Aterrisou em minhas mãos e voou pelos meus olhos, neste Natal, um livro recém lançado intitulado “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” que, entre outras coisas real ou aparentemente incorretas da nossa história oficial, trata de alguns fatos alegadamente “incorretos” que podem muito bem estar perfeitamente corretos. Chamou-me especial atenção as suas considerações e ponderações a respeito da “invenção do avião”, tentando demonstrar taxativamente que tal mérito pertence aos americanos irmãos Wright e não ao brasileiro Alberto Santos Dumont.
Antes de mais nada, é sempre bom lembrar que existem duas coisas muito perigosas na História em geral – ou nos relatos e nos registros dos fatos históricos – as quais, na verdade, são duas faces da mesma moeda:
1º. É historicamente sabido que a História que geralmente prevalece é a “história” contada pelo vencedor, ou pelo dominador.
2º. Uma mentira muito repetida, muito bem armada ou muito bem forjada, costuma se tornar uma “verdade reconhecida”.
Dito isso, voltemos à questão do avião. Neste caso, paira no ar outra forte suspeita: porque será que essa história, defendendo os irmãos americanos e defenestrando o brasileiro, vem sendo mais insistentemente catapultada e lançada aos quatro ventos justamente agora, pouco mais de cem anos depois dos eventos, quando seguramente já não vive mais nenhuma testemunha presencial daqueles fatos?!
Tudo que se relata nesse livro sobre as máquinas e os vôos dos Wright pode estar absolutamente correto. Ah, mas como é fácil, para quem pode e quer, alterar uma simples data, por exemplo, de 1908 para 1903! Afinal, “eles” já não publicam, há décadas, livros escolares de geografia de 1º. Grau onde ensinam para as criancinhas americanas que a Amazônia é um território internacional controlado pela ONU?! Quem pode, pode! Manda e desmanda! Faz e acontece! Escreve o quê quer! Mas, nós e o resto do mundo somos obrigados a ler e engolir?!
Só pra refrescar a memória histórica, lembremos três recentes e clássicos exemplos de tentativa de manipulação e distorção da História, ainda mais graves, mais pesados e mais sufocantes do que o caso do “mais pesado que o ar”: o Holocausto, o extermínio de cerca de 6 milhões de judeus durante a 2ª. Guerra Mundial, que alguns políticos, e até historiadores, tentam dizer que não aconteceu! No auge do Império Soviético, em uma foto oficial do Partido Comunista a imagem de um dos altos dirigentes do governo foi simplesmente retirada, eliminada, deixando-se um espaço vazio em seu lugar! Parte da própria sociedade norte-americana insiste em difundir a idéia, inclusive através da imprensa, de que o homem jamais pisou na Lua! Ou seja, renegam um dos maiores feitos da sua própria gente e da sua tecnologia em todos os tempos!
Tudo isso é tão verdadeiro quanto o choro e as lágrimas do povo da Coréia do Norte face à recente da morte do seu líder ditador.
Evoluindo um pouco mais essa história no tempo, no espaço e nas proporções: o britânico George Orwell, no seu impressionante livro “1984” (escrito em 1948), além de criar a famosa figura do “Big Brother”, o “Grande Irmão”, criou outra coisa ainda mais sinistra, perturbadora e maléfica: dentre a faraônicas e paquidérmicas instituições governamentais do BB, havia um tal “Ministério da Verdade” – aliás, onde trabalhava Winston, o personagem principal – cujos funcionários, de altíssima confiança, tinham uma missão, ou “trabalho”, muito simples: reescrever e reeditar todas as notícias de todos os grandes jornais do mundo, do NYTimes ao Pravda, dos últimos 100 anos, segundo os interesses do Partido do BB (o mundo estava dividido em 3 ou 4 superpaíses, todos com governos facistas-totalitários, em constantes alianças e guerras entre si, onde a Eurásia, do citado BB, capital Londres, era um deles).
Apesar de essa última história ser, obviamente, pura obra de ficção, ela demonstra cabalmente como a “história real“ pode e, infelizmente, sempre poderá ser escrita de acordo com os interesses de quem está no poder.
Talvez a nossa salvação, ou melhor, a salvação da verdade para as gerações futuras, já esteja nas nossas próprias mãos, hoje: daqui a cem, duzentos ou mil anos, os arqueólogos poderão estar desencavando milhares, ou milhões, de maquininhas eletrônicas em cujas memórias estarão registradas histórias muito diferentes das que um maluco qualquer poderá estar querendo impor ao mundo.
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