Alnitak III
O espécie-de-guia apontou, então, para uma grande tela que fez surgir à nossa frente, na qual apareceram três desenhos, ou fotos espaciais, lado a lado: a formação das três pirâmides de Gizé, a formação das três pirâmides de Teotihuacan e a formação das três estrelas do que chamamos de Cinturão de Órion (as nossas tão conhecidas Alnitak, Alnilam e Mintaka).
Ai foi a vez dele perguntar, depois de me pedir para observar e analisar atentamente as disposições nas três figuras – absolutamente semelhantes entre si com relação aos tamanhos, proporções, posições, alinhamentos e inclinações relativas dos seus três objetos –, se eu achava que aquilo era mero acaso ou coincidência.
Depois desse astronômico, derradeiro e definitivo choque existencial, comecei a me sentir um pouco sufocado, meio sem ar, coração acelerado, peito apertado, pés sem chão, cabeça rodando a mil, suando frio, e sai correndo para fora, buscando ar livre, procurando o sol.
Lá fora, resgatando o equilíbrio, recuperando as faculdades básicas, respirando melhor e sentindo o agradável calor do sol – o sol deles! – na pele, eu já começava a aceitar que tudo aquilo não poderia jamais ser mero acaso ou coincidência; e que só podia ser mesmo coisa feita, arranjada, programada, planejada, projetada e construída, por eles.
Sentindo, apreciando e bendizendo o efeito calmante e revigorante da luz e do calor daquele sol, comecei, então, a pensar, a ponderar – numa luta desesperada para tentar restabelecer meus abalados sentidos físicos de orientação espacial – que o quê eu via ali, naquele exato momento, naquele céu, era muito mais que um simples sol (se é que se pode dizer que um sol é uma coisa simples), era também uma tal estrela que os antigos astrônomos da minha terra chamaram de Alnitak; a qual, à noite, alinhada com outras duas irmãs suas, participa do famoso conjunto das Três Marias!
Era muito estranho, e até um pouco engraçado, ficar imaginando as pessoas da Terra olhando para o céu à noite, procurando as Três Marias, e eu lá, coladinho nelas, quase sendo devorado e incinerado por uma delas.
Daí, conseqüentemente, e pelo que se pode chamar de uma simples questão de lógica associativa recíproca, ou reversa, passei a imaginar como seria ver, na noite deles, o sol da minha Terra como uma simples estrela no céu. E, para poder ver isso, a curiosidade foi tão grande quanto à ansiedade para que a noite chegasse logo.
Quando a noite, enfim, chegou, o meu espécie-de-guia nos mostrou um quadrante relativamente vazio no céu, onde se realçavam nitidamente três estrelas bastante brilhantes e isoladas. Elas estavam posicionadas há cerca de dez graus entre si, em relação ao nosso ponto de visão, e formavam um triangulo isósceles perfeito, com a base praticamente alinhada com o equador celeste e o vértice oposto apontando exatamente para o norte geográfico do planeta. As duas estrelas da base, dos vértices leste e oeste, eram mais ou menos do mesmo tamanho aparente e da mesma magnitude, mas a estrela do vértice norte era ligeiramente maior e mais brilhante que as outras duas.
Um outro guia, talvez um astrônomo, que nos acompanhava, fez, então, três precisos comentários e explicações sobre esse triangulo estelar: O primeiro, relativamente mais extenso e técnico, dizendo que as relações entre as medidas dos ângulos internos e as proporções dos lados e das alturas desse triangulo eram exatamente (e êle fez questão de ressaltar esse exatamente) as mesmas das nossas pirâmides de Gizé, na Terra (mais uma “transferência” de arquitetura cósmica?!) O segundo, um pouco menos técnico ou numérico, falando que aquela formação de estrelas sempre foi, e é, um importante referencial celeste para eles, por ser visível praticamente durante todo ano e por sempre apontar para a mesma direção no céu – assim como o Cruzeiro do Sul ou a Estrela Polar, para nós na Terra. E o terceiro, curto e simples: A estrela do vértice norte é o seu sol.
Para eles, um simples, mas muito importante, ponto apontando o norte; para nós, uma informação totalmente desnorteante, desconcertante.
Alguém, não me lembro se um dos nossos ou um deles, comentou alguma coisa sobre a importância do triangulo, dizendo que essa peculiar forma, assim como o círculo e o quadrado, contém algumas das relações geométricas e matemáticas mais fundamentais do nosso universo. Não consegui prestar muita atenção a isso, não porque já soubesse plenamente disso, mas, sim, porque, depois da revelação dessa incrível bússola estelar triangular deles, eu não conseguia parar de pensar no porquê o triangulo tem tanta importância e destaque na maioria das culturas e filosofias esotéricas, místicas ou religiosas da Terra – seria isso mais um caso de “transferência”, dessa vez do tipo sócio-cultural?!
Saí dessas minhas elucubrações, chamado pela voz do tal do meu espécie-de-guia. Êle não falava quase nada... Aliás, ali ninguém falava praticamente nada, nem precisava, pois a eloqüência da comunicação visual era mais que suficiente. Mas, lá, de pé debaixo daquele incrível céu noturno, êle pronunciou aquilo que, para os seus padrões de oratória, talvez tenha sido o seu maior e mais belo discurso:
A minha estrela, no seu céu, é um mero acessório, é uma pequena parte do cinturão que amarra as vestes de um imaginário ser cósmico. Mas, a sua estrela, no meu céu, é o principal, permanente e eterno referencial, é aquela que sempre norteou e guiou os caminhos da minha civilização.
Robert Silvercore
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