Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Barulhos e Cheiros do Mar
Barulhos e Cheiros do Mar
Às vezes era um motorzinho de serra elétrica cortando pranchas de madeira, um martelo martelando prego ou uma talhadeira talhando pedra. Outras vezes era a cera de carnaúba sendo passada no piso, o desinfetante de eucalipto no banheiro ou o amaciante de roupa na máquina de lavar roupa. Outras ainda, era uma combinação de tudo ou parte disso tudo. Todos estes cheiros e barulhos juntos, separados ou superpostos, acumulados.
Enquanto isso, eu ia, caminhando praia afora, ou ficava, sentado na varanda de frente oceânica bebendo um uisquinho com gelo de água de coco, e pensava: Isto é muita sacanagem, é um puto contraste, um paradoxo sacanal, uma puta sacanagem! Estou aqui numa boa, vivenciando e curtindo tudo isso, e tem gente logo ali atrás, logo ao lado, trabalhando, suando e dando duro de verdade! Simplesmente não combina: o som das ondas do mar com o barulho do martelo, o cheiro de sal e peixe com o aroma de desinfetante doméstico.
Pra esquecer esse dilema, essa contradição, essa anormalidade existencial transcendental, eu dormia – na verdade, em sono induzido pelo whisky. E, dormia, é claro, continuando a ouvir todos estes barulhos e a cheirar todos estes odores. Daí que carrego comigo até hoje, nos meus cromossomos, este auto-condicionamento psicofísico sensorial: se chego numa praia e começo a ouvir marteladas ou a cheirar casas enceradas, é tiro e queda: me dá uma sonolência danada! – com ou sem whisky. Martelete de construção e desinfetante de manjericão tornaram-se os meus soníferos prediletos.
Mas isto acontecia, quando eu ainda trabalhava 11,5 meses por ano, durante o 0,5 mês de férias. Hoje em dia, em férias permanentes, 12 meses por ano, já resolvi de forma universal, unilateral, religiosa, política, consensual e plenamente este meu antigo problema de consciência humano-cívico-trabalhista, pois acho que se eu estou aqui numa boa é porque já fiz por merecer, e se eles estão lá, ainda, trabalhando, é simplesmente porque eles ainda precisam trabalhar. Afinal, alguém sempre tem que trabalhar, senão como é que a gente vai poder vagabundar?!
Ao trabalho, minha gente, principalmente hoje, em Caraíva, Bahia, segunda-feira, 02 de Março de 2015, o primeiro dia útil do Brasil! Mas, às 15hs, não se esqueçam de ligar a serra elétrica da construção ao lado e nem de lavar os pratos com detergente de eucalipto na cozinha dos fundos, porque eu preciso dormir!
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