quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

lentamente...


Lentamente,
cuidadosamente,
respeitosamente, (*)
as mãozinhas vão se movendo, se erguendo, se aproximando e, enfim, tocam, a minha barba, o meu óculos, o meu nariz, a minha orelha, o meu cabelo, a minha pele; como se estivessem, e de fato estavam, tocando pela primeira vez a minha barba, os meus óculos, o meu nariz, a minha orelha, o meu cabelo, a minha pele.
(e aqueles olhinhos lindos, puros, instigantes, perscrutadores, perturbadores; divina, luminosa e cristalinamente azuis?! melhor deixar pra outro capítulo! concentremo-nos, por hora, apenas nas mãozinhas; suficientes pra tirar o fôlego e insuflar a alma!)
Ah... as mãozinhas!
É absolutamente fantástico, mágico, inacreditável, extasiante, inexplicável, ver e sentir um bebê de sete meses erguer as suas mãozinhas pelas primeiras vezes pra tatear o mundo, pra conhecer as coisas e as pessoas, pra tocar e contatar a vida ao seu redor!
E o mais admirável, prazeroso, respeitável e gostoso de tudo é poder ver e sentir como eles, esses pequenos seres incríveis e fabulosos (no estrito sentido de seres de fábulas), fazem isso constante, dedicada e meticulosamente:
Eles vão avançando em direção a seus objetivos lentamente, vagarosamente, cuidadosamente, respeitosamente, e até veneravelmente (e nunca de forma brusca, medrosa ou temerosa)
São gestos lentos, mas, certeiros; vagarosos, mas, objetivos; desajeitados, mas, precisos; sempre cuidadosos e amorosos.
Muitos poderão dizer que tudo isso, a lentidão, o cuidado, a vagareza, deve-se simplesmente à sua ainda precária habilidade tátil e manual, sua ainda pouca capacidade corporal e motora. Balela! Conversa! Ledo engano!
Preste bastante atenção neles! Eles sabem perfeitamente o quê, para quê e como, estão fazendo isso. Suas ações são perfeitamente coordenadas, pré-estabelecidas, processadas, concluídas e auto-avaliadas.
Bobos somos nós que não os entendemos!
Quisera que todos nós, crianças, jovens, adultos, velhos, fôssemos assim... quem dera... como os bebês: sempre lentos, cuidadosos, respeitosos, vagarosos, curiosos... e amorosos.

(*) homenagem à minha neta Cecília, que fez sete meses num dia desses, e
ainda ergue, assim, as suas mãozinhas pra mim.

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