Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
domingo, 21 de outubro de 2018
Luzia
Luzia
Lá vai Luzia, a mulher sem cabeça que por essas bandas se via. Ela mesma, a Luzia da Paleontologia, que há mais de 10.000 anos por aqui vivia, e morreu, ali pertinho, bem por detrás daqueles morros(*)
Pois é, a mulher que mudou, ou nos fez entender melhor, a história do povoamento e da própria civilização de todo o continente americano, teve seus restos mortais encontrados bem ali, a menos de 10 km da minha casa. Desconfio até que já vi seu ectoplasma decapitado vagando pelas beiras dessa lagoa e por esses matos afora, onde eu costumo também caminhar e vaguear.
Mulher forte, valente, predestinada! Enfrentou eras e eras de frio e de fogo, e "sobreviveu" para nos contar a nossa história! Ela já viu, inclusive, sua primeira casa, sua caverna, ser destruída por explosões de dinamite, pela ganância dos homens. E já, também, viu seu museu, sua última casa, ser abandonado e incendiado, pelo desprezo dos homens.
Pobre Luiza! Da última vez que a vi, meses atrás, ali na beira da lagoa seca, ela me parecia mais triste e desconsolada do que nunca, como se tivesse perdido a cabeça de vez, lá nos confins do mundo!
Ah, mas amanhã de manhã eu tenho que ir lá correndo para falar pra ela:
Não fique triste não, Luzia! Ontem acharam a sua cabeça de novo! (Meio queimada, esturricada, é verdade. Mas, tem problema não, ela já está muito acostumada com isso)
(*) Foto by Brumbe, da sua varanda: os restos mortais da antiga Lagoa do Sumidouro, no Parque Estadual do Sumidouro. Seguindo adiante, por trás dos morros, encontra-se Confins, inclusive o aeroporto (**) e a Lapa Vermelha (atual mina de calcário fornecedora das indústrias cimenteiras da região) onde morava Luzia.
(**) A propósito, se você costuma viajar de avião e passa por BH, fique sabendo que a caverna da Luzia era bem no final da pista, distante apenas 1 km da cabeceira noroeste: você passa exatamente por cima donde estava a cabeça dela!
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