sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Casas abandonadas

Casas abandonadas

Nas minhas longas e rotineiras caminhadas por aqui, pelas redondezas do lugar onde atualmente eu moro, nos vilarejos da Quinta do Sumidouro, de Fidalgo e da Lapinha, tenho prazerosamente posto em prática um certo costume, um vicio, um quase Transtorno-Obsessivo-Compulsivo, que adquiri, ou me foi imposto, nos meus recentemente passados anos de estudante de arquitetura e urbanismo: observar atentamente, e fotografar eventualmente, casas e construções de todo e qualquer tipo, até mesmo um simples e antigo muro de pedra abandonado e em ruínas – um desses que começa no nada, termina em lugar nenhum e não cerca coisa alguma.
Casas como a minha, casas de campo, casas no campo, casas de fim-de-semana, casas de lazer, casas de prazer, casas de receber, casas de doar, casas para, enfim, sossegar, acomodar, aquietar, apaziguar, viver...
Dito isso, digo que tenho me deparado freqüentemente, com certa estranheza e até com um pouco de surpresa, com algumas dessas novas, belas, sólidas e bem construídas casas, inclusive com belos e limpos telhados ainda não manchados pelas intempéries – que inegavelmente denunciariam a idade avançada das mesmas –, todas aparentemente abandonadas, paralisadas.
Os sinais que lamentável e irrefutavelmente acusam isso são muitos e diversos, visto que, mesmo sendo casas de fim-de-semana, tais indícios não poderiam estar ali por semanas ou meses a fio, como os tenho verificado:
Uma cerca de arame farpado, na frente ou dos lados.
Entulhos de construção, em montes ou espalhados.
O muro da frente ainda por fazer, por erguer.
Paredes externas rebocadas, mas não pintadas.
Um carrinho-de-mão sujo, definitivamente encostado lá nos fundos.
Um jardim ainda sem plantas nem gramado, só ervas e fungos.
Um gramado alto, reclamando um zeloso aparador.
Um tímido, ou já descarado, mato crescendo ao redor.
Vãos de janela sem janelas.
Janelas sem vidros, nem tramelas.
Quando os tem, estão quebrados, trincados ou caindo pelas tabelas.
Vãos de portas com portas, mas sem fechaduras.
Varandas há muito tempo sem ver varreduras.
Varandas vazias, sem mobílias.
Madeirame de porta e janela ainda nu, sem verniz algum.
Nenhum canteiro nem horta, no quintal.
Falta de luminárias em geral, nem ao menos uma lâmpada ao léu.
E fico pensando em quantos sonhos desfeitos, desejos frustrados, projetos de vida rompidos e ideais destruídos, foram ali abandonados:
Um casal que se divorciou, se separou... uma mudança pra longe... os filhos que foram embora... famílias desagregadas... um homem abandonado... uma mulher abandonada... alguém que morreu, sumiu, desapareceu...
Mas, vai ver, não foi por causa de nada disso...
Foi por pura falta de grana, mesmo!

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