Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Métricas Quase Geométricas
Métricas Quase Geométricas
(ou Ode Ao Ponto)
Um ponto é só um ponto.
Dois pontos compõem uma reta.
Retas que nos regram com limitantes réguas,
réguas que nos regulam, muitas vezes de forma abjeta.
Retas podem ser paralelas, transversais, obliquas, ortogonais,
perpendiculares, concorrentes, coplanares, divergentes e muito mais.
Uma reta é a menor distancia entre dois pontos?
(a física gravitacional espaço-temporal einsteiniana contesta!)
Uma reta pode até ser a menor, mas não a melhor distancia:
linhas curvas, tortas, podem desvendar melhores estâncias.
Três pontos formam um triângulo.
Triângulos retângulos, duas retas em ângulo reto, 90 graus.
Triângulos isósceles, dois lados iguais, um desigual.
Triângulos eqüiláteros, de três lados iguais, o pretenso maioral.
Há, ainda, o triangulo qualquer,
aquele que não é qualquer um dos três regulares anteriores.
triângulos irregulares, anarquistas, fora-da-lei, impostores,
que não obedecem às leis de angular composição
e de mínima isonomia dos lados, em qualquer posição.
Três pontos constituem, ainda, um círculo!
Três pontos totalmente desalinhados sempre formam um círculo perfeito!
Sempre é possível traçar uma circunferência perfeita
passando apenas por três pontos totalmente não alinhados.
Circunferências descrevem círculos que são descritos por circunferências que desenham círculos que estão circunscritos em circunferências que...
Círculo vicioso ou virtuoso?
Uma circunconferência resolve? Uma circoconferência decide?
Vamos sempre conviver às voltas com este dilema circunrecorrente.
E o retângulo, então, é um quadrado espichado?
Ou o quadrado é que é um retângulo encurtado,
cortando pra ter iguais os quatro lados?
Isto também é um problema sem solução,
pois só se resolveria numa grande mesa de reunião
simultaneamente quadrangular e retangular, em igual posição.
Retângulos e quadrados se desenham com esquadros.
Esquadros são ex-quadros que perderam um lado e viraram triângulos.
(retorne à linha dez, a dos três pontos, pra entender os triângulos)
Se um quadrado tem um quinto lado deixa de ser quadrado,
vira pentágono, aquele que nos vigia e regula de longe por todos os lados.
Depois vem o hexágono, o heptágono, o octógono...
Octógono que virou palco de quebradeira, de luta por todos os lados,
muito a propósito porque dele pra frente se quebram tanto os lados
que as figuras vão se desfigurando até virarem uma coisa sem lados:
o círculo, figura que tem octaquinlhões, um número infinito de lados.
Com compassos, com passos, e mesmo passo a passo, milimétricos,
não se desenha coisa alguma além de círculos e circunferências.
Compassos deveriam se chamar circulímetros ou circunferencímetros.
Escalímetros são aquelas réguas de perfil eqüilátero triangular,
com seis escalas, duas em cada um dos três lados, já prontas, graduadas,
e que os engenheiros, arquitetos e desenhistas menos graduados
ou mais preguiçosos ou que não sabem calcular escalas, adoram usar.
Transferidor é outro que tem nome errado: transfere o quê, de onde pra onde?!
Somente ângulos. Então deveria ser chamado de angulímetro.
E a Régua T, lembram?!
imprescindível em qualquer mesa ou prancheta de desenho da cidade
para regular e garantir todo paralelismo e toda ortogonalidade.
Mas, todos esses instrumentos, assim com a Régua T,
já foram substituídos há anos pelo computer aid designer – o cad
Melhor deixar os instrumentos e voltar aos pontos,
pois uma infinitude de pontos em espaços tridimensionais
só são desenhados com cads especiais, espaciais.
É que, na verdade, quatro pontos ou mais
podem ser qualquer coisa,
qualquer coisa a mais.
E qualquer ponto, uma coisa,
a menos ou a mais.
Sem falar do ponto de ônibus, do ponto em cruz, do relógio de ponto, do ponto de interrogação, do ponto a que chegamos, do contra-ponto, dos dois pontos (um embaixo, outro encima), do ponto e vírgula, do ponto de exclamação, do ponto a ponto, do ponto de partida, do ponto ganho, do ponto de chegada, do ponto perdido, do ponto máximo, do ponto intermediário, do ponto mínimo, do ponto de fusão, do ponto de ebulição, do ponto de evaporação, do marcando ponto, do bar do ponto, do filé ao ponto, do ponto fora da curva, do ponto extrapolado, do ponto interpolado, do ponto roubado, do ponto sem nó, do ponto da questão, do ponto de vista ...
E pontos finais………
PS: toda vez que penso em métricas, medidas, escalas e coisas parecidas, inevitavelmente me vêm algumas perguntas recorrentes que nunca se calam:
Qual é a verdadeira escala que se usa para medir um homem?
Que parâmetros devem ser utilizados para mensurá-lo?
Afinal, com que metro se mede um homem?
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sábado, 25 de abril de 2015
Inequações Inadequadas
Inequações Inadequadas
Inequações matemáticas de alto grau negativo inferior e elevado potencial de desequilíbrio degenerativo de baixo nível e propagação de ondas desarmônicas de nível máximo, com incógnitas principais já conhecidas e números reais não naturais, superdimensionados e hiperfaturados:
PT de Rousseff e Silva = rombo via PeTrobRáS >= R$6bi
fHC e seu pSdB = rombo via banco HSBC >= R$6bi
donde: PTdRS = HCSdB
Meus próprios comentários no facebook:
1) Só pra registro histórico: Isto não é um post político. Trata-se apenas de um exercício de matemática elementar aplicada à física nuclear, à mecânica quântica e à engenharia eletromagnética, com uma discreta passagem pelos domínios da economia financeira e da logística capitalista global.
2) Registro 2: Vale notar que essas inequações violam, agridem e corrompem totalmente as leis e os princípios mais fundamentais da física, da matemática, da economia e das filosofias em geral.
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quinta-feira, 23 de abril de 2015
Galo 2 a 0
Galo 2 a 0
Hoje torci contra a chuva
Praguejei amaldiçoando o temporal
que derrubou, aos 13 min do 1º. tempo,
o meu satellite sky tv signal
Lembrei da camisa alvinegra ao tempo,
no varal, no meio do vendaval
e a gente torcendo contra a natureza
É que é da natureza do Galo ser contra
Mas valeu, como valeu,
mais uma garrafa de vinho de certeza
porque nós acreditamos
que o Galo faz o que até duvida Deus!
Mas nós, profanamente, cremos
Quando acabou o breu
já tava 1 pro Galo
e vi o segundo que, por mim,
por mil valeu!
Valeu, Galo, valeu
Por tudo que eu vi
e por tudo que eu não vi
Obrigado por mais esses 90 minutos
que valeram uma vida,
que vale dizer: isso, eu vivi!
E o Galo sempre há de cantar:
Ainda não morri!
Gaaallllooooo!!!!!!!
(em 22/04/2015 às 22:13h, em tributo a todos os anti-mortais 2 a 0, fora os 4 a1, que o Galo – Clube Atlético Mineiro – tem feito nos últimos três anos)
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Os dois lados da montanha
Os dois lados da montanha
A minha cidade tem (ou tinha?!) uma grande montanha. Sempre vejo um lado da montanha, raramente vejo o outro lado da montanha. E, antes de todo o montante restante, é bom lembrar que uma boa, decente e geologicamente bem formada e assentada montanha sempre tem, no mínimo, dois lados, quando não três, cinco, dez...
E, desde que me conheço como bom mineiro observador de montanhas – principalmente de montanhas em movimento, montanhas andantes, montanhas decrescentes e minguantes –, repito, sempre tenho visto o meu lado da montanha e muito esporadicamente tenho olhado o outro lado, o lado dos outros que vivem do outro lado da montanha.
Mas, dias atrás, pela primeira vez, desde que conheço essa montanha, eu subi no topo, no cume, da montanha, e pude ver, admirar, ler, entender e interpretar, simultaneamente, os dois lados da montanhas!
É isso mesmo, dois lados, porque a minha montanha só tem mesmo dois lados, porque ela já foi tão explorada, escavada e devastada do lado de lá que já perdeu seus lados laterais. E do lado de cá ela mais parece um gigantesco outdoor como, o que é pior, uma propaganda enganosa de montanha, um espectro, um fantasma de montanha, virado pro meu lado, o lado da cidade grande, enganando a cidade e todo mundo da cidade que olha pra montanha.
Pra quem ainda não sacou qual é a minha montanha, qual? Muito fácil: ela é a principal da minha cidade natal, é aquela mesma do antigo del’rey curral.
Mas, depois de tergiversar pelos talvegues e talvezes, pelas costas e encostas e pelas redondezas e profundezas da montanha, voltemos à montanha propriamente dita, aos seus dois únicos lados, ao seu cume, e ao tópico principal, de modo a poder ir escalando o assunto até alcançar o seu topo, em verdadeiro e quase literal alpinismo com palavras.
Como eu dizia, era a primeira vez que via, concomitantemente, os dois lados da montanha, o lado de lá e o lado de cá. E o quê que uma visão inteira, integral, do conjunto, do todo, não faz!
Numa só seqüência, como o que se vê quando se contempla um belo horizonte montanhoso, lentamente, detidamente, mineiramente, de um lado para o outro, o que eu vi foi o seguinte:
do lado de lá da montanha,
a montanha é dinamitada, detonada, pra formar grandes montes de pedrinhas de minério de ferro;
as pedrinhas são carregadas por escavadeiras ou pás carregadeiras;
as escavadeiras e pás carregadeiras descarregam as pedrinhas nos caminhões ou nas rolantes esteiras;
os caminhões e as esteiras rolantes despejam as pedrinhas nos vagões de carga de um imenso trem de mais de duzentos vagões (aliás, esse trem de ferro é o único que mineiros vêem nos últimos cinqüenta anos!);
o trem de ferro de duzentos vagões viaja cerca de quinhentos quilômetros até chegar a um porto no litoral que Minas não tem;
neste porto marítimo mais próximo (*), no Espírito Santo – nosso querido Estado de férias e praia –, o trem entrega sua carga de pedrinhas pra grandes navios cargueiros graneleiros;
os grandes navios cargueiros minereilos navegam milhares de milhas náuticas até outros portos na Ásia, na Europa e até mesmo na América;
nestes portos, os navios negreiros, ops, digo minerioleiros, despejam as pedrinhas em outros trens estrangeiros;
os trens estrangeiros transportam as pedrinhas até grandes usinas siderúrgicas estrangeiras;
nestas usinas siderúrgicas as pedrinhas são cirurgicamente usinadas e transformadas em aço;
lá mesmo o aço é laminado e transformado em placas de todo e qualquer tipo, qualidade, espessura e envergadura.
as placas de aço são colocadas em outros trens ou caminhões;
estes trens e caminhões transportam as placas de aço até os portos estrangeiros e as entregam pra outros navios cargueiros;
os navios cargueiros de aço plaqueiros, ou seja os que transportam as placas de aço do estrangeiro, levam as placas de aço pra outros portos estrangeiros;
nestes outros portos elas são carregadas em outros trens ou caminhões os quais as transportam até às fábricas de coisas metálicas em geral, inclusive de auto-peças tais como chassis, motores e latarias de automóveis;
estas fábricas de coisas metálicas despacham (just in time) suas auto-peças, via trem, avião, navio ou caminhão, pras montadoras de veículos automotores ao redor do mundo (inclusive para aquela logo ali embaixo, a italiana, que eu consigo ver daqui do topo dessa montanha);
nas montadoras de veículos automotivos (mesmo sem motivos pra tantos autos) as auto-peças são montadas de forma a formar os tais veículos automotores, mais popularmente conhecidos como carros;
os carros são enviados pras estradas, pras ruas, pros campos e pras cidades;
e os carros (inclusive o meu, que eu vejo daqui, estacionado ali ao pé dessa montanha) vêm rodar, roncar, buzinar, poluir, atropelar e infernizar a vida da gente, bem aqui,
do lado de cá da montanha.
Maniqueistamente maluco e maquinalmente maquiavélico isso, né?!
As pedrinhas do lado de lá da montanha foram atiradas pro lado de cá da montanha e caíram aqui sob a forma de carros!
Saíram do lado de lá da montanha, rolaram, viajaram, por meio mundo, e vieram parar do lado de cá da montanha como veículos sob rodas!
Eu preferia que elas jamais tivessem que sair do lado de lá pra vir pro lado de cá da montanha. Acho que a montanha, e o planeta, também.
E a mixaria vergonhosa, escandalosa, escabrosa de royalties sobre o minério de ferro que a gente ganha! Nem mesmo toda a “maravilhosa” revisão fiscal – da qual, há tempos, não se vê sinal – que se promete há séculos, desde os tempos dos ingleses do “uai”, compensaria toda essa gigantesca, usurpadora e detonadora movimentação de montanhas de pedrinhas!
Toda moeda tem dois lados, certo? Errado! Pois os dois lados da minha montanha nos apresentam uma incrível, impossível, surreal, predatória e matreira moeda de um lado só! Uma que só tem o lado “deles”!
(*) Porto de Tubarão, em Vitória / Espírito Santo. É considerado o maior terminal de exportação de minério de ferro do mundo! Nome bastante apropriado porque é onde os insaciáveis tubarões da indústria siderúrgica mundial devoram o nosso minério de ferro!
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Sobre Cães e Lobos
Sobre Cães e Lobos
Hoje acordei ouvindo cães e imaginando lobos.
Pensando em raposas e vendo cachorros.
Sabendo serem cachorros e acreditando em/serem lobos.
Cães latem, lobos uivam.
Cães vivem às caras nas cidades, lobos se escondem nas matas.
Cães são mais descarados, lobos não gostam de dar as caras.
Parece que existe muito mais cachorro que lobo. Será?
Cachorros são mais vira-latas, lobos são mais refinados.
Cães gostam do dia, lobos preferem a noite.
Os cachorros se dão melhor em bandos e matilhas do que os lobos.
Cães são mais comunitários e sociáveis, lobos são mais individualistas e egoístas.
Cachorros têm sangue e pêlos mais vermelhos, lobos têm pêlos e sangue mais azuis.
Cães são bem domesticáveis, lobos nem tanto.
Mas, cães e lobos vêm do mesmo tronco genealógico.
Têm exatamente a mesma raiz genética.
Ambos são canis lúpus, ou, para os íntimos, canus.
(nos dão o cano?, nos fazem entrar pelos canos?)
Pra quem os olha de longe, eles parecem muito semelhantes, e vai ver, no fundo, são mesmo.
Quem os disseca e analisa detalhadamente jura que são diferentes, mas o são apenas em pequenos detalhes.
Cães e lobos caçam e devoram igual.
Se passa um belo frango, ambos o matam e comem.
Se deixar, acabam com a granja toda, inclusive com a galinha dos ovos de ouro!
Felizmente, mesmo que lobos e cães igualmente uivem e ladrem (do verbo ladrar!), a caravana sempre há de passar.
sexta-feira, 10 de abril de 2015
A última vez que vi o Cristo
A última vez que vi o Cristo
As obscuras e obstruidoras fôrmas quase em forma de cruz de madeirite para armação das colunas e vigas do sexto andar tinham acabado de ser erguidas e fixadas pelos operários da obra em frente ao prédio onde todo dia pro meu calvário eu subia, mais ou menos tal e qual quando os soldados romanos ergueram aquela tenebrosa e amaldiçoada cruz de madeira maciça no cume do maciço do Gólgota em Jerusalém por volta de dois mil anos atrás.
Mas, eu estava no Rio de Janeiro, meio por revolta, cerca de dois mil anos depois daquela famigerada e ignominiosa crucificação, no fim do meu trabalhista fogo em pleno Botafogo (que eu não botei nem ajudei a botar), bem no começo da rua General Polidoro, do lado esquerdo de quem sobe da praia em direção ao cemitério São João Batista (aquele mesmo, que batizou Jesus), no terceiro andar de um prédio de aproximadamente três andares, numa sala de frente pra rua, sentado à uma mesa próxima à janela, e com vista privilegiada de meio Cristo me olhando e me vigiando inteiro de frente – só meio Cristo porque eu só o via pela metade, da cintura pra cima.
Um flerte sublime, divino, arrebatador: o Cristo olhando pra mim, eu olhando pro Cristo. E apenas cerca de três quilômetros, em linha e visada direta, sem obstáculos nem intercessores, nos separavam, permitindo que em dias de céu celestialmente limpo, imaculado e puro eu pudesse ser agraciado, abençoado, por uma visão cristiana impecavelmente transparente, radiante, luminosa.
Mas esse contato visual celestial durou apenas uns seis meses. Pois é, esperamos, eu e Ele, dois mil anos por esses magníficos momentos de vista direta, cara a cara, olho no olho, sem intermediários de qualquer estirpe ou hierarquia, nem anjos ou arcanjos, nem padres, bispos ou papas, nem santos ou profetas, e o Pai dEle só nos concedeu essa graça por apenas uns poucos 180 dias – o que não chega nem a 1% do tempo de expectativa atual de vida de qualquer filho dEle nesse planeta.
Com o perdão da má, injuriosa e profana palavra, foi uma grande sacanagem, né?! Parece até que eles só estavam esperando eu sentar àquela mesa defronte aquela janela tão graciosamente panorâmica para começar a construir aquele maldito prédio bem em frente.
O que aconteceu naqueles memoráveis, misteriosos e insondáveis dias foi muito estranho, enigmático e premonitório: pelo ritmo da construção e seu cronograma da obra, que eu secretamente já havia traçado, era possível prever, semanas antes, o momento, o dia, exato em que tudo aconteceria, em que a grande e majestosa estátua do Cristo Redentor seria definitiva, inexorável e concretamente eclipsada por aquele mísero, insignificante e pecaminoso prédio plebeu – momento aquele que representava, para mim, sob o ponto de vista sentimental, emocional e espiritual, algo muito próximo da comoção geral que dominou os gentios quando ocorreu aquele eclipse total que se abateu sobre o Calvário no instante do último suspiro de Cristo.
Parei tudo que estava fazendo, minimizei o word, fechei todas as janelas, maximizei a atenção somente na janela em frente e fiquei só olhando pra cabeça do Cristo que ia sumindo atrás da última desgraçada placa de madeirite; e fiquei só pensando um pensamento fixo, obsessivo, maluco, recorrente e irremediável: Num segundo atrás Ele estava ali, agora já não o vejo mais! Nunca mais! Daqui dessa mesa, daqui dessa janela, daqui desse ponto desse mundo de deus, nunca mais!
Pois assim foi, dou fé que aconteceu e está agora registrado nas minhas escrituras: numa hora qualquer de uma ensolarada e calorenta tarde botafoguense (também alvi-negro que nem o Galo que sempre cantava nos momentos cruciais e crucificais da vida de Cristo!), num dia qualquer de Abril do ano 2000 dC (depois de Cristo, claro), aqueles inocentes, maltrapilhos e mal pagos operários de boa alma, bom coração e bom serviço ergueram os madeirames do sexto andar pregando-os com cravos de aço inoxidável à carne ainda mole e quente de concreto do prédio em frente – Pai, perdoai! eles não sabiam o quê faziam! –, e lá se foi a minha vista do Cristo! Mataram o meu Cristo!
(by Brumbe © 2015, from his “The last time I saw the Christ”)
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Sem Estação
Sem Estação,
nem mesmo uma boa FM musical.
(parodiando Milton Nascimento)
Quem dera na minha cidade houvesse uma estação
pra ver gente que vem e gente que vai,
gente que circula e se movimenta.
Na minha cidade não tem estação.
Só tem gente que fica,
gente empacada,
gente parada,
gente lenta.
Mas, talvez esta seja a grande e boa compensação
de se morar num lugar sem estação:
tem gente que ainda anda devagar,
gente que ainda vive e vê passar,
quadro a quadro,
todas as estações,
todas as quatro,
no mesmo lugar.
Se bem que pelo menos uma estação de rádio boa
deixaria a gente mais feliz e menos (ou mais!) à toa.
FICA, GUARANI FM, FICA !!!
PRA QUEM QUER COMPRÁ-LA:
FORA, FORA, VAI EMBORA !!!
PEGUE OUTRA, SÁI PRA LÁ !!!
ELA É MUITO BOA COMO ESTÁ !!!
(by Brumbe, parado num espaço-tempo sem estação,
onde jamais chega qualquer trem, nem mesmo um vagão,
onde nunca se sabe se é outono, inverno, primavera ou verão)
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Quando o amor vai embora
Quando o amor vai embora
Quando o amor vai embora, sempre deixa para trás…
garrafas e copos vazios, encima da mesa espalhados,
lençóis, colchas e travesseiros, sobre a cama embolados,
sapatos, meias e acessórios pelos cantos atirados,
camisas, calças, blusas e vestidos amarrotados,
cabelos molhados, despenteados e desarrumados,
manchas de vinho nas fronhas e nos lençóis,
manchas de batom no pescoço, na camisa e na cueca,
(mas, fiquem tranqüilos, nada mais aqui rima com eca!)
espalhadas pelo chão, pequenas embalagens quadradas,
sobre as cadeiras e os sofás, toalhas molhadas jogadas,
marcas de unhas na nuca, nas coxas e nas costas,
marcas de dentes nos braços, nos seios e nas nádegas,
música ainda ligada e luzes meio apagadas,
portas e janelas fechadas, pudores destravados,
cheiros e sabores de um na boca do outro,
texturas epidérmicas de um nos lábios do outro,
o suor dos dois na pele de ambos colados,
um homem e uma mulher vagando pela cidade,
uma estranha e inefável sensação de felicidade,
uma falta de chão e um céu cinzento chorão,
um calor que só esfria e não mais contagia,
uma tristeza, um vazio, uma saudade, uma nostalgia,
dois corpos entregues, dois seres desintegrados,
duas almas levitando, dois espíritos largados,
dois amantes se amando, apenas dois namorados,
livres, leves, soltos, pairando no ar,
dois apenas, que pena, a penar.
(by Brumbe, em algum momento entre 1997 e 2014, em homenagem à namorada do momento que não foi tão momentânea assim – ai de mim!)
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