quinta-feira, 30 de junho de 2016

Prumberto


Prumberto e a Alvenaria Poliédrica  
(breve crônica de um apelido)

Este Prumberto é só prum certo registro histórico incerto de uma antiga e infantil memória minha na nuvem - antes que a cabeça fique nublada de vez - do que, e como, aconteceu entre a terra e as nuvens, ou, mais precisamente, entre as pedras da alvenaria poliédrica(*) e as nuvens, da minha rua de nascença, nuns joguinhos de futebol de baixa reminiscência, as famosas "peladas", de crianças pouco ou nada calçadas.
É que, como em qualquer lugar do mundo, e entre quaisquer crianças de qualquer mundo, um menino jamais chama outro menino pelo nome verdadeiro, e sim por apelidos, os quais, invariavelmente, eles próprios inventam e se dão; apelidos estes que, também invariavelmente, não têm absolutamente nada a ver com os nomes reais dos alcunhados meninos - assim como a tal da Alvenaria Poliédrica que jamais é conhecida e chamada por este seu nome verdadeiro, e sim por seu apelido vulgar e popular, desses que se encontra em qualquer lugar - ver nota(*) de rodapé "de moleque".     
No meu caso, salvo engano ou já por parcial perda de memória (o que, inclusive, é a motivação maior deste registro), quem começou a invencionice nominal, ou apelidal, foi o Rodinho irmão do Sidinho, que, é claro, não levam esses nomes, pois, por serem mais velhos do que eu, já haviam sido devidamente apelidados antes de mim - eles são, respectiva e respeitosamente, os irmãos Rodney e Sidney, antigos e originais vizinhos da casa quase em frente, naquela tal rua de alvenaria poliédrica.
Como eu dizia, quem começou a coisa foi o meu grande amiguinho de infância, o Rodinho, e sucedeu-se, resumidamente, assim: começou com o simples, tradicional e convencional Roberto e foi evoluindo, ou regredindo, de berto em erto mais ou menos conforme a seguinte seqüência, tal e qual blocos de pedras de alvenaria poliédrica irregularmente montados:
Roberto, Ruberto, Rubeto, Poberto, Pobreto, Puberto, Pubeto, Proberto, Probeto, Pruberto, Prubeto, Prumberto, (não faço a menor idéia de como surgiu esse "m"), Prumbeto, Prumbe, (nem sei por que o B entrou no lugar do P), Brumberto, Brumbeto ... Brumbe.

(*) Alvenaria Poliédrica é o nome técnico-científico-rodoviário de um tipo de calçamento de rua, na pista de rolagem (ou rodagem), mais conhecido pelo apelido de "pé de moleque", formado por aquelas pedras basálticas irregulares e multiformes, de aproximadamente 6000 cm3, que costumam estar escondidas sob as camadas de asfalto, e que costumam arrebentar os pés da molecada nas "peladas".  

Foto: Alvenaria Poliédrica

terça-feira, 21 de junho de 2016

aroeira


da minha nova e inédita série
Momentos Instantâneos da Vida Cotidiana ou
Momentos Cotidianos da Vida Instantânea

Ainda bem que eu vi,
era um feliz bem-te-vi
livre, sem eira nem beira
no galho mais alto da aroeira
cantando e aproveitando
o calor do último sol
que lá vai se pondo

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Amores Cardinais


Amores Cardinais

Vez em quando, mais pras tardes, nas vesperais,
costumo baixar os olhos nos meus pontos cardeais
(nos quatro principais e nos quatro intersticiais)
e o coração, mais acostumado a questões cardinais,
(e até às puramente carnais)
não se desacostuma de baixar, se enveredar e divagar nos meus amores principais:
Sudeste, longe demais
Sul, bem perto e nada mais
Nordeste, de sonhos que não imaginais
Leste, que se afogou em mares de nunca mais
Noroeste, meros casos federais
Sudoeste, aquele que será jamais
Oeste, que espero pra logo mais
(são sete?! só espero que não sejam os pecados capitais!)
Amores locais, municipais, estaduais, nacionais e intercontinentais,
nada de mais
nada demais

Só aqui no PS notei que só faltou o Norte
Quem sabe, vem nos próximos carnavais
pra desnortear-me de vez, sem mais?

by Brumbe © june16

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Shiva


Shiva

um dia ainda irei pra Caxemira
sem passagem de volta
sem choro e sem medo
só com as roupas do corpo
pra queimar aos pés de Shiva

e, totalmente sem norte,
viajarei uma pouco mais pro sul
pra poder me banhar todo nu
nas nascentes do rio hindu

e, de lá, seguir qualquer direção,
preferencialmente aquela
que me leve, livre e leve,
ao encontro com ela
no ponto do planeta
onde o sol sempre esteja,
simultaneamente,
permanentemente,
perpendicularmente,
impossibilitadamente,
no nascente e no poente.

Xiva

one day I'll go to Kashmir
with no ticket to return
no tears and no fear
just clothes to burn
on the Shiva's feet

and, completely bewildered,
I'll travel south a little further
in order to bathe me all naked
at the sources of the hindu river

from there, any course following,
preferably, of course, that one
that guide me, light and free,
to be with her in meeting
at the place of the planet
where always is the sun king
simultaneously,
permanently,
perpendicularly,
impossibly,
rising and setting.

by Brumbe © 2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

de Lens a Gelsenkirchenbigburgendorf


Da série Infantes e Infames Neo Piadinhas Literalmente Pseudo Literárias
(talvez inspirada em, ou por, Dostoiévski, Nietzsche, Kafka, Carpeaux, Orwell, Huxley e Mazurkievski)

de Lens a Gelsenkirchenbigburgendorf
(versão revisada e reviajada)

Dois velhos amigos escritores, um francês, o outro alemão, em vias de assinarem novos altos contratos com os seus respectivos editores, viajavam juntos pela autovia Lens-Gelsenkirchenbigburgendorf. Um deles, o motorista alemão, se guiava por assumidas tendências Concretistas, enquanto o outro, o carona francês, apreciando a paisagem, se mostrava alegre e flagrantemente mais Abstracionista.
E lá iam eles via afora, na verdade, mas fora do que na via, conversando acalorada e exasperadamente sobre suas novas obras e suas preferências artísticas, inclusive literárias, quando, numa curva mais acentuada, por obra e arte da inaptidão, da divagação e da desorientação (escritores, via de regra, principalmente os sem regra de via, são péssimos motoristas) o motorista concretista perdeu o controle da direção e o carro foi violentamente arremessado contra o guard-rail, constituído de imensos e monolíticos blocos de concreto.
Graças aos cintos de segurança e aos air-bags, ambos saíram ilesos. Mas, ao saírem do carro, o carona, abstraindo-se de maiores broncas, advertiu o motorista:
– Lembre-se sempre, meu caro velho amigo e colega:
O concreto não é abstrato. Caso contrário, o contrato seria abjeto!

(by Brumbe © 2014 – all lefts reserved)