conferencias" de que participou e até criou e presidiu.

Eu poderia contar inúmeras, belas, hilárias e tocantes histórias que vivemos com ele ali na Rua Silva Jardim; os seus "causos" com os vizinhos não só de rua, mas de todo o bairro Floresta, bem como de Santa Tereza, Sagrada Família, Horto e adjacências; do quanto ele era apreciado, admirado e respeitado por toda a vizinhança, e até mesmo por meros transeuntes que pouco ou nada o conheciam. Pois é, eu poderia falar de tudo isso: do homem de família, do filho, do homem comerciante, do viajante, do religioso, do confrade, do caridoso, do homem da comunidade, da sociedade, da fraternidade, etc.

Mas, não vou falar de nada disso, pois estou aqui para falar - e esta foi a encomenda que me deram - do Pai, do nosso Pai, o Pai Amâncio Corrêa Filho.
O homem que nos deu a vida e esta família incrível, linda, maravilhosa e grandiosa, não só quantitativa como, também, qualitativamente falando.

Todos nós, - e só para citar os filhos: Rafael, Tarcísio, Neuma, Luiza, Helena, Zélia, José, Roberto, Celina, Paulo, Sérgio, Regina, Luiz e Viviane, - estamos ou estivemos aqui por causa dele.
Somente ele tornou isso maravilhosamente possível. E isto é o seu legado maior, a sua preciosa e inestimável herança para todos nós: esta família que ele criou e nos dedicou e presenteou.

E hoje, toda vez que vejo as minhas filhas incríveis e os meus netos lindos, sempre penso nos meus queridos avós e nos meus maravilhosos pais. E lembro-me desse fantástico e amoroso ciclo natural da vida (de vida!) aparentemente tão normal, regular e corriqueiro, que é o renascer e o reviver permanente da família, o qual às vezes esquecemos o quanto devemos saudar, honrar, reverenciar e agradecer todos os dias das nossas vidas.

Por isso, eu confesso, de coração, que deveria ter admirado, respeitado, honrado, aplaudido e amado o meu pai muito mais do que o pouco, pouquíssimo, que o fiz.
Quisera poder tê-lo por mais cem, duzentos, mil anos, para dar conta de tudo o que por ele eu deveria ter feito.

Assim, o que eu posso falar para o grande pai que ele foi, é apenas um infinito, eterno e absoluto Muito Obrigado.
Obrigado, meu Pai.

Texto-homenagem ao meu pai por ocasião do centenário de seu nascimento (02/09/1916)

sábado, 20 de agosto de 2016

Que Graça!

Que Graça!

Ah, só podia ser!
Que trem bom!
Minha namorada é sobrinha-prima do Drummond!
Dele mesmo, o Carlos Drummond de Andrade!
Verdade!!!
Mas, eu não a namoro porque ela é prima-sobrinha do Drummond.
Pois, em que pese ela ser parenta do Drummond, eu gosto dela muito mais do que pelo fato de ela ser uma Drummond de Andrade.
É pelo que ela é, por sua personalidade,
sua simplicidade, sua serenidade,
sua força, sua inteligência,
seu charme, sua elegância,
sua alegria, sua beleza,
e, sobretudo, por sua Graça.
Mas, que o Drummond é tio-primo da minha namorada, isso ele é!
Ele mesmo, o Carlos Drummond de Andrade!
E não há pedra no caminho que faça que não é.
Mas, como já falecido, já residente em superior morada,
o Drummond, na verdade, era primo-tio da minha namorada.
Mas, pra mim, o Drummond continua sendo, e sempre será, tio-primo da minha amada.
O que, por sinal, acho a maior Graça!
Se eu fosse português e morasse em Lisboa,
provavelmente estaria namorando uma sobrinha-neta do Fernando Pessoa
que, tenho certeza, também seria uma ótima pessoa, gente boa.
Mas, como sou mineiro e moro nas Minas Gerais,
só posso estar namorando uma sobrinha-prima do Carlos Drummond, uai!
E ela é realmente uma Graça!
Uma Gracinha!
A minha namorada prima-sobrinha
do Drummond.
Que trem bom!
Só podia ser!


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

anti-Perseidas

Anti-Perseidas

São os ventos alísios que veem soprando lá do sul, alisando e estirando as nuvens da alta atmosfera.
Será a última frente fria que lá vem chegando, fechando o inverno e chamando a primavera?
Ou é uma chuva de anti-meteoros de água e gás, então,
uma torrente de anti-Perseidas, contra-Aquáridas Austrais, riscando pro norte do sul,
que lá vem subindo na contra-mão, da terra pro céu,
já pronunciando e desenhando um chuvoso e estrelado verão?



terça-feira, 9 de agosto de 2016

junta de dilatação


da série Poesia na Engenharia
ou Engenharia com Poesia
(é mão-dupla em qualquer via)

Junta de Dilatação

Junta de dilatação
no chão,
é chão que dilata junto,
é chão que chega junto
de outro chão.
Junta de dilatação
na parede,
é onde toda ação e reação
termodinâmica se dá
e se mede,
pra ver se não se excede.
Junta de dilatação
no teto,
sai debaixo,
nem chegue perto,
tá fora do eixo,
saiu dos caixilhos.
Todas as minhas estruturas fixas
foram abaladas
e desencaixilhadas.
Sigo futuro incerto,
de perspectivas desconjuntadas.
Juntando ou dilatando,
hoje ando,
com ou sem ação,
preferindo outra variação.
A que nos junte em eterno deleite,
no chão, no teto ou na parede
e até mesmo onde
a lei da gravidade não aceite,
em conjunção hipersensível,
numa bela, completa e flexível,
junta de divagação.

by Brumbe © Ago/2016, juntando dilatações

foto: uma junta de dilatação num chão

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

florões e brasões


da série adorajar: an old gate ajar

O velho e misterioso portão,
da casa em frente à minha,
na rua onde nasci e cresci.
Tá bem novinho, diferente,
mudaram trincos, posição,
porta, rebites e até batente.
Mas aqueles enigmáticos,
mágicos, emblemáticos
e velhos quatro "florões",
que mais parecem brasões,
continuam firmes bem ali,
desafiando o sol, a chuva,
o tempo e as interpretações.

Foto enviada pelo brother Jose Correa

terça-feira, 2 de agosto de 2016

adorajar


adorajar
(a propósito de peleumonias e outras celeumanias)

inda trazanteontem eu inventei e escrevi a palavra "adorajar" em referência, sem nada a ver, à expressão inglesa "a door ajar" (uma porta entreaberta), no cantinho dum continho meu a respeito da porta do meu social banheiro.
vou adorar usar já já o meu adorajar como titulo de um novo escrinhavar, à guisa de escrevinhar ou escritar, provavelmente a respeito de algo que eu adoro ou adoraria adorar já ou jadorar.
a propósito 1: trazanteontem é o atrás de anteontem, ou seja três dias atrás.
a propósito 2: nunca entendi a língua inglesa usar "ajar" pra significar "entreaberto", que pra nós tá certo pois entreaberto é uma posição que está entre o fechado e o aberto. certo?! mas, ajar não tem nada a ver no inglês! parece palavra árabe, tipo jarra (ver a propósito 3). invés de ajar, they could use "middopen" ou "littclosed" como aglutinações de middle open (meio aberto) ou little closed (pouco fechado). mas, ajar?! never!
"a littclosed door", pra ouvidos ingleses, deveria soar bem melhor que "a door ajar"
a propósito 3: ou então os anglo-saxões não tinham nada melhor que jarras dágua pra escorar as portas pra elas ficarem entreabertas, e ficou assim: "bota lá a jarra tráis da porta, ou escorando a porta, pra ela ficar meio que meio aberta e a gente daqui poder ispiá o que vai do lado de lá", ou seja, uma porta ajarrada, bem arranjada, uma jarra na porta, uma porta com jarra, a door with a jarra, a door à jarra, a door ajar.
a propósito 4: a propósito de palavras inglesas estranhamente mal aplicadas e aparentemente inapropriadas às suas significações e funções, vale lembrar o caso da famosa "handerkerchief", uma palavra extremamente elegante, fina, sofisticada e exótica, e que é utilizada para designar o objeto usado em uma ação, uma providência fisiológica, tão baixa, impura, deselegante e repulsiva como assoar o nariz: um simples lenço! mas isso já é proposição para outras propostas ou propósitos de discurssão (taí outra, agora em português mesmo: será que "discurssão" é um polêmico discurso que acabou virando uma grande discussão ou é simplesmente um discurso grande?!)

domingo, 31 de julho de 2016

a door ajar

a door ajar (nada a ver com "adorajar")

a porta entreaberta do meu banheiro social quase às duas da manhã já aberta como uma porta socialmente semiaberta para banhos entre dois entreabertos com toda a manha até amanhã pra lá das duas da manhã à porta da banheira matinal guardada por dois guerreiros festeiros: uma baiana de pau de terreiro e um anjo de gesso casamenteiro postos sobre as pedras ardosianas quadradonas de um piso mineiro à porta entreaberta do meu banheiro





quinta-feira, 28 de julho de 2016

Perseidas


Delta Aquáridas Austrais
(das perseguidas Perseidas)

Ah... se eu tivesse visto um meteoro,
que fosse um bem pequetito,
um simples meteorito,
seria uma graça.
Mas, como nada vi,
acho que foi o que vai por ai,
algo que vai e simplesmente passa.

Entretanto, muito cuidado!
Posso estar astronomicamente errado!
Pode ser culpa do tempo nublado,
do meu querer precipitado,
ou do meu pensar desvairado,
como um bólido celeste desgovernado!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

norte sul leste oeste

Norte Sul Leste Oeste
(rosa dos ventos, vento na roseira,
vento das rosas, rosa ventaneira)

Tanto na face esquerda do rosto olhando para o sul quanto no lado direito da mesma cara mirando o norte, era possível sentir claramente as graduações do calor da clara lua cheia nascente, a trinta e dois graus do horizonte leste ascendente, à medida que a noite se tornava inteira, como termômetro das estranhas e suspeitas intensidades das exacerbadas sensibilidades internas e externas, dentro e fora do corpo frio que já ia caminhando lenta e letargicamente para o horizonte oeste decadente.

by Brumbe © 2016, 18-july
seguindo novos pontos cardeais


domingo, 17 de julho de 2016

fogueira


fogueira
é quando o fogo consome
a madeira
a noite fria inteira
pra matar o frio, a saudade ou a fome
no chão ou no fogão
no forno ou na lareira

quinta-feira, 14 de julho de 2016

brincando


Pra mim, isso aquim,
seja aqui, seja assim,
é uma grande brincadeira,
pulando, trocando, cambalhotando.
Quer brincar comigo?
Então, venha!
Não quer?
Nem venha,
por mais que tenha!
Qu'eu vou seguir brincando....

terça-feira, 12 de julho de 2016

acima

Acima
de tudo,
gosto de poesia.
Pois, lá de cima,
vejo poesia
em quase tudo.

by Brumbe © 2016 - 12 july / 10:47am

segunda-feira, 4 de julho de 2016

at your rye


At your rye

Sitted by the side
of my fireplace,
that place of fire,
without fire,
felling in the blood not but
streams of stings of ice
Do you know what I
really would like?
Just be with you
side by side
to, looking thru your eyes,
have all night long to ride
on yours fields of rye
without good byes

No seu centeio

Sentado ao lado
da minha lareira,
aquele lugar de fogo,
sem fogo,
sentido no sangue nada mais
que correntes de ferpas de gelo
Você sabe o que eu
realmente gostaria?
Apenas estar com você
lado a lado
para, olhando por seus olhos,
ter a noite inteira para cavalgar
nos seus campos de centeio
sem despedidas

by Brumbe © 2016
july fifth at 2:11 am

picture of something like fields of grass, maybe rye

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Prumberto


Prumberto e a Alvenaria Poliédrica  
(breve crônica de um apelido)

Este Prumberto é só prum certo registro histórico incerto de uma antiga e infantil memória minha na nuvem - antes que a cabeça fique nublada de vez - do que, e como, aconteceu entre a terra e as nuvens, ou, mais precisamente, entre as pedras da alvenaria poliédrica(*) e as nuvens, da minha rua de nascença, nuns joguinhos de futebol de baixa reminiscência, as famosas "peladas", de crianças pouco ou nada calçadas.
É que, como em qualquer lugar do mundo, e entre quaisquer crianças de qualquer mundo, um menino jamais chama outro menino pelo nome verdadeiro, e sim por apelidos, os quais, invariavelmente, eles próprios inventam e se dão; apelidos estes que, também invariavelmente, não têm absolutamente nada a ver com os nomes reais dos alcunhados meninos - assim como a tal da Alvenaria Poliédrica que jamais é conhecida e chamada por este seu nome verdadeiro, e sim por seu apelido vulgar e popular, desses que se encontra em qualquer lugar - ver nota(*) de rodapé "de moleque".     
No meu caso, salvo engano ou já por parcial perda de memória (o que, inclusive, é a motivação maior deste registro), quem começou a invencionice nominal, ou apelidal, foi o Rodinho irmão do Sidinho, que, é claro, não levam esses nomes, pois, por serem mais velhos do que eu, já haviam sido devidamente apelidados antes de mim - eles são, respectiva e respeitosamente, os irmãos Rodney e Sidney, antigos e originais vizinhos da casa quase em frente, naquela tal rua de alvenaria poliédrica.
Como eu dizia, quem começou a coisa foi o meu grande amiguinho de infância, o Rodinho, e sucedeu-se, resumidamente, assim: começou com o simples, tradicional e convencional Roberto e foi evoluindo, ou regredindo, de berto em erto mais ou menos conforme a seguinte seqüência, tal e qual blocos de pedras de alvenaria poliédrica irregularmente montados:
Roberto, Ruberto, Rubeto, Poberto, Pobreto, Puberto, Pubeto, Proberto, Probeto, Pruberto, Prubeto, Prumberto, (não faço a menor idéia de como surgiu esse "m"), Prumbeto, Prumbe, (nem sei por que o B entrou no lugar do P), Brumberto, Brumbeto ... Brumbe.

(*) Alvenaria Poliédrica é o nome técnico-científico-rodoviário de um tipo de calçamento de rua, na pista de rolagem (ou rodagem), mais conhecido pelo apelido de "pé de moleque", formado por aquelas pedras basálticas irregulares e multiformes, de aproximadamente 6000 cm3, que costumam estar escondidas sob as camadas de asfalto, e que costumam arrebentar os pés da molecada nas "peladas".  

Foto: Alvenaria Poliédrica

terça-feira, 21 de junho de 2016

aroeira


da minha nova e inédita série
Momentos Instantâneos da Vida Cotidiana ou
Momentos Cotidianos da Vida Instantânea

Ainda bem que eu vi,
era um feliz bem-te-vi
livre, sem eira nem beira
no galho mais alto da aroeira
cantando e aproveitando
o calor do último sol
que lá vai se pondo

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Amores Cardinais


Amores Cardinais

Vez em quando, mais pras tardes, nas vesperais,
costumo baixar os olhos nos meus pontos cardeais
(nos quatro principais e nos quatro intersticiais)
e o coração, mais acostumado a questões cardinais,
(e até às puramente carnais)
não se desacostuma de baixar, se enveredar e divagar nos meus amores principais:
Sudeste, longe demais
Sul, bem perto e nada mais
Nordeste, de sonhos que não imaginais
Leste, que se afogou em mares de nunca mais
Noroeste, meros casos federais
Sudoeste, aquele que será jamais
Oeste, que espero pra logo mais
(são sete?! só espero que não sejam os pecados capitais!)
Amores locais, municipais, estaduais, nacionais e intercontinentais,
nada de mais
nada demais

Só aqui no PS notei que só faltou o Norte
Quem sabe, vem nos próximos carnavais
pra desnortear-me de vez, sem mais?

by Brumbe © june16

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Shiva


Shiva

um dia ainda irei pra Caxemira
sem passagem de volta
sem choro e sem medo
só com as roupas do corpo
pra queimar aos pés de Shiva

e, totalmente sem norte,
viajarei uma pouco mais pro sul
pra poder me banhar todo nu
nas nascentes do rio hindu

e, de lá, seguir qualquer direção,
preferencialmente aquela
que me leve, livre e leve,
ao encontro com ela
no ponto do planeta
onde o sol sempre esteja,
simultaneamente,
permanentemente,
perpendicularmente,
impossibilitadamente,
no nascente e no poente.

Xiva

one day I'll go to Kashmir
with no ticket to return
no tears and no fear
just clothes to burn
on the Shiva's feet

and, completely bewildered,
I'll travel south a little further
in order to bathe me all naked
at the sources of the hindu river

from there, any course following,
preferably, of course, that one
that guide me, light and free,
to be with her in meeting
at the place of the planet
where always is the sun king
simultaneously,
permanently,
perpendicularly,
impossibly,
rising and setting.

by Brumbe © 2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

de Lens a Gelsenkirchenbigburgendorf


Da série Infantes e Infames Neo Piadinhas Literalmente Pseudo Literárias
(talvez inspirada em, ou por, Dostoiévski, Nietzsche, Kafka, Carpeaux, Orwell, Huxley e Mazurkievski)

de Lens a Gelsenkirchenbigburgendorf
(versão revisada e reviajada)

Dois velhos amigos escritores, um francês, o outro alemão, em vias de assinarem novos altos contratos com os seus respectivos editores, viajavam juntos pela autovia Lens-Gelsenkirchenbigburgendorf. Um deles, o motorista alemão, se guiava por assumidas tendências Concretistas, enquanto o outro, o carona francês, apreciando a paisagem, se mostrava alegre e flagrantemente mais Abstracionista.
E lá iam eles via afora, na verdade, mas fora do que na via, conversando acalorada e exasperadamente sobre suas novas obras e suas preferências artísticas, inclusive literárias, quando, numa curva mais acentuada, por obra e arte da inaptidão, da divagação e da desorientação (escritores, via de regra, principalmente os sem regra de via, são péssimos motoristas) o motorista concretista perdeu o controle da direção e o carro foi violentamente arremessado contra o guard-rail, constituído de imensos e monolíticos blocos de concreto.
Graças aos cintos de segurança e aos air-bags, ambos saíram ilesos. Mas, ao saírem do carro, o carona, abstraindo-se de maiores broncas, advertiu o motorista:
– Lembre-se sempre, meu caro velho amigo e colega:
O concreto não é abstrato. Caso contrário, o contrato seria abjeto!

(by Brumbe © 2014 – all lefts reserved)

sábado, 28 de maio de 2016

Incensos Suspensos


Incensos Suspensos

Um céu fechado, lacrado, de lua minguante nublada, anuviada, já se westing lá pros lados de Uberlanding
Tal e qual meu espírito e meu coração que também lá vão, bem ou mal, na mesma fase e no mesmo ponto cardeal
Um frio furando e atravessando tecidos, peles, carnes, e já se aceano nas praias e nos fossos dos ossos
No home-teatre Alice in Chains tocando No Excuses, Down in a Hole and Nutshell (again? what a hell!)
No incensário, recipiente depositário de palitos de incenso, um novo aroma marraqueshiano sai levitando
No castiçal uma não tão casta e já meio velha vela vai descendo lacrimejando quente sobre a ardósia gelada
Cheiro, odor (ou seria odório), de vela de velório
Na taça o velho vinho negro amargo já quase avinagrado, que bebo de bom grado
(dependendo da graduação da origem, é claro!)
E eu já meio velho de tanto agravo e desagravo (mas, nem um pouco bravo,
pois sou filho e neto de gente muito mansa, quase santa e bem amena)
É a minha sagrada liturgia do dia a dia
E é noite de sétimo dia, sétimo da semana
Cruzcredo, que coisa mais insana!
Até parece que estou "celebrando" o sétimo dia de alguma coisa perdida, fugida, profana
Ou de coisa perfeitamente, normalmente, corriqueiramente mundana, humana?
Incensata noite incensada
às 19 já incendiada
e logo, antes das 24, apagada

segunda-feira, 23 de maio de 2016

4 anos em 4 dias no quadrante


4 anos em 4 dias no quadrante

De repente, olhando pra esse maravilhoso teto celestial dessa noite dominical, me dei conta de que é possível ver, nesse momento, no mesmo quadrante do céu, os três astros celestes mais próximos da Terra, e que são os alvos das nossas primeiras viagens espaciais: o satélite (Lua), o planeta (Marte) e a estrela (Alfa de Centauro).
E é muito interessante notar os tempos de viagem até cada um deles, conforme a tecnologia de propulsão e velocidade das nossas atuais naves espaciais, respectivamente em dias, meses e anos:
Lua: 4 dias (já visitada)
Marte: 9 meses = 270 dias (em planejamento)
Alfa Centauro: 80.000 anos = 29.200.000 dias (em sonho)
É obvio que a viagem até a Alfa, ou Próxima, de Centauro é absolutamente impossível, a menos que desenvolvamos uma nave espacial que voe à velocidade da luz (300.000 km/seg) e, então, venceremos os 4 anos-luz que nos separaram dela em apenas 4 aninhos, ou seja, 1460 dias!
Conclusão: Será que algum dia conseguiremos tornar 4 anos iguais ou equivalentes a 4 dias?!

sábado, 21 de maio de 2016

corpo a corpo


corpo a corpo

corpos celestes cadentes
corpos celestes findos
antes ardentes, calientes
agora frios, finitos

corpos celestes calientes
corpos celestes finitos
antes ardentes, cadentes
agora frios, findos

terça-feira, 17 de maio de 2016

Cecília

Cecília

Chegou Cecília
pra crescer a família
pra aumentar o amor
pra renovar a vida
pura alegria, é só folia
Nasceu Cecília
a segunda filha
de Be e Mainha
a irmãzinha da Clara
a maninha do Francisco
também um titico
Já antevejo novas maravilhas,
pois chegou a menina Cecília
Muitos dirão, algum dia:
Assim nasceu, quem diria!
Para nossa benção e graça
veio nossa nova criança,
nossa nova epifania,
Cecília



Estradas Longínquas


Estradas Longínquas

Hei de pegar estradas por ela
estradas retilíneas e curvilíneas
pela mulher longínqua, distante
longilínea amante viajante

Hei de segui-la, por estradas
desertas, longínquas, infinitas,
à distante, longe, mulher amada
ainda que ela, em vão, resista

E hei de amar até a distância,
a solidão e a impermanência
sabendo que no fim da estrada
só há ela, e mais nada, nada

sábado, 14 de maio de 2016

uns tetos pros meus netos


uns tetos pros netos

Ufa! Depois de 97 dias lentamente corridos e 64 m2 amplamente aplainados, acabei de concluir a instalação do teto de madeira no quarto dos meus netos aqui no chalé do nosso sitio.
O que será que eles vão ver, imaginar, inventar e sonhar quando olharem pra cima antes de dormir?
Um avião riscando o céu de fumaça branca?
Um velho vovô chinês com bigode?
Duas minhocas minhocando em retas tortas paralelas?
Um barquinho de papel navegando, mas já quase naufragando?
As estrelinhas das três marias?
Uma constelação de estrelas?
Outras distantes galáxias?
Uns bichinhos só com os olhinhos de fora?
Uma colher de pau pra fazer mingau dependurada num prego?
Um risco cortando o céu do mundo ao meio?
Uma cegonha que de tanto voar depressa espichou o pescoço e abriu o bico?
Um peixe voador?
Uma borboleta submarina?
Um pernilongo espacial?
Um urubu parado encima do telhado?
Ajude-os a brincar, dormir, sonhar e viajar pelos tetos, telhados e céus do mundo.
Use a sua imaginação e dê a sua contribuição.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

homens e mulheres


uma lembrança de alguns anos

da série
poesia da minha ignomínia no dia a dia

Andei explorando
profundamente
o coração e a mente
dos homens
nos seus ócios e negócios,
nos seus prazeres e afazeres
De Homem
não encontrei nada
digno, bom e decente
aqui, lá ou alhures
Ando acreditando
tão somente
nas mulheres

a reminder of a few years

from the series
Poetry in My Day by Day of Shameness

I've been exploring
deeply
the heart and the mind
of the men
in their idleness and business
in their pleasures and chores
Of Man
I found nothing
worthy, good and decent
here, there or elsewhere
I've been believing
solely
in women

terça-feira, 10 de maio de 2016

Flores Elétricas


da série Versinhos Sacados
ao Longo dos Caminhos Andados

Flores Elétricas

É o natural quebrando o artificial
Menos linhas retilíneas, mais tramas curvilineas
É a naturalidade suavizando a artificialidade
Menos cinzas e odores, mais aromas e cores
É a natureza cobrindo artifícios com mais beleza
É a beleza revestindo a dureza
Menos fios e cabos, mais folhas e galhos
Menos volts, amperes e correntes
Mais voltas e voltas florescentes
Menos kilowatt, um pouco mais de arte
Menos potência, melhor sapiência
Menos eletricidade negativa,
mais tranquilidade positiva
Menos a dura e crua energia,
mais a leve alegria,
mais a pura poesia

terça-feira, 3 de maio de 2016

friinho


Ah, um friinho!
E já que já há esse friozinho
entrando por todas as janelas
e frestas e gretas de portas e telhas
na lareira já jogo madeiras
acendo um foguinho
abro um bom vinho
e que venham todas "elas"
sejam novas, meias ou velhas
desde que sejam boas companheiras
e saibam incendiar no peito, no ventre,
nas costas, na espinha, na nuca, no cérebro,
no corpo inteiro, na cabeça inteira
aquele arrepiante, extasiante e aconchegante
calorzinho