quinta-feira, 26 de março de 2015

Chuva Derradeira


Chuva Derradeira

Chove forte no Condado da Quinta da Saideira!
Há quanto tempo não via tanta água descendo pelas biqueiras,
tanta água nas soleiras, nas mangueiras, nas parreiras e nas roseiras.

Que pena que já é a derradeira!
Com passagem na mão, já é passageira.
Demorou tanto a chegar e já vai, assim, esgueira?!

Mas, no fim do ano, prometes, há de voltar ligeira?
Sem pressa, abundante, sem ligeireza,
pra não secar de vez as torneiras?!

Então, há de cair em aguaceiras,
encharcando todas cumeeiras,
transbordando pelas beiras,
e desabando pelas ladeiras.

E há de reabrir todas as feiras
com os frutos das laranjeiras,
das macieiras, das goiabeiras,
das bananeiras e das cerejeiras.
Enfim, abastecendo todas as fruteiras.

(inesperada chuva saideira,
torço pra que das últimas não sejas,
mas temo que real e infelizmente seja.
“são as águas de março fechando o verão...”)

terça-feira, 24 de março de 2015

Alice against Oz


Alice against Oz

Run, Alice, run!
Ride again
against the Oz
Run fast, quickly
to unchain all the frogs
All of them, for us!
But, do it softly
without pain
just for fun
Rain, Alice, rain!
Rain against
to drown the frogs
and all their ghosts
But, take care!
Never face
the last ace
none all faces
neither all races
Run, Alice!
Run away for us!
Run away from us!

(Brumbe against the insomnia)

sexta-feira, 20 de março de 2015

Aposto por este sol


Aposto por este sol

Aposto que escreveram isso já,
mas, mesmo assim, vamos lá:
Bonito mesmo é o nascer do sol,
logo antes do sol nascer,
sem o primeiro raio de sol raiar.
Cores todas diferentes, todas tonalidades,
fortes, vivas, intensas, com própria personalidade.
Depois ficam todas constantes, iguais,
limpas, claras, impessoais,
todas brilhantes e pálidas na mesma igualdade.
Na verdade, tudo isso já foi visto,
admirado, lido, pensado e escrito,
milhões e milhões de vezes.
Eu só revejo, reescrevo e reedito.

(foto by Brumbe, da sua janela de Caraíva-BA, em 02/03/15)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Templo das Horas Perdidas


Templo das Horas Perdidas

Instrumentos do momento
na caixa de ferramentas do tempo
perdida nas frias catacumbas do templo
(manual de funcionamento)

Instruções iniciais:

Para fusos horários,
ajuste o ponteiro das horas,
de meia em meia hora,
nos respectivos furos, digo fusos.
(se ficar perdido e confuso,
utilize os próprios furos)

Parafusos anti-horários
que sincronizam horações,
rituais, rezas, bênçãos,
lamentações e orações
de Mecca, Chengzhou e Bukama,
Paris, Washington e Jerusalém,
Juazeiro, Macondo e Yokohama
Londres, Puerto Aisen e mais além,
gire os ponteiros no sentido contrário.

Mas, repare que os ponteiros já não apontam decimais.
Agora há apenas leds, luzinhas, pontos e pixels digitais.
Só zumbidos, bips, alarmes e musiquinhas. Tic-tac jamais.

(em milissegundos tive a impressão de que vão faltar parafusos nessa estória,
ou de que há parafusos a menos, perdidos, na cabeça de quem a trás na memória)

Manual de funcionamento, conforme propriamente rezado:

Pegue os pregos que os pregadores usam pra pregar pecadores
e os martelos que os pecadores utilizam pra pregar seus próprios pregos
e pregue todos eles uns aos outros – pregadores com pecadores.

Cuidado para que os martelos dos pecadores não pequem,
errando, falseando e falhando os pregos dos pregadores.
(ao final deste passo, deverá ficar religiosamente claro
o quê apregoam os pregadores
e o quê pecam os pecadores)

Com a chave de fenda abra uma luminosa fenda
que desvenda uma melhor e mais ampla cena,
que nos descortine um horizonte de luz plena,
que contra a escuridão e as trevas nos defenda

(as chaves phillips, philco, sony, samsung, toyota e yamaha, assim como as chaves inglesas, francesas, alemãs, turcas, afegãs, chinesas e japonesas, não devem ser utilizadas, pois somente são compatíveis com missais, breviários, catecismos, evangelhos e bíblias de templos estrangeiros)

Lembre-se: o tempo é a chave-mestra de tudo que rola
e de tudo que se enrola ou se desenrola dentro de um templo.

Nas furadeiras, utilize apenas as brocas de vídia.
Nelas bote fé, pois furam até o mais duro concreto.
E talvez você encontre e adote uma fé mais concreta,
que possa salvar as nossas pobres e brocadas vidas.

Serre as grades do claustro com um bom serrote,
e liberte as inocentes virgens condenadas à má sorte.
(antes que, na maldita hora, elas sejam apregoadas e apedrejadas)

Nunca utilize a talhadeira
para talhar pedras que possam ser atiradas numa virgem
e nem nas possíveis santas bruxas, inclusive as de Salem,
condenadas à fogueira.

Jamais utilize marretas e picaretas,
pois, além de não caberem num caixa de ferramenta,
são instrumentos muito pesados e perigosos.
E você nunca deve marretar ou picaretar num templo,
a não ser que queira demoli-lo – pois já não o agüenta –
num daqueles seus momentos mais perniciosos.

Aquele belo alicate de Alicante jogado ali no canto?
Esqueça-o, é ferramenta de alicantineiros!
Aqui, nesse templo, ele não trabalha,
e nem naquele outro, ali, ele canta.

Não perca tempo com as outras ferramentas da caixa de metal
Elas são inúteis em qualquer templo, inclusive no Taj Mahal
(eu ainda não tinha dito que a caixa era de metal?
pois é, desculpe, só lembrei aqui no final)

Passo final (no topo da torre, ou minarete, principal):

Já é tempo!
Abra a caixa de ferramentas e joguei tudo no chão.
Note que todos os instrumentos e ferramentas de aferição,
construção, ajustamento e medição
ficarão totalmente parados,
inoperantes, paralisados,
em perfeito estado de meditação,
contrição, oração e sublimação.
Concluída a missão!

Prece final (pra tudo dar certo):

Ah... senhoras guardiãs do templo,
severas donas das chaves do tempo,
orai, orai, sem demora, por todos os pecados.
Orai por vós, e orai por nós, os sem hora
Mas, orai nos horários certos, nas certas horas,
pois nas erradas já estamos nós, os errados.

No templo das senhoras das horas é tempo das horas,
de todas as horas, inclusive das perdidas, horas e senhoras,
de todos os tempos, de todos os séculos, de todas as eras.
Das horas sem tempo, das horas de infinitos tempos,
e de tempos de infindáveis, e perdidas, horas.

(by Brumbe, perdido em tempos perigosamente quase religiosos
e relogiosamente perigosos, não sei em que dia e nem em qual hora)

terça-feira, 17 de março de 2015

Massa de Manobra


Massa de Manobra

Como no meu último "post político" (ver segmento abaixo) a questão mais ressaltada foi a da "massa de manobra", vou tentar explorar e explicar isso um pouco mais:
Informação é Poder, e este poder sempre foi muito importante, e atualmente, devido à web, ele adquiriu importância ainda maior, superior à de poderes tradicionais como o Político, o Econômico e até mesmo o Militar, em muitos casos.
É desnecessário dizer, mas digo assim mesmo, que uma mídia, ou meio de comunicação, pode perfeitamente manipular uma informação conforme seu interesse, tanto quantitativa como qualitativamente falando (ou mostrando, expondo, escrevendo, omitindo, amplificando, reduzindo, etc)
Quando uma mídia deixa de ser neutra e transparente, como deveria ser sempre, e manipula uma informação, um assunto ou um caso, ela está propositadamente influenciando e induzindo o seu público a pensar no assunto, no caso, SOMENTE do jeito que ela, a mídia, quer.
E é aí que mora o perigo! E é obvio, mas volto a dizer assim mesmo, que quando uma midia faz isso, ela está atendendo os interesses de alguém que deseja que aquele caso seja entendido SOMENTE daquele jeito.
Concluo citando apenas dois casos, como um exemplo simples, tipico e atual desse tipo de manipulação da informação (sem entrar no mérito da culpa ou não dos envolvidos, pois isso é outra questão completamente diferente!):
O caso Banco HSBC (ver link) e o caso Petrobras (dispensa link), ambos envolvendo centenas de políticos, empresários e outros, brasileiros, da Situação e da Oposição, em delitos de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão fiscal, etc, que chegam ao montante de alguns bilhões de dólares, em cada caso!
Se escolhêssemos aleatoriamente 1000 cidadãos que estavam ontem (15/03/2015) na Av Paulista, na Av Atlântida ou na Pça. da Liberdade e perguntássemos se eles já leram ou ouviram notícias desses dois casos, tenho certeza que sobre o Petrobras os 1000 (100%) diriam que sim, quanto ao HSBC talvez, no máximo, uns 50 (5%) diriam que sim.
Isto é resultado de manipulação de informação, feito por um forte veículo midiático, para controlar e dominar a opinião pública!
E quem domina e controla a massa está querendo, suspeita e indisfarçavelmente, manobrá-la e orientá-la para alguma direção.
E o pior disso nem é a manipulação da massa para levá-la a um evento, uma passeata, uma marcha, de poucas horas, isso é o de menos, é secundário, é apenas um relatório de resultados. O pior mesmo, o trágico, o danoso, o nefasto e ignóbil, é toda a manobra de informações, toda a maquiavélica articulação político-empresarial que ocorre por meses, anos, décadas, antes e depois desses eventos.
Em tempo: a repercussão mundial do caso HSBC é equivalente, ao menos em importância de informação, à nacional do caso Petrobras.

http://economia.ig.com.br/2015-02-10/caso-hsbc-como-contas-secretas-permitem-sonegacao-de-bilhoes-na-suica.html

Postado no Facebook em 15/03/2015:

Será que é a mesma história se repetindo 51 anos depois?!?!?!
Se for, isto é tão grave, ignóbil e inaceitável quanto foi em 1964!!!
Aquele golpe civil-militar cínico, maquiavélico e assassino marcou a ferro e fogo, definitivamente, a minha pele, o meu cérebro e a minha alma, e eu não desejo isso pros filhos e netos de nenhum brasileiro.
E aí, como ficamos?!?! Vamos, novamente, cair no jogo sujo, e no jugo, "deles", os norte-americanos de USA?!?! Vamos continuar sendo massa de manobra, marionetes e joguetes nas mãos "deles"?!?!
Se "eles" realmente estiverem de alguma forma por trás disso, com o minimo de influência que seja, eu vou ter que repensar toda a minha neutra posição política atual, com fortíssima tendência a ficar do lado contrário ao "deles"!!!
Hay gringo in this jogada?! Soy against, contra!!! A roupa suja é minha! Eu mesmo lavo na minha casa e com a ajuda só dos meus compadres e comadres!!!
Rejeito, abomino e desclassifico toda e qualquer interferência política externa! Pois, não se iludam, quando ela vem é para atender exclusivamente aos interesses "deles"!!!
Quem tem nas mãos o poder econômico, o poder político, o poder militar e o poder da informação, pode tudo, pro bem ou pro mal! E eu desconfio seriamente das intenções de quem tem todos esses poderes quando ele interfere e se impõe no terreno alheio!

domingo, 8 de março de 2015

Caraíva


Caraíva

Enfim, depois do carnaval,
Chego à janela do meu endereço oficial
nos próximos quinze ou mais dias,
em Caraíva nas Bahias.

Que maravilha!
Metade da família
mareando em Caravília.
A outra metade pode vir muito bem
de avião, táxi, busão, balsa, canoa,
carroça, charrete e pesão.
Mas, vem numa boa,
pois nem precisa de trem.

Mais uma vez lá vou eu
encarar este dia meu
com toda a certeza
de só ver beleza.
Praia e mar sem fim
Areia amarelo marfim
Águas verde turquesa
Céu esmeralda azul
Caminha só uma incerteza:
Rumo norte ou rumo sul?
(ou leste, enfim!)

Ruas de Caraíva
É muito bom poder caminhar somente,
solene e sonolentamente,
no silêncio destas ruas de areias super quentes
ondulantemente salientes,
saboreando as cores corridas
destas paredes mornas e coloridas,
ao cheiro salgado das ondas
que trazem à alma, em vagas ondas,
todas as suas doces visões terrenas,
submarinas, sobre marítimas e hiper marítmicas.

Dias de Chuva
Dias de chuva no mar
Encontro das águas:
As de cima cismam
de nas de baixo baixar
É Caraíva com cara de chuva
Beleza de todo jeito, de se apaixonar.

Maris Noturnus
Bom mesmo são os mares noturnos
Mares diurnos são muito quentes,
incandescentes, indecentes,
impertinentes, infringentes.
Têm muita gente.
Mares noturnos são soturnos
sem certo rumo
de incerto turno
São apaziguadores,
desarmadores,
embarcadores,
abarcadores.
Domadores
de dores.
Basta uma lua clara,
ondas batendo espumas brancas,
o pisca-farolzinho de Corumbau,
e nem mais o escambau.
Um uisquinho na mesinha ao lado
Tudo assim, calado.
E eu aqui ficaria
mais uns tantos dias
Mas só às noites,
sem dias.

Último dia em Caraíva
procurando uma saída
Embora gostando daqui,
precisando embora ir
Mas, qual caminho seguir?
Nenhum indica Beagá
Acho melhor eu ficar!

segunda-feira, 2 de março de 2015

Barulhos e Cheiros do Mar


Barulhos e Cheiros do Mar

Às vezes era um motorzinho de serra elétrica cortando pranchas de madeira, um martelo martelando prego ou uma talhadeira talhando pedra. Outras vezes era a cera de carnaúba sendo passada no piso, o desinfetante de eucalipto no banheiro ou o amaciante de roupa na máquina de lavar roupa. Outras ainda, era uma combinação de tudo ou parte disso tudo. Todos estes cheiros e barulhos juntos, separados ou superpostos, acumulados.
Enquanto isso, eu ia, caminhando praia afora, ou ficava, sentado na varanda de frente oceânica bebendo um uisquinho com gelo de água de coco, e pensava: Isto é muita sacanagem, é um puto contraste, um paradoxo sacanal, uma puta sacanagem! Estou aqui numa boa, vivenciando e curtindo tudo isso, e tem gente logo ali atrás, logo ao lado, trabalhando, suando e dando duro de verdade! Simplesmente não combina: o som das ondas do mar com o barulho do martelo, o cheiro de sal e peixe com o aroma de desinfetante doméstico.
Pra esquecer esse dilema, essa contradição, essa anormalidade existencial transcendental, eu dormia – na verdade, em sono induzido pelo whisky. E, dormia, é claro, continuando a ouvir todos estes barulhos e a cheirar todos estes odores. Daí que carrego comigo até hoje, nos meus cromossomos, este auto-condicionamento psicofísico sensorial: se chego numa praia e começo a ouvir marteladas ou a cheirar casas enceradas, é tiro e queda: me dá uma sonolência danada! – com ou sem whisky. Martelete de construção e desinfetante de manjericão tornaram-se os meus soníferos prediletos.
Mas isto acontecia, quando eu ainda trabalhava 11,5 meses por ano, durante o 0,5 mês de férias. Hoje em dia, em férias permanentes, 12 meses por ano, já resolvi de forma universal, unilateral, religiosa, política, consensual e plenamente este meu antigo problema de consciência humano-cívico-trabalhista, pois acho que se eu estou aqui numa boa é porque já fiz por merecer, e se eles estão lá, ainda, trabalhando, é simplesmente porque eles ainda precisam trabalhar. Afinal, alguém sempre tem que trabalhar, senão como é que a gente vai poder vagabundar?!
Ao trabalho, minha gente, principalmente hoje, em Caraíva, Bahia, segunda-feira, 02 de Março de 2015, o primeiro dia útil do Brasil! Mas, às 15hs, não se esqueçam de ligar a serra elétrica da construção ao lado e nem de lavar os pratos com detergente de eucalipto na cozinha dos fundos, porque eu preciso dormir!