Estrelas Caídas
(Falling Stars - reedição
de Seres Estelares)
Na aula inaugural
de Astro-Biologia Sistêmica, ou Sistemas de Biologia Astronômica, da 7ª. Série
do 3º. Ciclo, no ano de 2143, o professor apresentou aos alunos a seguinte
teoria, para discussão: Certas antiqüíssimas filosofias místico-espirituais do
oriente, inclusive o hinduísmo, o budismo e o zen-budismo, proclamam e
professam, há milênios, que não só a Terra, mas também o Sol, a Lua, as
estrelas, os cometas e todos os astros do cosmos, de todo o universo, são seres
vivos de fato. Não apenas simbólica, figurativa ou metaforicamente falando, mas
realmente vivos, sensíveis, ágeis, pensantes, atuantes e inteligentes, como
nós, seres de carne e osso, só que com outras composições bio-físico-materiais,
é claro.
E, mais que isso,
além de constituírem seres viventes individuais, eles se comunicam, se
relacionam, se influenciam, interagem entre si, formando verdadeiras
comunidades cósmicas, universais, inclusive estabelecendo hierarquias de poder
e comando entre eles. É dito, também, que a vida no nosso universo somente
ocorre e se manifesta plenamente, em sua expressão máxima, mais perfeita e
sublime, nesses níveis cósmicos, nas esferas astronômicas, e não no nosso nível
terreno, animal, humano – e que nós estaríamos aqui, vida após vida, em
constante processo de evolução, como seres espirituais, para um dia
ascendermos, transcendermos, desse nível mundano para aquele, universal.
Um dos alunos,
meio sarcástica e zombeteiramente, perguntou: Então, um dia, nós todos, nos
tornaremos estrelas?!
Isso mesmo! Há
tempos venho pensando que sim, afirmou o professor: se existem bilhões ou
trilhões de estrelas e planetas no universo e se também existem, muito
provavelmente, bilhões ou trilhões de seres viventes como nós nesse mesmo
universo, será que não há uma relação direta, biunívoca, uma real relação de
vida, entre esses dois tipos de seres, entre os seres como nós e esses seres
astronômicos, entre o microcosmo e o macrocosmo? Isso me lembra um famoso e
antigo ditado místico-religioso que diz que “assim como é em cima, é
embaixo”, ou vice-versa, completou o mestre. Como esse nosso universo é,
sábia e sabidamente, regido pelas dualidades, pelos pares, duplas, opostos ou
não, é perfeitamente plausível que os seres desse universo possam ter dois
tipos de vida: essa aqui, embaixo, e outra lá, em cima. Ou que essas vidas
possam se refletir, se manifestar e se incorporar sob duas formas concretas e
distintas: uma, aqui, no micro, e outra, lá, no macro. E, ainda, que as duas,
por meio de alguma forma ou canal misterioso, se relacionem, se comuniquem, se
influenciem e interajam entre si.
Visto que na
Terra, assim como em todo o nosso Universo, tudo está em constante
movimentação, expansão e evolução, essas duas formas de vida também assim
estariam. Desse modo, é bastante provável, e possível, que as formas de vida
micro estejam se desenvolvendo e evoluindo em direção aos seus respectivos
pares de formas de vida macro, para se tornarem iguais, ou, melhor ainda, para
se unificarem, no estágio final desse processo evolutivo, em uma só vida, num
único ser vivo. Outro modo, ou outro ponto de vista, que explicaria a mesma
coisa, seria o de definir o micro, o homem, como uma minúscula parte que,
temporária e periodicamente, se separaria do macro, o astro, e se incorporaria,
encarnaria, como outro ser individual, nos níveis de baixo, para viver e
cumprir certas etapas do processo evolutivo que somente seriam possíveis nos
mundos do microcosmo.
Apontando para o
telão, prosseguiu o professor: Partindo, agora, para uma linha de raciocínio um
pouco mais ousada e detalhada entre os dois cosmos, o micro e o macro, é
possível até tentar estabelecer uma relação e uma classificação hierarquizada
entre os seus respectivos habitantes ou entidades, conforme apresentado
resumidamente neste quadro.
No imenso monitor
tridimensional de PIHI (Plasma de Iridium-Hélio Ionizado) apareceu uma tabela
simples, com duas colunas e sete linhas – o que poderia ter sido projetado em
qualquer tela plana bidimensional, mas o professor não queria perder a
oportunidade de dramatizar e espetacularizar sua apresentação. O título de cada
uma das duas colunas era: MACRO e MICRO. Em cada uma das sete linhas da coluna
MACRO, estava escrito: Estrela; Planeta; Satélite; Cometa; Meteoro; Meteorito;
Poeira Cósmica. E em cada uma das sete linhas da coluna MICRO, correspondendo a
cada um dos sete elementos da coluna MACRO, estava escrito: Ser Inteligente
(homem e mulher); Elefante, Vaca, Cavalo, Tubarão, Baleia e similares; Leão,
Cachorro, Tigre, Gato, Golfinho e afins; Pássaros e Peixes de grande porte;
Pássaros e Peixes de pequeno porte; Mosquito, Borboleta, Abelha, Pernilongo,
Besouro e parentes; Vermes, Germes, Vírus e Bactérias em geral.
Prosseguiu o
professor: É muito instigante, e até preocupante, constatar que, segundo essa
teoria, assim como a poeira cósmica pode envolver uma estrela, e, seu baixo
corolário, como germes e bactérias podem viver sobre a pele do homem, outros
interessantes relacionamentos físicos ou orgânicos desse tipo podem ocorrer,
tal como, por exemplo, um ser inteligente, como o homem, que viva na crosta de
um planeta, como a Terra, estar vivendo, na verdade, sobre o correlato cósmico
do couro de uma vaca ou de um elefante – o ruim disso é que há um certo perigo
de a vaca ou o elefante acharem que esses vermes estão danificando os seus
belos couros, e resolverem eliminá-los, exterminá-los, de alguma forma.
Por outro lado,
completou, pode ser muito excitante e gratificante verificar que planetas,
satélites e cometas podem estar gravitando e girando em torno dos homens,
atraídos e magnetizados pelos parceiros cósmicos destes, as estrelas.
Finalmente,
talvez cada um de nós, homens e mulheres desse mundo, tenha a sua própria e
única estrela correlata, a sua parte cósmica, a sua estrela-guia, em algum
ponto do universo, nos guardando e nos aguardando.
Talvez formas de
expressão, bordões ou chavões tão comuns e corriqueiros como “ela é uma
grande estrela”, “ele tem estrela”, ”nasce uma estrela”, “virou uma estrelinha”,
ou “somos poeira das estrelas”, sejam muito mais profundos,
concretos, reais e verdadeiros do que jamais imaginamos.
O mestre encerrou
a aula concluindo: Valeria, enfim, reformular, e ao mesmo tempo responder
afirmativamente, a pergunta que o menino, ali, colocou no início: Então, um
dia, todos nós retornaremos para as estrelas, retornaremos como estrelas, nos
tornaremos estrelas.
A propósito,
sabiam que, de fato, toda a matéria do universo é composta, nada mais nada
menos, de poeira das estrelas? ("és pó, e ao pó
retornarás") Isso mesmo, as estrelas nascem, crescem e morrem como
qualquer um de nós e tudo no universo; e, ao morrer, explodem e se transformam
em simples poeira cósmica que, mais tarde, formarão novas estrelas, novos planetas,
novos seres, e assim por diante, num ciclo constante e infinito: poeira,
estrela, gente, poeira, gente, estrela, poeira...
Talvez você seja
Sirius, talvez ele ou ela seja Vega...
Deixe sua estrela
brilhar!
Robert Silvercore