Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Estado de Obra
Estado de Obra
Vira e mexe, vez ou outra, de vez em quando, eu me vejo amarrado, emparedado, entijolado e concretado em algum tipo de obra, alguma nova construção, outro puxadinho, mais uma reforma. É o ap de uma filha, é o sítio da ex-sogra, é o escritório da outra filha, é a casa do cunhado, é minha própria casa, e por aí vai. Até que eu gosto muito disso, parece uma espécie de ranço, de encosto, de estigma, de atração subconsciente, uma alta missão espiritual transcendental ou mesmo pura e diabólica maldição, que carrego eternamente comigo como herança da minha antiga profissão: engenheiro – que nada mais é que um pedreiro, um marceneiro, um ferreiro, um carpinteiro, e outros tantos mais “eiros”, todos juntos.
Gosto sim, mas não pode ser mais que uma obra a cada cinco ou seis anos, por que em freqüência maior do que essa eu me sinto muito cansado e desestimulado, estressado por excesso de obra. E gosto principalmente dos trabalhos com madeira – são mais maleáveis, flexíveis e adaptáveis, ou seja, aceitam com mais facilidade mudanças, rearranjos e alterações, o que condiz melhor com meu atual estilo de vida e meus sagrados e universais princípios filosóficos, metafísicos e metas espirituais.
Dia desses, enquanto serrava aqui, martelava ali e lixava lá, me peguei pensando no quê poderia ser mais importante em qualquer obra. Qual material, ferramenta ou insumo seria mais importante em uma construção civil? O tijolo, o cimento, a areia? Sim, mas há outros. O martelo, a pá, o serrote? Talvez, mas nem tanto. O prego, o alicate, o parafuso? Pode ser. A escada, o andaime, a furadeira, o carrinho de mão, a marreta, o arame, a fita isolante, o metro, a fita métrica, a fita...
Pois é, quer saber? Acabei de descobrir ontem! Importante, fundamental, indispensável e essencial mesmo é a fita crepe! Isso mesmo, a Fita Crepe!
A fita crepe, sim, resolve tudo, ajuda em tudo, se aplica em tudo, em toda e qualquer situação, principalmente nas mais drásticas, dramáticas e perigosas. Nas situações e condições de limite extremo, aquelas totalmente fora das CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão), em que um obreiro tem que provar que é um obreiro de verdade, com O maiúsculo. Naqueles momentos em que você já fez de tudo, já apelou pra tudo e pra todos os santos, inclusive pra São José Carpinteiro, pra Mulher dele e pro Filho dele, e nada adiantou... lá vem a fitinha crepe pra resolver a situação!
Ela é mesmo pau-pra-toda-obra, ou melhor, fita-pra-qualquer-emenda. Emenda, remenda e não desemenda. Serve para marcar desde a posição onde vai ser levantada a parede nova até a presença da vidraça recém colocada, pra nenhum desavisado enfiar a cabeça. Marca e rotula toda a fiação da instalação elétrica. Desenha na parede a posição e o formato da nova janela, Veda todos os saquinhos de pregos e parafusos pra não ficar tudo misturado e esparramado. Serve de etiqueta pro quadro de aviso e até pra fazer lista de material. Prende provisoriamente no lugar certo toda e qualquer coisa até que a instalação definitiva possa ser feita. Marca as juntas e dobras das paredes pra servir de guia pro pintor. Isola as áreas onde o pintor, ou aquela tinta, não deve ir de jeito nenhum. Veda, isola e protege todo e qualquer ponto que tenha que ser vedado, isolado e protegido.
Nunca faça uma obra sem ter, no mínimo, meia dúzia de rolos de fita crepe à mão (três da fina, de 2 cm, e três da grossa, de 4 cm).
Viva a fita crepe! Eu não vivo sem fita crepe! Eu amo fita crepe! (Por ser engenheiro eletricista, eu sei que a fita isolante fica um pouco enciumada, mas fazer o quê? É a crepe que está sempre presente nos meus piores momentos)
A fita crepe é o meu verdadeiro pronto-socorro imediato, seguro, infalível, e é até mesmo a minha querida guarda salva-vidas.
Poucos anos atrás, andava eu sobre o meu telhado reformado, fazendo reparos de rotina antes das chuvas, quando, de repente, esbarrei a perna com tanta força na quina-viva de uma calha metálica que a quina dobrou e deixou um belo corte (cerca de 2,5 cm de comprimento por 0,5 cm de profundidade média) na minha coxa direita. O sangue brotou volumoso, caudaloso, forte, intenso, vermelhão, às enxurradas! Qualquer um que visse aquilo diria que eu deveria ir correndo pro hospital ou pro posto de saúde pra dar pontos. Eu também pensei isso.
Segurei firme a ferida, respirei fundo, desci a escada e fui procurar uma solução mais imediata pro problema. Saí procurando pela casa: Esparadrapo? Nada! Band-Aid? Nada! Gaze? Nada! Algodão? Sim, mas... mais nada! Até que me lembrei da minha salvadora fita crepe! Não vacilei: lavei o corte, passei álcool, rejuntei as duas margens de carne, e emendei fortemente com a fita, enrolando-a na coxa. Repeti o processo por três dias. Ao final do terceiro dia, a ferida estava totalmente curada e a cicatrização absolutamente saudável, completa e perfeita.
Bendita fita crepe!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário