terça-feira, 27 de dezembro de 2016

yeshuas' day


nothing better than
a Nobel Prize as an
Yeshuas' day gift
just Bob Dylan
but no letters, only hits
none books, only a dvd

(even 22 years latter!)

(nada melhor do que
um Prêmio Nobel como
presente no dia de Jesus
apenas Bob Dylan
mas sem escritas, só músicas
nenhum livro, só um dvd)

(mesmo 22 anos depois!)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

lentamente...


Lentamente,
cuidadosamente,
respeitosamente, (*)
as mãozinhas vão se movendo, se erguendo, se aproximando e, enfim, tocam, a minha barba, o meu óculos, o meu nariz, a minha orelha, o meu cabelo, a minha pele; como se estivessem, e de fato estavam, tocando pela primeira vez a minha barba, os meus óculos, o meu nariz, a minha orelha, o meu cabelo, a minha pele.
(e aqueles olhinhos lindos, puros, instigantes, perscrutadores, perturbadores; divina, luminosa e cristalinamente azuis?! melhor deixar pra outro capítulo! concentremo-nos, por hora, apenas nas mãozinhas; suficientes pra tirar o fôlego e insuflar a alma!)
Ah... as mãozinhas!
É absolutamente fantástico, mágico, inacreditável, extasiante, inexplicável, ver e sentir um bebê de sete meses erguer as suas mãozinhas pelas primeiras vezes pra tatear o mundo, pra conhecer as coisas e as pessoas, pra tocar e contatar a vida ao seu redor!
E o mais admirável, prazeroso, respeitável e gostoso de tudo é poder ver e sentir como eles, esses pequenos seres incríveis e fabulosos (no estrito sentido de seres de fábulas), fazem isso constante, dedicada e meticulosamente:
Eles vão avançando em direção a seus objetivos lentamente, vagarosamente, cuidadosamente, respeitosamente, e até veneravelmente (e nunca de forma brusca, medrosa ou temerosa)
São gestos lentos, mas, certeiros; vagarosos, mas, objetivos; desajeitados, mas, precisos; sempre cuidadosos e amorosos.
Muitos poderão dizer que tudo isso, a lentidão, o cuidado, a vagareza, deve-se simplesmente à sua ainda precária habilidade tátil e manual, sua ainda pouca capacidade corporal e motora. Balela! Conversa! Ledo engano!
Preste bastante atenção neles! Eles sabem perfeitamente o quê, para quê e como, estão fazendo isso. Suas ações são perfeitamente coordenadas, pré-estabelecidas, processadas, concluídas e auto-avaliadas.
Bobos somos nós que não os entendemos!
Quisera que todos nós, crianças, jovens, adultos, velhos, fôssemos assim... quem dera... como os bebês: sempre lentos, cuidadosos, respeitosos, vagarosos, curiosos... e amorosos.

(*) homenagem à minha neta Cecília, que fez sete meses num dia desses, e
ainda ergue, assim, as suas mãozinhas pra mim.

vícios

Mais um dezembro badalando seu solstício
Milhares de lindos pacotes balançando
nos corredores do hospício
Comemoram algum supremo, divino e redentor evento natalício?!
Disso não vejo o menor indício!
É só um vício...
Quanto desperdício!
E o mundo segue avançando pro precipício.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

sem graça

Sem graça (*)
tudo fica sem graça,
não acho a menor graça.
E se acho alguma graça,
continuo sem graça.

Cadê a graça?!
Não vejo graça!
Coisa mais sem graça!

Se estou sem graça,
o mundo perde a graça,
a vida fica sem graça.

Só há uma desgraça:
eu ficar todo sem graça,
e perder a graça.

(*) terceiro poema da graça

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

entre... e...

entre... e...

meu dia a dia é que nem
um constante vai e vem

entre a engenharia
e a poesia

entre a infra-estrutura
e a literatura

entre o concreto
e o incerto

entre números
e versos

entre contas
e contos

entre o executar
e o pensar

entre o medir/cavar
e o sentir/meditar

entre o teorema
e o poema

entre a construção
e a contemplação

entre o problema
e o dilema

entre martelos
e sufixos elos

entre serrotes
e bons e belos motes

entre a solução
e a indagação

entre o prego
e o poeta grego

entre a concretização
e a pura divagação

entre o axioma
e a musa de roma

entre a chave de fenda
e a espiritual oferenda

entre o parafuso
e palavras de pouco uso

entre a furadeira
e a palavra derradeira

entre a equação
e a sublimação

entre utilidades
e banalidades

entre a caixa de ferramenta
e tudo que ao espírito sustenta

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

tempus ventus II


Tempus Ventus II
(Vento do Segundo Tempo)

Se há demora
o tempo a leva embora
no passar das horas
sem demora.

E fica o mormaço de um nunca mais
e um vento que sopra o jamais
de uma nova brisa nos quintais.

Um vento que não sopra jamais
Um tempo sem mais, de nada mais
Como uma trava em todos os portais.

Tempo que vira vento
Vento que não vira tempo

É um tempo que flui como o vento.
É um vento portador de vagas imemoriais
que se quer inutilmente passar por tempo, e nada mais

E a tua demora
é o tempo que vai embora
deixando apenas um jamais
com gosto de nunca mais.

Quando lhe dei meu tempo
você o levou como vento
sem menos nem mais.

Sim, senhora!
Dona das minhas horas
Deixou os meus aposentos irreais
perdeu a hora e foi embora
para nunca mais.

E agora?
Ficou só o vento frio que trespassa os vitrais.
Calor nessas horas?
Só se eu botar fogo nessa casa sem demora,
queimando mesas e cadeiras,
livros, revistas e jornais!

(na versão I, se bem me lembro,
foi no Leblon, no inverno de 2003, e
quando escrevi
lembrei e entendi
as ruas que percorri
nisso que Adriana diz:
“caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial”)

sábado, 3 de dezembro de 2016

pés sem chão


Que pés são esses?!
No meu gramado, meu campo, minha terra
Meus pés não mais tocam esse chão?!
Não chuto a bola, não defendo, não ataco, não faço o gol...
Não, nunca mais, não!
Mas, que pés são esses que me levam pro meu campo, pro meu gramado?!
Quem são eles? Quem são?
Por que e pra que me levam tantos pés, que não os meus?!
Ah! Já sei! Claro! Me carregam pra galera!
Sou campeão!!!

Homenagem à Associação Chapecoense de Futebol

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

nuvens


nuvens (MCMLXIV)

olhando bem lá fundo,
na linha do último horizonte,
ainda é possível vislumbrar
as nuvens dos primeiros dias,
e, além desse infinito espaço,
levitar, flutuar e se abandonar
no céu das eternas memórias
das últimas noites no tempo
do planeta mais profundo.

by brumbe over the clouds

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

52 quadros


52 Porta-Retratos

Depois de refeita do susto de alagamento
(por rompimento da tubulação de água de aquecimento)
Após se recompor da ameaça de desabamento
Reforçada com tijolo, pedra, areia e cimento
A parede do meu mural
The wall of my world of real
(which means, too, words of real)
Aquela em frente à lareira
(onde dependuro as fotos das pessoas
que aquecem minha alma no inverno e no verão)
está novamente inteira.
É aquela atrás do sofá
com a colcha de retalhos coloridos da vovó
(ou será da mamãe, será?)
Aquela entre a sala de tocar e a escada pro segundo andar
Minha parede predileta, uma das favoritas
(da casa é, seguramente, uma das mais descritas)
Meu muro das exaltações
Minha parede de divagações
Meu altar de reflexões e venerações
Só que, agora, ela tem 52 porta-retratos
Retratos que sempre portam,
de porta a porta,
quem sempre mais importa.
Parede recuperada, reforçada, reaprumada rebocada e repintada
Parede altamente, largamente e profundamente retratada.