quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Nin di Passarin III


Nin di Passarin III (*)

Estava eu sossegada e tranquilamente me acomodando confortavelmente na minha cadeira de piscina à beira da piscina sob o avarandado que tenho ao lado da piscina onde eu nado, quando um desses passarin, bem pequititin e muito atrevedin, começou a voar, chiar e zoar insistente e chatamente ao meu redor. O danadin não me deixava curtir meu som nem um tiquin e, além disso, ficava se empoleirando, e fazendo cocozin, justamente encima das minhas caixas de som que ficam dependuradas ao lado da beira da piscina onde eu nado, sob o teto avarandado.
Eu já tinha pulado na tal piscina ao lado, e então só queria curtir um sonzão – um pinquifloidi, um rediroti, um iutiu, talvez uns bitãons ou uns rolinstão – na beira da piscina, mas o passarin continuou a me azucrinar por umas duas horas sem parar, empacado bem encima das caixas de som que tenho dependuradas sob o teto onde eu nado, à beira da piscina do avarandado.
E esse passarin me incomodou tanto que eu resolvi dar um jeito nele: ou o seu chiado ou o som do meu rádio. Tentei espantar o bichin com vassoura, rodo, toalha... e nada do passarin ir embora. Como ele era muito pequenin, que nem um insentin grande, tipo assim um bezourão pequenin ou bezourin grandão, tentei Detefon. Nada! Tão logo guardei o inseticida e voltei, lá estava ele de novo, o meu pequeno musicida, me perturbando no avarandado à beira da piscina onde nado até ficar cansado.
Por fim, descobri em qual recesso recôndito, ou buraco de telha, estava o ninho dele! Ah! Então pensei comigo mesmo, e até falei pra ele, em voz alta: Já descobri seu ninho e agora cê tá fudido! Vou tirar seu ninho daqui e quero ver se você vai ou não vai embora!
Mas quando eu já ia botando a mão no buraco de telha onde estava o ninho... putzgrila!!! vi uma coisa verde, tipo uma cordinha enrolada e com dois olhinhos (olhinhos!!!). Era uma cobrinha verde de metro e meio! – E ainda cheguei a pensar, nesse quase fatal interstício temporal de alguns microssegundos: na última festa que tivemos aqui, não me lembro de termos usado corda verde pra amarrar nada! – Era uma cobra mesmo!
E o coitadin do passarin tava esse tempo todo só querendo chamar a atenção de um animal maior, mais forte, um mamífero quadrúpede como eu, pra defender o seu pequeno e vulnerável ninhozin. Fiz um sinal de “ok” pra ele como quem bestamente diz "agora entendi" e acho que ele entendeu o sinal do jumento aqui.
Consegui assustar e desalojar a cobrinha, mas ela ficou lá dançando e ziguezagueando no madeirame das telhas coloniais, sob as palmeiras imperiais, do avarandado onde eu pulo e nado na piscina ao lado... Mas, o que ele, o passarin, queria mesmo (e eu vi isso nos seus olhos) era que eu matasse a cobra! – E nem precisava mostrar o pau, que, como será visto logo adiante, não era de madeira e, sim, de liga de alumínio galvanizado.
Pra matar a cobra urgentemente, peguei o primeiro instrumento que vi pela frente que pudesse servir como lança de ataque frontal e fatal anticobral. E como eu estava nas dependências da minha piscina (aquela onde eu nado e que fica bem ao lado do avarandado), era óbvio o quê de melhor eu acharia: o longo tubo ranhurado de alumínio galvanizado que serve de suporte pro aspirador de água que serve pra limpar o fundo da piscina pra que ela sirva pra gente nadar.
Peguei o tubo e aticei e cutuquei a cobra até ela cair no chão. No piso desimpedido, limpo e liso ficou fácil: foi só apertar a cabecinha da danada até esmagá-la e degolá-la – Joguei no mato, vai virar comida pra urubu e gavião, mas, comer ovin de passarin amigo meu é que não!
Detalhe final interessante e impressionante: durante toda a minha luta, de uns cinco longos minutos, pra derrubar a cobra no chão até matá-la, juro, o passarin ficou o tempo todo encima de uma mesa próxima (dentro do avarandado), só olhando atentamente a caçada e a execução do réptil, como que para se certificar de que ele realmente seria morto!
E ainda tem gente que não acredita na inteligência, na sensibilidade, na engenhosidade, etc, e no espírito e na alma dos bichinhos! – Mas, convenhamos, menos cobra, barata, pernilongo... esses realmente têm não!
Moral da história: Quando um passarinho cantar ou chiar insistentemente perto de você, talvez ele não esteja fazendo isso só para o seu, e/ou dele, bel prazer, por pura graça e beleza da natureza. Ele pode estar, simplesmente, te pedindo SOCORRO!!!

(*) Nin de Passarin I (na Bahia) e Nin di Passarin II (em Minas Gerais) foram postados em fev/2014 e jan/2015, cada um no seu devido e respectivo ninho.

domingo, 25 de outubro de 2015

Minha Velha Garagem


Minha Velha Garagem

E a minha velha garagem
tem nova folhagem
Saíram os carros e os motores
entraram plantas e flores
Troquei dois ou quatro motores roncando
por dezenas de passarinhos cantando
Acho que fiz bom negócio!
Tirei os novos oldmobiles
os 4.0 os 2.0 os 1.6 e os milles,
deixei os velhos buganvilles
Ao invés de cheiro de gasolina
tenho agora perfume de tangerina
Acho que fiz bom negócio!
Essa é a nova planta-alta
da minha antiga garagem
Agora é lugar de boa vadiagem
pra gente, gato e cachorro,
não mais pra carros estacionarem
Acho que fiz bom negócio!
A brita fina caleja os meus pés,
minhas mãos estão feridas
de tantos espinhos florais, demais,
e um sol inclemente já queima minha pele
como antes nunca senti, jamais!
(é que antes havia ali uma
cobertura, um toldo completo,
de uns multipolicarbonato,
que cobria carros e tudo mais)
Acho que fiz bom negócio!
Fui dar uma longa caminhada,
desci pela minha estrada
até a boca do sumidouro,
assumi os controles, os comandos,
do meu super Phantom W Hornet F18
Viajei bem pra bem longe,
pra nem mesmo sei pra onde,
até onde nenhum amor, antigo ou novo, poderia me acompanhar e, muito menos, me consolar, passei por Centauro e Orion, entrei inadvertidamente numa singularidade espaço-temporal einsteiniana, uma tipo cavidade antigravidade, somente transcendida graças a um salto quântico de providencial e pouca ocorrência probabilística que quase me levou a um colapso também quântico que não consegui quantificar por quantas não sei e voltei pra minha garagem.
Acho que fiz bom negócio!
Amanhã, quando eu aqui chegar,
tenho que me lembrar, bem lembrar,
do bom negócio que fiz,
que já está escrito a gesso e giz
(na paredinha da casa ao lado):
Aqui não é lugar de carro,
só de flores. Floris, flores, floris!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Janela Diamantina


Janela Diamantina

Na minha janela em Diamantina
um pedaço picado e recortado
do mar do norte de Minas
Mar... que pena!
no meio do caminho,
meio pra cima, pro lado,
tinha uma danada antena.

E foi numa diamantina janela
que um dia manti na janela
um diamante na janela
de amante só pra ela

E lembrei o que escrevi
da primeira vez que estive aqui:

Depois de uma vida inteira parado no meio do caminho (BH) e de uma década inteira morando no extremo sul (RJ), chego, enfim, ao extremo norte da minha Estrada Real: Diamantina!
Cai uma garoazinha fina, perfeitamente condizente com o clima, o astral, o traçado urbano e as formas arquitetônicas da cidade. Belíssima!
Já piso seus lajeados de pedra, já percorro seus becos e ladeiras, já admiro seu casario magnífico, já sinto seu ar carnavalesco, festeiro, congadeiro, pairando sobre as cabeças das pessoas.
Onde é que eu estava mesmo, quando tudo isso foi fundado e construído?!
Em São Tomé, Madeira, Lisboa ou Cascais? Agora já não importa mais.
Só vale sentir este chão, esta terra, este lugar. Pisar cada pedra, apenas pisar.
É como Ouro Preto: não se sente muito bem com simples turistas, pessoas passageiras, gente que vem e vai. É lugar para uma vida inteira, cidade boa pra gente nascer, viver e morrer.
Já vou indo. Na praça, já pega no violão, Juscelino. E Chica da Silva já atravessa a travessa, pra apreciar a seresta.

(esse post ficou que nem o Samba do Crioulo Doido(*):
"foi em Diamantina, onde nasceu JK, que a princesa Leopoldina arresolveu se casar, mas Chica da Silva tinha outros pretendentes e obrigou a princesa a se casar com Tiradentes, o bode que deu vou te contar...")

(*) de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

domingo, 4 de outubro de 2015

Arame


Arame

Pedaço de arame enrolado
no chão jogado
e por acaso achado
achado ao acaso
dentre os casos perdidos e achados
nos restos da festa de sábado passado
Sobre a mesa circular colocado
erguido e equilibrado
em três pontos
num triangulo sustentado
(suporte perfeito da física newtoniana,
que a física quântica igualmente equaciona)
Arame estrutural
virou peça escultural
ou mero fenômeno espacial
perfeitamente tridimensionado
por equilíbrio gravitacional
absolutamente normal?!
(nada transcendental,
coisa geoplanetariamente mundana
em qualquer galáxia espiral)


(Ah, tô voltando pras artes plásticas!
O Inhotim que me aguarde!)

Para ler e ver ouvindo:
Atom Heart Mother - Pink Floyd

Arranjos


Arranjos

Restos de dois casamentos?
Restos não, porque casamentos assim não restam,
seguem inteiros pela vida inteira!
Sobras de festas de casamentos?
Sobras também não, porque festas assim não sobram,
se derramam pelos tempos afora!
O quê sobrou? O quê restou?
O quê sobre a mesa ficou?
Apenas restos, sobras, dos arranjos de flores da festa dos casamentos!
Arranjos que sempre haveremos de arranjar, para outros casamentos celebrar.
Ou para estes dois lindos sempre lembrar e comemorar!

Parabéns para os dois casais dos casamentos
(minhas sobrinhas e, agora, sobrinhos):
Karyna e Mauricio & Fernanda e Markus
E também, claro, pros pais das noivas, minha irmã Celina e meu cunhado Marcos,
o único pai que já vi, até hoje, ter o privilégio de levar duas noivas ao altar, simultaneamente, uma de cada lado!