domingo, 31 de dezembro de 2017

dias

e assim é o natal e o ano novo
e o carnaval e o dia do ovo
(o pascoal) e o dia do bobo
(o tal de abril) e etcetera e tal
também é o da mãe e o do pai
o dos avós e o das crianças
(dias de (des)esperanças?)
e por aí se vai...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Calafetação


Calafetar, Calafetação, Calafetagem

Sempre temi, evitei pronunciar ou mesmo escrever, tais estranhas, suspeitas e ambíguas palavras. E sempre fugi delas, quase como o diabo foge da cruz.
Mas, ontem não teve jeito, tive que encara-las frente a frente, sem sinônimos ou antônimos nem eufemismos de apelação.
Pior, tive que efetua-las calado, calar e efetuar, experimentar e sentir as suas existências na vida real e não só nos livros e nos dicionários, praticando-as de fato, com as minhas próprias mãos!
Pois, ontem, eu tive que calafetar, fazer uma calafetação ou calafetagem, para vedação da junção, do buraco, entre o tronco da árvore e o telhado da casinha na árvore, que estou construindo pros meus netos. (ver fotos: essa é tal calafetação)
Mas, o que vem ao caso, a questão que não quer calar, e muito menos calafetar, é a estranheza, o susto, a suspeita é a desconfiança que estas palavras de calafetar e suas derivadas sempre calaram em mim!
E, enquanto eu calafetava, a minha mente não se calava e constantemente se perguntava:
Será que calafetação serve pra calar algum tipo de afetação? Calafetar é pra calar algo que me afeta? Calafetagem é uma espécie de sacanagem que se deve calar? Calafetagem é uma insuspeita, enrustida, dissimulada é inconfessável cafajestagem?
Já sabia, mas, para calafetar de vez minhas especulações mentais, corri pro meu dicionário online pra me certificar e aliviar. Lá está e copiei;

"Significado da palavra calafetar:
v.t. (verbo transitivo)
Vedar com estopa, introduzida à força, as junturas, buracos ou fendas de uma embarcação, para impedir penetração da água.
Entupir com estopa, feltro, pano ou papel qualquer fenda ou buraco para impedir a entrada do vento ou do frio.
Encher com piche ou outra substância as juntas dos soalhos, telhados etc."

Atenção! Favor não confundir calafetação com calefação. Está última significa o aquecimento de ambientes muito frios, introduzindo calor por algum meio. E uma boa calafetação normalmente não depende de nenhuma calefação. Mas, o inverso pode ser verdade, pelo menos nas regiões de frio mais intenso: uma boa calefação pode depender de uma boa calafetação, inclusive da ordem de execução da ação: primeiro se faz a calafetação e depois a calefação.

Só falta cair uma boa chuvarada, daquelas que calam toda a criação, pra eu poder ver se ficou boa a minha calafetação, ou se vou ter que refazer a calafetagem (aí é sacanagem!)

Material utilizado: Espuma Expansiva para Calafetagem (ou calafetação)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

águas


águas

águas transparentes
em sol de solstícios fulgurantes

águas sem limos,
só pra amigos íntimos
ou bem chegados parentes

águas translúcidas
onde se perde a palidez e a lucidez

água tranqüila
com um bom copo de whisky,
vodka, cachaça ou tequila

água plácida
ph no ponto, nada ácida
nem alcalina

é só água de piscina

água azulina,
sem querosene nem gasolina,
só no fundo parado da minha piscina

água tão serena e límpida
só na minha piscina nada olímpica

só pra quem nada olimpicamente nada
ou pra quem olimpicamente nada nada

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

telhados


Da serie: registros fotográficos pra arquivar nas nuvens de chuva:

Meus telhados molhados, ensolarados, avermelhados, fuligenados, nublados, empoeirados, acinzentados, empreteados e esverdeados.

Telhados suavemente inclinados levitando acima de paredes, muros e árvores; lançando raízes cada vez mais fortes e profundas no meu corpo e no meu espírito.

Quando deito e descanso os meus olhos e a minha mente neles, a poesia venceu, o amor ganhou, a vida está salva!

Telhados de 2, 4 e até 7 águas, todas em mim desaguardadamente a desaguar.

Sob estes telhados estou protegido, ungido, abençoado.
Estou plena e seguramente acolhido, abrigado, agraciado.

Posso entrar, descansar, dormir e sonhar em paz.

From the series: photographic records to archive in the rain clouds:

My roofs wet, sunny, reddish, smoldering, cloudy, dusty, greyish and greenish.

Roofs softly turned levitating above walls and trees; leting time over time deeper and stronger roots in my body and my soul.

When I lie and rest my eyes and my mind in them, the poetry has won, the love has triumphed, the life is saved!

Roofs of 2, 4 untill 7 waters, all of it unexpectedly draining over me

Under these roofs I am protected, anointed, blessed.
I am fully and surely welcomed, sheltered, graced.

I can come in, rest, sleep, and dream in peace.

muros


Da série: registros fotográficos pra se jogar nas nuvens:

Meus muros de pedra numa tarde de sol de primavera após cinco dias nublados e chuvarados
E eu não sei muito bem porque, mas esses muros sempre foram para mim pura poesia em pedra bruta.

From the series: photographic records to throw in the clouds:

My stone walls on an afternoon of spring sun after five cloudy and rainy days.
And I don't know very well why, but these walls have always been pure hard stone poetry to me.

domingo, 10 de dezembro de 2017

00:52

00:52
já marca
o relógio do celular
do novo dia que já vem vindo
apenas cinquenta e dois!
tudo pode ficar pra depois
desses últimos 52 minutinhos
é hora da última taça de vinho
da última coisa a pensar
do último lamentar
do último cantar
do último pesar
01:07

domingo, 3 de dezembro de 2017


da minha longa e solitária série:
só, somente só e solitário seriado

tem vezes que gosto de estar só
só não gosto de estar só só
e quando estou muito só
me sinto como traste
assim, meio frustre
estar somente só
é muito triste
é triste só
e é só

sábado, 25 de novembro de 2017

desassombrado


Vivendo num mundo sem sombras! Sem sombra de dúvida! Onde todas as sombras desaparecem, somem, desvanecem. Quando nenhum homem ou nenhuma mulher consegue enxergar a própria sombra!
É a hora em que ninguém consegue perseguir a, ou ser perseguido por, sua própria sombra. É no dia perfeito, na hora exata, no momento preciso, em que todas as sombras se vão e tudo fica absolutamente claro, limpo, plenamente ensolarado, desasombreado, desassombrado! Aliás, neste instante extremo todas as coisas, tudo que é objeto material tridimensional (sem abas ou partes suspensas capazes de projetar impertinentes sombras extras) sobre a superfície do planeta, tais como essa garrafa de vinho já vazia (pois vinho quente não dá! só azia!) sobre a mesa, perdem o sabor e a sombra, desaboream, desasombream, deixam de projetar sombras, cores e sabores, ficam descoloridas e desassombradas!

Foto: sábado, 25/11/17, 13h de verão, 12 no horário real, sol a pino, no prumo exato, no zênite perfeito, sobre este ponto do planeta (uma espécie de pré-solstício de verão, solstício que ocorrerá daqui há pouco menos de um mês)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

752 anjos


meus anjos da madrugada
com a luz apagada,
à luz de vela,
velam, zelam,
por mim sozinho,
eu e minha taça de vinho

(na verdade, é luz elétrica
eu só não disse,
pra não quebrar a métrica)

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Sidi Belyout


na estação
um trem parte na linha 1
outro trem chega na linha 2
no momento em que os dois vagarosamente se emparelham,
dois olhares rapidamente se cruzam
o dele, no trem que chega
com
o dela, no trem que parte
tivesse ele chegado no trem anterior
ou
tivesse ela partido no trem posterior
(volta a cena)
ela não teria partido
pois eles teriam se encontrado
inescapavelmente
no saguão da estação
(não volta a cena)
nunca mais se verão
(nem no inverno ou em qualquer outra estação)

Foto: Estação Ferroviária Casa-Port / Sidi Belyout, às 22:17h (by Brumbe, da sua janela marroquina)

domingo, 5 de novembro de 2017

Maroc


Maroc

Estar no Marrocos,
no Marrocos não estar.
Ir de Casablanca pra Marrakech,
ou de Marrakech pra Casablanca.
E aqui não ficar nem voltar,
de Beaga pra Bagda
ou de Bagda pra Beaga.
Ler de frente pra trás,
ou de trás pra frente, vê?
É tudo a mesma coisa!
Coisa mesma, ah, tudo é.
Talvez somente três coisas,
três coisas somente talvez,
andando pra trás ou pra frente,
sejam de fato diferentes:
O universo em expansão ou em contração.
A vida em evolução ou em involução.
O amor em profusão ou em retração.
No mais, tudo o mais,
tanto fez quanto tanto faz.
Voar from Morocco to London,
ou voltar from London to BH
Só sei porque viajar ousei
Ousei viajar porque sei, só
E bebendo um bom Boulaouane rouge, vindo do alto do minarete da Mesquita Hassan II, ouvi ao longe:
Ácarap raja iv zefem euq o damahco otirgo are
Era o grito, o chamado, que me fez viajar para cá:
"SOCORRAM ME SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS!
SOCORRAM ME SUBINÔ ON IBUS EM MARROCOS!"
Já não sei se quero voltar
Voltar quero, és ies, mas, não já.

Foto: um ônibus em Marrocos (este realmente pedindo socorro!)

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

coisas

perder coisas procurar coisas arrumar coisas guardar coisas consertar coisas manter coisas comprar coisas pagar coisas parcelar coisas adiar coisas antecipar coisas eliminar coisas acrescentar coisas prometer coisas omitir coisas juntar coisas separar coisas renovar coisas inventar coisas equacionar coisas solucionar coisas carregar coisas buscar coisas levar coisas entregar coisas pedir coisas pensar coisas imaginar coisas ouvir coisas falar coisas discutir coisas calar coisas ver coisas enxergar coisas coisar coisas...
Que coisa... às vezes sinto um grande cansaço das coisas!

by Brumbe, no meio das coisas

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

sem beira nem eira

sem eira nem beira (*)
(no limits, no borders)

A escrita, o escrever,
é a minha única e verdadeira
companheira.
A que me segue e é (per)seguida na vida por esta estrada inteira.
Mesmo que eu não esteja nem um pouco à sua altura.
Ainda que ela mesma pouco e mal me ature.
Falar, entregar, desaguar,
faltar, completar, desabafar,
tropeçar, cair,
levantar, seguir,
sem eira, beira ou fronteira,
sem tapumes nem vitrines,
nem cercas ou barreiras.
Descer, ou ao menos ousar pretender,
ir ao âmago, ao fundo, de qualquer coisa, enfrentar os infernos.
Merecer estar ao nível do chão, da terra, à mesa, dos meus no mundo.
Subir em direção aos céus, às estrelas, às galáxias.

by Brumbe (5:20 to 6:37 am, 2017, october, 09) at least, back to the road (enfim, de volta à estrada)
english version, coming soon (versão em inglês, brevemente)

(*) homenagem à John Winston Lennon, no dia dos seus 77 anos.


sábado, 30 de setembro de 2017

débeis e dúbias

débeis e dúbias

É muito triste quando
as palavras deixam de ser
fortes, calorosas, saborosas,
quentes, gostosas, amorosas,

reais,
fantásticas,
entusiásticas;

e passam a ser apenas
fracas, frias,
dúbias, débeis,
insípidas, inodoras,

virtuais,
burocráticas,
diplomáticas;

somente frágeis
palavras amigáveis.

by Brumbe (c), 30/09/17,
sentindo as palavras fraquejarem

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

without name

um desejo, um querer, uma fome,
uma coisa toda sem jeito,
sem graça, sem nome,
que jamais será satisfeito

a desire, an want, a hungry,
a thing without all mean,
with no grace, no name,
that never will be satisfied

to the bright

in the my last winter's night
graces to heaven, i might
acept or avoid any fight
and i'm going to the bright
it's already the time of my flight

na minha última noite de inverno
graças aos céus, eu posso
aceitar ou evitar qualquer luta
e eu estou indo para a luz
já está na hora do meu vôo

terça-feira, 5 de setembro de 2017

ovos & vinhos

Ovinho
Topovo
Vinhovo
Ovotopo
Toponovo
Ovonotopo
Só um ovo quebrado
no topo do vinho já tomado
Só um vinho sob céu enluarado
debaixo de um ovo estrelado


toalhas & sandálias

cds & dvds

suas toalhas
com todos os coraçõesinhos
sua escova de dentes
suas sandálias
e seus futuros chinelinhos
sua janela
e tudo dentro e fora dela
seu café, seu vinho
e todo o meu amor e carinho
até mesmo o chá
que um dia ainda vamos tomar
seus cds e dvds
sua lareira
tudo na minha casa
em todo o condado
e tudo mais que você queira
estarão sempre lá
te esperando
como esperado

domingo, 20 de agosto de 2017

de estação a estação

Tenho uma certeza na vida:
queria estar com você,
queria ficar com você,
queria amar você,
em qualquer situação,
sob qualquer condição,
de estação a estação,
pelo seu coração,
com todo meu coração,
para o resto da minha vida!

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Espíritos de Árvores


Espíritos de Árvores

Estou construindo, pessoalmente, no meu sítio, uma casinha na árvore pros meus netos. Como eu considero que as árvores são os seres vivos mais importantes desse planeta, no início da obra eu não só perdi permissão como também fiz uma longa meditação e uma oração (à minha maneira meio madeira!), solicitando que o espírito da árvore bem acolhesse e protejesse a casinha e os seus pequenos frequentadores.
Como a casinha é, claro, toda de madeira, hoje, com a obra já bem adiantada (ver foto), de repente me dei conta de que eu deveria também venerar, invocar e chamar os espíritos de todas as árvores que cederam madeira para a obra, para que se unam, se agreguem, ao espírito da árvore hospedeira. E, para mim, o objetivo, o sentido, maior dessa união da árvore viva com as árvores "mortas" é não somente que seus espíritos em conjunto abracem e abençoem a casinha, mas, principalmente, que as árvores "mortas" se sintam realmente, pelo menos em parte, renascidas, ressuscitadas, revividas, ao se integrarem ao corpo, troncos e galhos, da árvore que suporta a casinha.
E que as árvores do mundo todo sempre protejam os netos de todo mundo!

domingo, 16 de julho de 2017

paradoxais distâncias corporais

paradoxais distancias corporais

Nesse inverno, com todo esse tempo tão gelado, é que eles estão mais distantes, isolados, frios, separados!!
Será que no verão, com todo aquele calorão, eles estarão novamente juntinhos, agarradinhos, se aquecendo grudadinhos?!
Por isso admiro e respeito casais mais intermediais e mais equidistantes, constantes, equilibrados, regulados e balanceados, como o soturno e sortudo amigo Antono e a discreta e bela prima Vera.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

no horto


Só porque a babá tá doente,
aqui estou eu novamente,
depois de anos ausente,
em carne e osso presente,
pessoa em sangue e osso,
muito vivo e nada morto,
na tal Arena do Horto.
Eu que sempre me calo,
que pouco ou nada falo,
pra ver o meu GALO!!!
Eu, o atleticano-avô que veio
graças ao Galo Na Veia,
porque o atleticano-pai teve
que ficar em casa pra cuidar
das crianças e do bebê
e só vai ver pela tevê,
e, não sei se descontente
ou se feliz familiarmente,
depois de anos presente,
hoje estará daqui ausente,
só porque a babá tá doente.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

sobre mesa de vidro


fruteira padrão:
manga
maçã
limão
banana
e mamão


Minha neta Clara (5 anos),
a Clarinha,
fez essa artesinha
sobre a mesa da cozinha.
Fiquei imaginando:
será um Caleidoscópio?
Melhor pensando:
é um Clareidoscópio!

sexta-feira, 23 de junho de 2017

idéias revis(it)adas


(revis(it)ada lembrança de alguns anos)

Meras e idiossincráticas idéias, inclusive a propósito de prescritas prosopopéias e oníricas onomatopéias

Ainda pretendo renascer, viver e morrer num planeta aquoso de Cassiopéia
onde a minha alma voe com cem mil asas, que nem mil aladas centopéias,
sonhando toda noite com o fantasma da bela e sensual deusa grega Atenéia.
Morar numa casa avarandada nos contrafortes do vulcão de Pompéia,
ou em outra, com deck e cais, na margem norte do Reno, na Basiléia,
ou ainda outra – uma cabana de beduínos, talvez – nos desertos da Eritréia.
(porém, em qualquer delas, apenas jardins e quintais de azaléias)
Ouvir cães, gatos, cobras e lagartos cantantes numa sinfônica prosopopéia
(ou apenas miaus, au-aus, sibilados e chiados, simples onomatopéias)
Comer somente mel de abelhas, retirado diretamente das colméias
e produtos naturais, orgânicos, vegetais, sob a forma de geléias.
Não ter a menor idéia de quem seja Gertrudes, Cleonice ou Dorotéia.
E no fim da vida, viver uma pequena e singela greco-romana epopéia
ou, ao menos, uma rápida, fugaz e mortal oriental odisséia.
Mas, tudo isso é pura, insana e alucinada falta de idéia!
Apenas algo que se semeia,
depois na mente permeia,
no espírito ricocheteia,
na alma bamboleia
e no cérebro manca e coxeia,
sempre após a meia-noite e meia.

by Brumbe © 2015
Picture: the greek goddess Ateneia

domingo, 18 de junho de 2017

sol na orquídea


um raro sol nas minhas raras orquídeas
uns raios de sol nas raiadas orquídeas

quinta-feira, 1 de junho de 2017

kashmir

one day I'll go to Kashmir
with no ticket to return,
no tears and no fear

um dia irei pra Cachemira
sem passagem de volta,
sem choro e sem medo

R. Brumbe 01/6/16 - 01:34 am
listening Kashmir / Led Zeppelin

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Fronteiras Urbanas

Fronteiras Urbanas
Aqui em BH, assim como nas grandes cidades brasileiras, quando a turma ou a gangue de um bairro de classe "média" ou "baixa", como Floresta e Santa Tereza ou Pirajá e São Benedito, quer delimitar as suas ruas de frequência e influência ou o seu território de domínio, os seus digníssimos integrantes jogam um par de tênis velho na fiação aérea da rua, geralmente numa esquina, o que significa dizer, clara, botineira, chutada e pesadamente falando, que a turma de um lado não gosta e nem se enturma de jeito nenhum com a turma do outro lado, e nem admite invasões de território.
Já aqui nos bairros de classe "alta", como São Bento e Santa Lúcia (interessante: a maioria dos bairros de BH têm nome de santo ou santa, mas isso já é outra estória, pertence a outro território), ao invés de tênis velho, eles jogam é telefone velho! (vide foto) Um telefone permanentemente desligado, descartado, mudo, desconectado! Será que isso quer dizer algo similar ao que aquelas outras turmas dizem, ou seja: aqui a turma de um lado não se comunica de jeito nenhum com a turma do outro lado, e nem se permite que uma entre na conversa da outra?!



segunda-feira, 15 de maio de 2017

duas mães

Primeiro Dia das Mães
com as duas filhas mamães
simplesmente, calorosamente,
singularmente, ruidosamente,
zelosamente, amorosamente,
felizmente e alegremente
como é certo das mães
por conta dos filhos
Obrigado por serem mães!
Obrigado pelos seres netos!
Obrigado eterno e infinito!

terça-feira, 2 de maio de 2017

portal


é o portal,
o frontispício,
a boca devoradora,
da minha lareira,
que estará logo acesa
queimando fogo inteira,
torrando boa e má madeira,
pra incendiar ou acalmar,
arrebatadora, acalentadora,
o meu mental
e invernal
hospício
(como é fim, era meio e princípio)

Belchior

Belchior, bem como muitos outros músicos e músicas daquele tempo, foi assim como uma espécie sublime, divina, poética, harmônica, contagiante e instigante, de algo como um pano-de-fundo, background, alicerce e suporte, que inspirou, motivou, alegrou, alentou, deleitou, incentivou, incendiou e justificou toda uma geração brasileira (a minha) profundamente sonhadora, contestadora, idealista, batalhadora, guerreira, guerrilheira, sofrida, torturada, martirizada e revolucionária.
O que eu sinto com a morte dele?
O mesmo que senti quando morreram recentemente muitos outros assim:
É que toda aquela geração já vai morrendo também.

sábado, 22 de abril de 2017

nin de passarin III


Nin de Passarin III

A roda de carroça, a casa no mato, a cama de tronco, a janela do chalé e os nin de passarin.
A roda no mato, a casa da carroça, a cama do chalé, a janela de tronco e os passarin nos nin.
A roda do chalé, a casa de tronco, a cama no mato, a janela da carroça e os nin de passarin.
A roda de tronco, a janela da casa, a cama da carroça, o chalé no mato e os passarin nos nin.
A roda na cama, o mato na janela, o chalé da casa, o tronco na carroça e os nin de passarin.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

tantas

já morri tantas vezes
que nem sei
já nasci outras tantas
que rezei
já vivi tantas outras
que errei

segunda-feira, 17 de abril de 2017

vão


tudo será em vão
nenhum sermão
nenhum palavrão
nenhuma oração
nenhuma canção
nenhuma exortação
nos salvará da destruição

by brumbe apocalypsing

quinta-feira, 13 de abril de 2017

cardápio animal


Cardápio Animal

Os Elefantes mais elegantes e galantes só bebem água em galões e da própria fonte, a da deles fonte
Camelos não comem cogumelos como guloseimas de marmelo
O Leopardo não come galinha, mas adoraria um frango ao molho e óleo pardo
Rinocerontes comem demais! Não passam mal porque tomam óleo de rícino antes
Hipopótamos em hipótese alguma comem tálamos, nem os que potamos.
Girafas têm pescoço comprido de tanto engolir comprimidas garrafas?
E o Búfalo, quando não encontra comida? Bufa de fulo
Nos primórdios do mundo foi dito aos Marsupiais: só comereis do fruto que mal usurpares de outros animais
Sábio pra galho é o Macaco que só come os frutos do próprio trabagalho
Que pena que “drome” não é comida! Se sim, os Dromedários poderiam comer, sem engasgos, os seus dromes diários
Jacaré, se fosse baiano, só comeria acarajé; como não é, come só do peixe que der
Vacas Aladas preferem o que em vôo produzem: coalhadas bem chacoalhadas
O Peixe-Boi não come capim, prefere tilápia, traíra e surubim
O Peixe-Elétrico? Come volts, ampères e watts? Pra saber, só medindo-o com um multivoltiamperiwattímetro
E o Peixe-Espada? Engoliu uma...?
A Tigresa de Bengala comeu pouco e ficou só magreza, bela magrela. E venceu a ameaça de extinção: morreu velha e banguela
Hienas só comem restos, carniças e ossos; e ainda riem de dar pena
(aliás, a Hiena, se fosse mineira, se chamaria Otorrino)
Ornitorrincos comem mal, pois sofrem muito de nariz, garganta e laringe; deveriam consultar mais os seus ornitorrinolaringologistas
Suricato no mato, pra sucuri é prato
Muito cuidado com a Onça! Pra qualquer comida, pintada ou não, ela avonça
O Leão? O rei da criação? Come de tudo, menos pão e arroz com feijão
E o bicho Homem? Que diabo com quiabo será que eles comem?!

By Brumbe, assistindo, dormindo, programas de "vida selvagem animal" (um dos seus prediletos)

segunda-feira, 10 de abril de 2017

insônia

Insônia...
Só insoniando com você
Só sonhando com você
Só pensando em você
Só procurando você
Só desejando você
Só querendo você
Só faltando você
Só amando você
Só mesmo você
Só quero você
Só sei você
Só você
Você

...

quarta-feira, 29 de março de 2017

rastros e traços

Rastros e traços

No meu ar ainda paira algo intraduzível,
incomparável, incomensurável, sem nome:
é o seu perfume
E na minha fronha e no meu travesseiro
ainda, travessamente,
se assanha o seu cheiro
Nos meus cobertores
ainda vibram, timidamente,
seus tremores e seus estertores
E no meu lençol
ainda há fagulhas do seu radiante e gratificante sol
Na minha janela ao vento ainda tremula a sua lua
E minhas vidraças e espelhos ainda tremem
por ousarem refleti-la toda nua
Sobre a mesa, numa taça de vinho,
sempre o melhor ou um muito bom
sempre fica o fino, levíssimo, discreto e refinado traço do seu invisível batom
E a minha cama só se declara e declama
realmente cama
quando a gente se ama
O meu quarto inteiro
de canto a canto
pelos quatro cantos
(geométricos e musicais)
só quer você inteira
de terça a terça feira
E às vezes, como um louco,
abro a porta e reviro tudo,
desvairado revirado,
até o tapete e o capacho,
mas, muito triste, nunca te acho
E toda a minha casa,
graciosamente,
agraciadamente,
por você chama, clama e reclama,
repetidamente,
todo dia
dia e noite
noite e dia

quinta-feira, 9 de março de 2017

devagaração

diverjo e divirto de frente, de prosa e de verso
do diverso, avesso e transverso
do que vejo, sinto e penso
(página ainda em construção
desejo, que seja, ainda em divagação
ou em mera devagaração
devagar... ação)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

show

Show

Show, show mesmo, é quando o show em dvd sai da tela da tv, atravessa a sala, vai e invade os vitrais da sala de tv ao sabor das nuvens ao sol a se por; cantando e tocando canções magistrais, nos vapores do fim do mundo, onde me calo mudo; por essa mesma janela onde a gente os vê e se vê, pra ganhar e viajar os infinitos e eternos espaços silenciosos e sonoros que vagam lá, bem pra lá das terras dos confins da terra, num bólido aero-espacial a novecentos e quarenta e três quilômetros por hora, riscando o profundo céu azul de fina e branca tinta, ou na atmosfera mais rasa onde trinam aves raras, pássaros brancos e negros, passageiros dos planetas primordiais, e para, ao fim de tudo, voltar aos nossos olhos, ouvidos, mente e espírito como som sempre novo, e som novo como jamais, tal e qual se ouvia e se cantava no tempo dos templos dos mundos de nunca mais.

thank you, Dylan, for one more show


domingo, 5 de fevereiro de 2017

PAULA


PAULA

Com Paula,
minha terceira netinha,
recebo minha quarta aula
minha sexta escola de vida
Sejam bem vindos e bem vindas
todas as alegrias,
todos os sorrisos,
todas as caretinhas,
todos os chorinhos,
todas as baguncinhas
e todo o saber de Paulinha!
Paulinha,
a primeira filhinha
de Cézar e Aninha
Mais uma neta,
como meu presente de níver,
vem no momento certo,
vem na data certa!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

fora da via



fora da via

Bem que o meu mestre guia
sempre dizia e repetia:
Meu filho, largue essa engenharia,
vá mexer só com poesia,
vê se se acha na vida,
vê se acha a sua via.
Suave via?!
Suave viveria!
Bem que eu queria...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

dias e dias

cada noite a mais
sem te amar
é um dia a menos
da minha vida que se vai

cada noite a mais
te amando
são dias e dias
que a minha vida vai ganhando

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

tráfego aéreo


tráfego aéreo

pela janela de vidro da sala de estar,
aquela mesma onde se está,
de onde se vem, se vai ou se vá 
quando algum som está ou não a tocar,
pode-se ver muito bem
lá, bem além,
da lagoa que já não há
e das montanhas do lugar,
que naqueles infinitos e profundos espaços azuis,
nos confins da terra,
alheios à toda ordem local e universal,
sagrada e milenarmente aqui já estabelecidas,
como estranhos e indesejáveis objetos que insistem em profanar os meus céus,
agredindo os meus deuses e as minhas deusas,
os aviões,
silenciosamente,
sistematicamente,
invariavelmente,
regularmente e
geoposicionadamente,
continuam a pousar e decolar

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

dvd na tv


dvd na tv

Das minhas melhores horas do dia
uma é essa
19h inverno ou 20h verão
quando a noite vai comendo o dia
gradativamente, sem pressa
que nem camaleão
e o show em dvd
sai da tela da tv
e invade o vidro da janela
da porta sem tramela
e ganha o espaço
azulado cinzento
de sonhos e tormentos
sobre a lagoa e a montanha
(patos e garças voando pra um lado,
dedos e cordas pro outro lado
aviões pousando ao fundo)
De manhã já será garoa
Pura manha?!
Ah... pois bem antes disso,
(ouve bem, garota)
sem saber o que faço,
já me desintegro em milhões de pedaços
E nem saberei mais qual dvd
colocarei integral na tv

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

se eu souber

eu sempre tive, tenho, e sempre terei, muito medo de saber como se escreve poesia,
pois temo que, se eu souber, nunca mais vou nem ao menos tentar escrever poesia
espero que nunca chegue esse dia

domingo, 8 de janeiro de 2017

direções cardeais


Amores Cardeais

De repente,
mirando o poente,
reparei
o que nem bem sei,
lá no mais alto e amplo horizonte
do meu belo horizonte.
É que todos os meus amores principais,
em todos os pontos cardeais,
estavam lá:
do sul ao lado
do médio norte
do próximo oeste,
e até do distante sudoeste
e do longínquo nordeste.
E o principal e atual,
o que quero imortal,
o do mais íntimo leste,
mais precisamente, sudeste,
aquele que todo dia renasce
e que sempre permanece
me reorientando pelas outras demais
direções cardeais