segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

De Arembepe a Jaua'

De Arembepe a Jauá


Comecei a pensar em escrever sobre Arembepe a Jauá desde os primeiros dias do ano de 2010 d.C., mas isso foi atropelado, e teve que ser postergado, no mínimo duas vezes: pelos Irmãos do Apagão e pelo Encontrão de Conceição, dois eventos posteriores que exigiram registros mais urgentes e imediatos.
Esse foi assim: no primeiro domingo resolvi, como imediata e urgente resolução de ano-novo – não daquelas que, pretensiosamente, a gente faz “pra vida toda”, mas somente pra hoje –, antecipar o que houvera programado para segunda-feira: fazer a tão por décadas desejada e postergada caminhada, na praia, rumo norte, cerca de 5,5 km, de Interlagos a Arembepe.
Não entendia bem porque, mas, agora, pensando durante a própria caminhada, sei porque nunca antes fizera tal percurso, ao longo de tantos anos freqüentando essas praias: Acontece que antes, nas minhas antigas e mais longas férias, em que eu tinha tempo suficiente, as minhas filhas eram muito novinhas, crianças ainda, e não me davam folga nem oportunidade para isso. Quando já eram mais grandinhas, nas férias mais recentes, elas me “liberaram”, mas eu já não tinha tanto tempo disponível, pois ficava por aqui apenas alguns dias, só e normalmente na semana entre o Natal e o Ano Novo.
Atualmente, enfim, tenho tempo e liberdade suficientes e disponíveis para isso; na verdade, hoje, elas, literalmente, “não estão nem aqui” – sem contar que, antes, eu era casado com a mãe delas e, hoje, estamos divorciados – muito bem, em paz, amizade e harmonia, diga-se de passagem –, o que significa que tenho ainda mais tempo e espaço disponíveis.
Bem, após essa talvez inútil e desnecessária digressão explicativa, voltemos a por os pés na areia quente da praia:
Depois, na terça-feira, último dia dessa temporada de veraneio na Bahia, por absoluta falta do que fazer, eu decidi completar a caminha rumo ao sul, cerca de 2,5 km, até o próximo povoado: Jauá.
É incrível como uma caminhada a beira-mar faz bem pro corpo, pra mente e pro espírito! Faz bem pra tudo! Principalmente pra mineiro, e mais ainda pra mineiro que já morou no litoral e teve que voltar pras montanhas. Toda essa imensidão de água, esse interminável areal, todo esse sol fabuloso, esse onírico e inebriante céu profundamente azul! Essa fantástica sensação de liberdade e de expansão física, corporal e espiritual!
Sei que muita gente já falou e escreveu sobre isso, mas eu tenho cá comigo a minha teoria sobre isso (me desculpem os pleonasmos, mas são propositais mesmo! É mera tentativa de reforçar as idéias): A fascinação do ser humano pelo mar, pelas imensas águas, deve-se simplesmente ao fato de ele ter sido criado, ter sido gerado, lá, nas águas dos oceanos! Alias, essa foi a origem comum de todos os seres animais da Terra. O homem, antes de ser homem, já foi ameba, água-viva, girino, sapo e macaco (e, provavelmente, foi quando era sapo que êle resolveu pular pra fora dágua, e deu no que deu, senão poderíamos ter nos tornado belos tubarões ou baleias).
E fiquei pensando como um mar e uma praia podem ser tão admiravelmente maravilhosos e inacreditável e contraditoriamente complexos e simples, ao mesmo tempo! Por isso alguém já disse também, e eu concordo plenamente, que “the simple is the really beautiful” (o simples é o realmente belo) ou vice-versa. Eu poderia ter caído morto ali, naquela hora, nas areias ou nas águas de Arempebe, Interlagos ou Jauá, e estaria tudo perfeitamente bem; minha vida estaria plenamente satisfatória e completa na própria morte!
Por falar em Arembepe – onde até hoje existe uma aldeia de, resistentes, abnegados, anacrônicos e, é claro, malucos hippies –, há décadas corre uma (in)certa história pelos meus círculos familiares a qual reza e jura-de-pé-junto que eu já morei lá! Eu juro que, de tanto ouvir essa história, também ando meio em dúvida. Será?! Que eu já estive lá um dia, nos anos 70, em mera e circunstancial visita de reconhecimento, isso eu lembro sim. Fui, inclusive, acompanhando (ou sendo levado por) meu amigo-cunhado-irmão Marcelo Fonseca, numa de nossas memoráveis, intermináveis e indetermináveis viagens pelo litoral baiano (assim eu acho). Mas isso são outras histórias... Mas, olha aqui, daí a ter morado lá, em Arembepe, com os hippies, e ter enhippado de vez, isso eu não tenho muita certeza, não! Vai ver naquele dia talvez eu tenha ingerido, inalado ou tragado alguma substancia tóxico-alucinógena realmente estragada, e tenha resolvido ficar por lá, em tratamento, por uns dias, umas semanas, uns meses, uns... quem sabe?! Pode ser...
Depois dessas novas e também desnecessárias divagações temporais – não sei como posso derivar tanto, numa praia tão reta! – voltemos novamente pra areia firme de Interlagos:
Nessas longas caminhadas praianas me ocorreu um pensamento, um insight, muito interessante e deveras fundamental pro resto de toda a minha vida doravante (mais outra redundância de reforço!): que a minha liberdade, irresponsabilidade e despreocupação “passageiras” dos primeiros anos de férias nesse lugar, agora, de repente, percebo saborosamente, se tornaram “permanentes”; que podem ser perfeitamente totais, plenas e permanentes!
Corrobora e comprova isso o fato de que eu estou acabano de ler “A Cabana” de William P. Young, e, então, confirmei nele essa coisa que já pressentia e suspeitava há tempos: que grande parte das “responsabilidades” que julgava minhas, como, por exemplo, preocupar-me com como serão os meus dias finais nesse planeta, não são minhas, de forma alguma. São, sim, de inteira, integral e absoluta responsabilidade de Deus!
Então, adeus, à Deus! A Deus o que é de Deus! Toma o que é Teu, Deus!
E, afinal, agora me lembro bem, o nosso contrato de vida, válido para essa minha atual existência encarnada na Terra, reza clara e indubitavelmente que coisas como essas são de absoluta e exclusiva responsabilidade dÊle – e, inclusive, num desses dias, numa dessas caminhadas, eu até entrei numa das casas dEle, na bela e aconchegante capelinha do condomínio e, em breve meditação e oração, nós, eu e Êle, reiteramos e renovamos esse nosso contrato.
Mas, é claro que eu, aqui nesse maravilhoso lugar, também tenho as minhas grandes responsabilidades – que, creio, venho cumprindo régia e religiosamente bem –, tais como: pra que rumo eu vou caminhar na praia de manhã; o que é que eu vou beber à tarde, no almoço; que tipo de música vou ouvir à noite; e coisas desse porte e magnitude.

P.S. – 1: Pra quem quiser saber onde fica Arembepe, Interlagos e Jauá (todas no município de Camaçari): Pegue um bom mapa da Bahia e veja lá, no litoral norte, aproximadamente 20 Km acima de Salvador (via Estrada do Coco).

P.S. – 2: Pra quem quiser fazer essa caminhada, tenho três dicas / advertências:
1 – Cuidado quando estiver a aproximadamente 1 km de Arembepe, pois lá a areia é muito grossa e há muitas pedras (arrecifes) – leve sandálias ou algo equivalente.
2 – Se quiser beber uma água de coco – o que é bastante recomendável, pelo menos na chegada em Arembepe –, leve dinheiro trocado, pois R$10,00 (dez reais) já é uma fortuna pros barraqueiros de lá (nenhum deles tem troco pra 10!)
3 – Se cansar muito e quiser voltar de ônibus, de Arembepe pra Interlagos, é fácil: na praça principal de Arembepe pegue o ônibus que vai pra Camaçari (tem a cada 30 ou 40 minutos) e peça ao motorista pra descer na portaria de Interlagos (você vai andar mais uns 1,5 Km da portaria até o meio do condomínio, mas, tudo bem, se livrou de 4 km! Ou então ligue pra alguém te buscar, ou vá de carona!)

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