Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
umbrella
an umbrella!!!
Andava eu pelo centro de Istambul num dia chuvoso, em junho passado, quando reparei que as pessoas estavam olhando pra mim de um jeito mais estranho que o normal - pois eu, como estranho que sempre sou, em terras estrangeiras sempre sou meio visto mais estranho ainda.
Até que notei que eles olhavam mais, e de modo meio assustado e até amedrontado, era para a minha mão, mais precisamente pro objeto que eu carregava na mão direita.
Começou a chuviscar e eu abri o objeto, e, então, eu é que achei estranho a repentina falta de interesse e até um certo alívio das pessoas.
Logo depois, entrei numa loja, fechei o objeto, e ouvi o rapaz da loja, que falava razoavelmente inglês, exclamar: "it is an umbrella!!" (é um guarda-chuva)
Incrível isso: tive que explicar de onde eu era e como conseguira aquele estranho guarda-chuva dobrável! Na Turquia não conhecem isto!
Só mais tarde, na segurança do meu quarto de hotel, é que conclui a razão do estranhamento e até do medo das pessoas: aquilo parecia uma arma! E num país com uma história recente tão cheia de atentados, revoluções e até guerras civis, este receio é, infelizmente, natural.
E vi como corri o risco de ser novamente detido por agentes da polícia local, no exterior!
(Lembrei dessa estória porque hoje o meu neto Francisco, 4 anos, também disse que isto parecia uma arma!)
domingo, 21 de outubro de 2018
Luzia
Luzia
Lá vai Luzia, a mulher sem cabeça que por essas bandas se via. Ela mesma, a Luzia da Paleontologia, que há mais de 10.000 anos por aqui vivia, e morreu, ali pertinho, bem por detrás daqueles morros(*)
Pois é, a mulher que mudou, ou nos fez entender melhor, a história do povoamento e da própria civilização de todo o continente americano, teve seus restos mortais encontrados bem ali, a menos de 10 km da minha casa. Desconfio até que já vi seu ectoplasma decapitado vagando pelas beiras dessa lagoa e por esses matos afora, onde eu costumo também caminhar e vaguear.
Mulher forte, valente, predestinada! Enfrentou eras e eras de frio e de fogo, e "sobreviveu" para nos contar a nossa história! Ela já viu, inclusive, sua primeira casa, sua caverna, ser destruída por explosões de dinamite, pela ganância dos homens. E já, também, viu seu museu, sua última casa, ser abandonado e incendiado, pelo desprezo dos homens.
Pobre Luiza! Da última vez que a vi, meses atrás, ali na beira da lagoa seca, ela me parecia mais triste e desconsolada do que nunca, como se tivesse perdido a cabeça de vez, lá nos confins do mundo!
Ah, mas amanhã de manhã eu tenho que ir lá correndo para falar pra ela:
Não fique triste não, Luzia! Ontem acharam a sua cabeça de novo! (Meio queimada, esturricada, é verdade. Mas, tem problema não, ela já está muito acostumada com isso)
(*) Foto by Brumbe, da sua varanda: os restos mortais da antiga Lagoa do Sumidouro, no Parque Estadual do Sumidouro. Seguindo adiante, por trás dos morros, encontra-se Confins, inclusive o aeroporto (**) e a Lapa Vermelha (atual mina de calcário fornecedora das indústrias cimenteiras da região) onde morava Luzia.
(**) A propósito, se você costuma viajar de avião e passa por BH, fique sabendo que a caverna da Luzia era bem no final da pista, distante apenas 1 km da cabeceira noroeste: você passa exatamente por cima donde estava a cabeça dela!
sábado, 13 de outubro de 2018
rosas brancas
Minha simples, humilde e discreta roseira branca,
plantada lá num canto esquecido do jardim
Fica o ano inteiro pelada, desrosada,
pouco ou nada tratada e cuidada
A gente vai e vem e passa,
e mal mal nota a sua presença
Mas, uma vez por ano, as suas lindas rosinhas brancas,
nos presenteiam com sua beleza, seu perfume e sua graça
plantada lá num canto esquecido do jardim
Fica o ano inteiro pelada, desrosada,
pouco ou nada tratada e cuidada
A gente vai e vem e passa,
e mal mal nota a sua presença
Mas, uma vez por ano, as suas lindas rosinhas brancas,
nos presenteiam com sua beleza, seu perfume e sua graça
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