quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Muro Deslocado


Muro Deslocado

Hoje ergui um muro de tijolo furado,
sem um pingo sequer de concreto desarmado,
usando apenas arame de aço cozido e temperado,
a guisa de viés e linha de arrematado,
para deixá-lo bem costurado, cintado e aprumado.

Muro dividindo um lado de outro lado:
de um lado, o asfalto desolado,
de outro lado, o mato fechado.
Muro onde não se pode ficar encostado,
sob risco de vê-lo caído, desabado.

Eu que sempre busco horizontes desmurados, desbloqueados,
ergui este muro, obrigado, indignado, sofrido, suado e calado.

Muro que me deixa separado
de certo panorama acalentado.
Que me deixa isolado, apartado,
de certo espaço ilimitado.
Num tempo limitado, confinado.

Eu que vi o de Berlim ser construído, envergonhado,
depois demolido, festejado, por um país unificado.
Ato encerrado, até por Pink Floyd encenado.

Pois hoje ergui um muro de tijolo furado,
sem um pingo sequer amado.
Não é abstrato nem figurado,
é concreto, real, está solidificado.
Mesmo sem concreto armado ou desarmado.

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