Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
do fio à fibra
do fio à fibra
Ivan Gagarin, o pai, viu uma lâmpada elétrica pela primeira vez em 1931, lá nos cafundós das estepes da Rússia.
Iuri Gagarin, o filho, foi o primeiro ser humano a subir ao espaço, num vôo orbital, em 1961, lá no deserto do Cazaquistão.
Li esta pequena historinha há algumas décadas e isto me deixou profundamente impressionado.
Imaginem só: um humilde carpinteiro russo conheceu a luz elétrica em 1931, e o seu próprio filho pilotou uma nave espacial, a primeira engenhoca cósmica tripulada (Vostok 1 (*)), apenas 30 anos depois!
(*) Estas primeiras cápsulas espaciais – tantos as americanas (Mercury) quanto as soviéticas (Vostok) –, para apenas um tripulante, eram tão pequenas e apertadas que os engenheiros diziam que os astronautas, ou cosmonautas, não entravam nelas, eles as “vestiam”.
Voltando ao vestido em pauta: Esta disparidade, este contraste, temporal entre a luz elétrica e a nave espacial, sempre representou para mim um fato altamente emblemático, marcante, simbólico, da incrível, fantástica e vertiginosa evolução científica e tecnológica que a humanidade experimentou nos últimos cem anos (1910-2010).
E posso dizer que comigo aconteceu algo bem parecido, tecnologicamente falando, ao que aconteceu com a família Gagarin – mas, claro, guardada as devidas e infinitas proporções entre a importância dos fatos e dos personagens envolvidos –, com a diferença que não foram fatos ocorridos com meu pai e comigo ou comigo e uma filha minha. Não, foram fatos ocorridos comigo mesmo num período ainda menor, em cerca de dez anos – mas todos no nível do solo, da terra, ou no máximo a três metros de profundidade ou oito metros de altura, nada a nível estratosférico, espacial ou cósmico.
Por volta de 1975, eu percorri a pé uma estradinha de terra no norte de BH para mapear e projetar um único circuito de fios de cobre, através de postes e cruzetas de madeira, saindo de um cabo telefônico na esquina de Pedro I com Pe. Pedro Pinto, para instalar um único telefone fixo num sitiozinho lá pros lados do antigo hipódromo Serra Verde, próximo de onde é hoje a Cidade Administrativa do Estado – e era muito comum eu fazer este tipo de serviço naquela época.
Em abril de 1985, eu participei do planejamento e projeto para instalação do primeiro cabo de fibras ópticas do Brasil – um projeto nacional, com instalações simultâneas nos maiores Estados –, um simples cabinho subterrâneo com 6 fibras ópticas, em que cada fibra (com pouco mais que a espessura de um fio de cabelo) era capaz de transmitir, num feixe de laser multímodo, a exorbitância inacreditável de 480 comunicações telefônicas simultaneamente!
E este cabo foi instalado interligando o centro de BH e a região da Pampulha, até uma estação telefônica próxima daquela estradinha onde dez anos antes eu projetava circuitos de fios de cobres de 2,5 mm pra instalar um único telefone!
Pois é, o Gagarin Pai não inventou a lâmpada elétrica e só viu tal luz, pela primeira vez na vida, já adulto. Eu também não inventei nada de fios telecomunicadores e só os conheci já menino na vida.
E o Gagarin Filho também jamais inventou ou construiu um bólido espacial, mas foi o primeiro homem a se encapsular e voar num deles. Eu também jamais tive coisa alguma a ver com a criação da fibra óptica para fins de telecomunicações, mas ajudei a instalar as primeiras do Brasil.
E hoje, em 2016, quando passo de carro a 110 km/h, semanalmente, por onde era aquela mesma estradinha de terra – hoje é uma grande via expressa de pistas de concreto e asfalto –, me pego freqüentemente pensando:
Em 40 anos: de um fio de cobre, passando por uma fibra óptica, e, agora, este celular no bolso, que, aliás, faz muito mais do que só falar: traz o mundo inteiro, em texto e imagens, nesta telinha!
E fico pensando como é que vai ser daqui a 10, 20 ou 30 anos, quando eu passar, talvez voando, levitando ou me teletransportando, por aquela mesma estradinha.
Foto: Diagrama de parte da rede de cabos opticos da área central de BH em 1995, projetada e desenhada por Roberto (Brumbe) Correa e equipe, para Telemig/Telebras
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