ainda
ontem, já como parte do meu inabalável e irrevogável propósito de andar a toa,
sem rumo, pela cidade, eu estava perambulando lá pelos lados de las îlés
quando, de repente, me vi novamente com la notre-dame pela frente.
deu
vontade de entrar, mas as filas pra comprar ingresso continuavam
desanimadoramente quilométricas. mas, quando já ia embora, passando pela porta
principal, vi um grupo de pessoas entrando sem ingressos nas mãos. pensei logo:
só pode ser um grupo de “pré-pagos”, e, como eram todos senhores-de-cabelos-brancos-vestidos-de-preto,
que nem eu, resolvi arriscar e me imiscuí sorrateiramente no meio deles. deu
certo! (felizmente, lá dentro, ninguém confere nada! entrou, tá entrado!)
valeu
o risco! vista por dentro la notre-dame é ainda mais fascinante, deslumbrante,
fantástica! fiquei lá dentro quase umas duas horas, grande parte desse tempo
simplesmente sentado num banco, na nave central, olhando pra cima. Ah, como me
lembrei de Amadeu do Prado, no seu discurso, no Trem Noturno pra Lisboa!
“não
quero viver num mundo sem catedrais. preciso da sua beleza e da sua
transcendência. preciso delas contra a vulgaridade do mundo ... preciso do seu
esplendor ... preciso do seu silêncio imperioso ... quero escutar o som
oceânico dos órgãos ...”
só
não ouvi o som oceânico do órgão, mas, em compensação, ouvi algo tão precioso
quanto, e ao qual Amadeu não se referiu: o som sublime e angelical de um coral
gregoriano, só de mulheres. não dava pra ver onde elas estavam, mas o canto vinha
de um daqueles balcões superiores em frente ao gigantesco órgão, lá nas
alturas, no lugar perfeito. e deu pra notar também que era um mero ensaio
(talvez pras comemorações dos 850 anos da catedral, que parece que é mês que
vem) mas, que ensaio! de arrepiar! serenidade absoluta! a paz celestial! uma
hora ouvindo isso, naquele lugar, é para arrebatar qualquer um, em êxtase, para
os céus!
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