Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
domingo, 28 de agosto de 2016
Pai
Pai
Já escrevi sobre irmãos, irmãs e amigos, já poetizei para filhas, netos e tios, já poematizei para mãe, a mamãe, e para namoradas, já textualizei até para cunhados e agregados, pode?!
Mas, escrever sobre pai, para o papai, nosso pai, confesso, foi a escrita mais difícil com que já me deparei até hoje. Falar sobre pai, principalmente o nosso pai, é algo tão grandioso, tão honroso, tão prazeroso e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, tão misterioso, tão assustador, tão superior que - desculpem o clichê, mas não é lugar nada comum - faltam realmente palavras para cumprir tal empreitada.
Todos nós, eu e vocês, vivemos aqui no comum nível terreno, nas superfícies da terra, e somos todos plenamente acessíveis, palpáveis, alcançáveis, tratáveis, inclusive as mamães, com aquelas suas doces e plenas disposições amorosas que só as mães têm.
Mas, pai é totalmente diferente.
Pais vivem e reinam em patamares superiores, em níveis divinos, míticos, quase inalcançáveis. São de fato, simplesmente, os nossos entes queridos, os nossos familiares, mais veneráveis e respeitáveis.
O quê falar sobre pai, sobre o nosso pai?!
Eu poderia ficar aqui falando, apenas íntima e domesticamente, sobre o filho e o irmão que ele foi, o caçulinha da grande família Corrêa, o quanto ele era querido, admirado e respeitado por seus pais, irmãos e irmãs. Como ele era bem falado, e bem ouvido, por todos os seus tios, primos, cunhados e concunhados.
Eu poderia passear pelas histórias do "amancinho" viajante, em como ele era benquisto e bem recebido nas viagens que fazia por esse interior de Minas Gerais afora para visitar a parentada - Divinopolis, Luz, Lagoa da Prata, Araújos, Perdigão, Santo Antonio do Monte e outros tantos santos e santas -, onde a sua popularidade e a sua amizade eram imensas e sempre bem saudadas.
Eu poderia escrever páginas e páginas, sem contabilidade, sobre o profissional, o comerciante e negociante que ele era, no São Rafael, no João Bosco & Cia, no São Luis e em outras tantas casas comerciais. O homem sempre correto, justo, sério, ético e moral nas suas atividades comerciais; sempre respeitado e admirado por seus pares, inclusive por seus concorrentes, e por seus fregueses - não só devido aos precinhos mais baratos e justos que praticava, como também pelo tratamento sempre amigável, humano, e muitas vezes humanitário, que dispensava aos seus clientes, principalmente os mais pobres e carentes.
Eu poderia lavrar escrituras sagradas, canônicas, talvez uma bíblia inteira, sobre o homem altamente religioso, piedoso e caridoso que ele era. Sua expressiva e constante atuação na Sociedade São Vicente de Paulo e aqui mesmo nessa casa, nessa igreja. De como o seu espírito de liderança, colaboração e pro atividade no meio religioso e assistencial era tão contagiante, respeitado e acatado junto aos seus confrades nas diversas "conferencias" de que participou e até criou e presidiu.
Eu poderia contar inúmeras, belas, hilárias e tocantes histórias que vivemos com ele ali na Rua Silva Jardim; os seus "causos" com os vizinhos não só de rua, mas de todo o bairro Floresta, bem como de Santa Tereza, Sagrada Família, Horto e adjacências; do quanto ele era apreciado, admirado e respeitado por toda a vizinhança, e até mesmo por meros transeuntes que pouco ou nada o conheciam. Pois é, eu poderia falar de tudo isso: do homem de família, do filho, do homem comerciante, do viajante, do religioso, do confrade, do caridoso, do homem da comunidade, da sociedade, da fraternidade, etc.
Mas, não vou falar de nada disso, pois estou aqui para falar - e esta foi a encomenda que me deram - do Pai, do nosso Pai, o Pai Amâncio Corrêa Filho.
O homem que nos deu a vida e esta família incrível, linda, maravilhosa e grandiosa, não só quantitativa como, também, qualitativamente falando.
Todos nós, - e só para citar os filhos: Rafael, Tarcísio, Neuma, Luiza, Helena, Zélia, José, Roberto, Celina, Paulo, Sérgio, Regina, Luiz e Viviane, - estamos ou estivemos aqui por causa dele.
Somente ele tornou isso maravilhosamente possível. E isto é o seu legado maior, a sua preciosa e inestimável herança para todos nós: esta família que ele criou e nos dedicou e presenteou.
E hoje, toda vez que vejo as minhas filhas incríveis e os meus netos lindos, sempre penso nos meus queridos avós e nos meus maravilhosos pais. E lembro-me desse fantástico e amoroso ciclo natural da vida (de vida!) aparentemente tão normal, regular e corriqueiro, que é o renascer e o reviver permanente da família, o qual às vezes esquecemos o quanto devemos saudar, honrar, reverenciar e agradecer todos os dias das nossas vidas.
Por isso, eu confesso, de coração, que deveria ter admirado, respeitado, honrado, aplaudido e amado o meu pai muito mais do que o pouco, pouquíssimo, que o fiz.
Quisera poder tê-lo por mais cem, duzentos, mil anos, para dar conta de tudo o que por ele eu deveria ter feito.
Assim, o que eu posso falar para o grande pai que ele foi, é apenas um infinito, eterno e absoluto Muito Obrigado.
Obrigado, meu Pai.
Texto-homenagem ao meu pai por ocasião do centenário de seu nascimento (02/09/1916)
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