Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
sexta-feira, 28 de março de 2014
O Golpe de 1964
O Golpe de 1964
A melhor forma, mais eficiente, mais duradoura, para se paralisar, dominar e destruir um povo é amordaçar, sufocar e aniquilar a sua cultura, a sua educação, os seus costumes, num todo, a sua própria civilização – e os maiores líderes e estrategistas da história (de qualquer naipe: políticos, militares, sociais, religiosos, etc) sabiam perfeitamente disso há milênios.
A história “oficial” nos diz que o que aconteceu no Brasil há cinqüenta anos, no dia 31 de março de 1964, foi uma “revolução” para livrar o país das “garras do comunismo”. Mero, oportuno e conveniente pretexto, pura invencionice, balela, enganação. Mesmo que o governo civil, democraticamente eleito, da época realmente tivesse alguma, ou mesmo muita, tendência socialista, comunista ou “esquerdista”, aquilo não foi uma “revolução anti-comunista”.
Foi um golpe, um Golpe de Estado contra a Nação. E nem importa se foi um golpe militar, civil, religioso, nada disso. O que importa é que foi uma ação premeditada, muito bem orquestrada e eficazmente realizada contra a Civilização Brasileira, sua cultura, sua inteligência, sua educação, seus costumes, seus projetos, seus desejos, seus objetivos, seus anseios, seus sonhos, seu destino. Uma tragédia: o maior crime contra a Civilização Brasileira desde o ano de 1500 dC.
É claro que esse golpe objetivou, acima de tudo, atender os interesses econômicos e financeiros do mundo capitalista visando a manutenção, a solidificação e a escravização do mercado de consumo brasileiro e latino-americano para as “potencias econômicas” do ocidente – é como reza a tese geo-econômico-política estadunidense: para onde for o Brasil, vai toda a América Latina.
Não tenham dúvida de que o Brasil que se desenhava e se projetava a partir das décadas de 1950 e 1960 era realmente uma grande ameaça à hegemonia social, política, econômica e até mesmo militar, das “grandes potencias ocidentais”. Para elas, aquele Brasil poderia desequilibrar fortemente a balança geopolítica, socioeconômica e militar mundial “contra” elas.
Podem ter certeza, também, de que essas “potencias ocidentais” não estavam nem um pouco preocupadas se o Brasil, naquele momento, estava tomando um caminho à “esquerda”, à “direita”, ou qualquer outro caminho que seja, pois todo e qualquer caminho que o Brasil tomasse, por conta própria, por sua livre vontade, por seu livre arbítrio, era extremamente ameaçador, porque significaria que ele estaria de fato adquirindo ou praticando uma coisa muito natural e simples (em três palavras): Independência, Soberania e Poder!
Foi a aniquilação, a destruição, a extinção de uma nação, no sentido maior e mais importante que o conceito de Nação tem e merece ter. Foi o que tantas vezes já vimos acontecer na história da humanidade, quando os mais “fortes” querem neutralizar, dominar ou destruir os mais “fracos”.
Não por acaso, é óbvio, os donos das cabeças pensantes mais importantes e proeminentes da época foram perseguidos, caçados (cassados também), exilados, torturados, mutilados e até mortos. E, pelo menos qualitativa e proporcionalmente falando, no Brasil da década de 1960 havia muito mais gente pensando, mais gente estudando, mais educação, mais cultura, mais inteligência e muito mais gente com capacidade de avaliar e criticar as coisas do que no Brasil da década de 1970 pra cá.
Desde os anos 1970, o sistema escolar e educacional brasileiro vem se degradando, degringolando, piorando continuamente. Quem vê e acompanha a situação desde então, sabe muito bem disso independentemente do que dizem as avaliações e as estatísticas oficiais.
Se você entrasse numa escola universitária nos anos 1970 e perguntasse quem sabia quem era Jean Luc Godard, João Cabral de Melo Neto ou Giuseppe Verdi, certamente pelo menos 40% da turma saberia dizer.
Se você entrar numa faculdade superior, hoje, e perguntar quem sabe quem era Amácio Mazzaropi, Fernando Pessoa ou Chico Science, talvez nem 5% da turma saiba dizer.
Se você aplicasse nessas duas escolas uma mesma prova com apenas essas cinco questões: solucionar um sistema de equações do 1º. grau; conjugar o verbo Recomendar no futuro do pretérito; escrever o enunciado da 1ª. Lei da Termodinâmica; dizer qual é a capital do Canadá; e falar que foi o líder da Inconfidência Mineira; a turma de 1970 tiraria no mínimo nota 6, enquanto que a turma de 2014 talvez nem chegasse a 2.
Os resultados, as conseqüências sociais, políticas, econômicas, financeiras, educacionais, culturais, e até religiosas, do Golpe de 1964, são trágicos, vergonhosos, lastimáveis, e estão aí agora, na nossa cara, principalmente nas periferias das grandes cidades e no interiorzão do país - aparentemente salvaram-se apenas parte das classes A e B que sofreram, direta e literalmente, o golpe na cabeça.
Agregue-se a isso, fechando o quadro negro, a nossa maior desgraça nacional, que hoje impera principalmente nos gabinetes executivos públicos e privados, a qual, em última instancia, é fruto (podre) desse cinqüentenário estado educacional e cultural brasileiro: a corrupção desenfreada e generalizada.
Será que isso vem acontecendo por pura incompetência, omissão ou displicência nossa? Foi um terremoto, um tsunami, um cataclismo, um dilúvio que se abateu sobre a nossa terra? Ou não será que foi um “fato extraordinário”, uma “ação inesperada”, uma “força oculta” que se impôs?
E qual é a melhor forma de provocar essa tragédia de modo mais eficiente, e por longo prazo, se não aniquilando a inteligência, a educação, a cultura e, principalmente, a capacidade de avaliação crítica de um povo?
E como manter a dominação e a escravização mental e intelectual de um povo nos tempos atuais? Como, no século XX, poderia ser feita a inicialização e a manutenção dessa ignorância generalizada?
Vamos responder isso em duas etapas: a primeira falando da ação inicial, momentânea, que preparou, alimentou e deflagrou o Golpe, e a segunda explicando a ação permanente, duradoura, que manteve, solidificou e perpetuou o Golpe.
A primeira, como prova da montagem do Golpe, da intervenção e da própria ação de apropriação, vale citar apenas uma, mais objetiva e contundente: o uruguaio Eduardo Galeano, um dos maiores historiadores latino-americanos, no seu livro As Veias Abertas da América Latina, apresenta: “Na ocasião do golpe de Estado contra João Goulart, os Estados Unidos tinham no Brasil a sua maior embaixada no mundo. Lincoln Gordon, o embaixador, treze anos depois reconheceu para um jornalista que, já tempos antes do golpe, seu governo vinha financiando as forças que se opunham às reformas (Reformas de Base do Governo Goulart). ‘Que diabo’, disse Gordon, ‘isto era mais ou menos um hábito naquele período (...) a CIA estava acostumada a dispor de fundos políticos’. Na mesma entrevista, Gordon explicou que, nos dias do golpe, o Pentágono enviou um porta-aviões e quatro navios-tanques às costas brasileiras, ‘para o caso de as forças anti-Goulart necessitarem de ajuda’. Esta ajuda, esclareceu, ‘não seria apenas moral. Nós daríamos apoio logístico, abastecimento, munições e petróleo’. [Revista Veja, No. 444, de 09 de Março de 1977).
Para a segunda, infelizmente não achei as provas, pois como é de costume na história da humanidade quando a “história” que vale é aquela contada pelos “vencedores”, parece que tais provas já foram por demais escondidas, camufladas, maquiadas ou simplesmente extintas, apagadas, deletadas.
(Portanto, não posso falar sobre isso. Mas lanço a questão, repetindo: Como manter a dominação e a escravização mental e intelectual de um povo nos tempos atuais? Como, no século XX, poderia ser feita a inicialização e a manutenção dessa ignorância generalizada? Isso eu mesmo respondo, é muito simples: como um bom, eficiente, abrangente e monopolista meio de comunicação (TV, por exemplo) que faça constante e maciçamente a propaganda, a divulgação massacrante, dos interesses políticos, sociais e econômicos do dominador. Agora, para você responder: Você conhece alguma grande rede de comunicação brasileira que se expandiu espantosamente rápido, através de negociações, aquisições e associações um tanto obscuras e suspeitas, exatamente a partir de 1965, e que se encaixa perfeitamente como sendo o “meio” acima descrito? Pois uma das provas “apagadas”, da qual me lembro, se referia a um certo “presentinho”, “de grego”, dado pelo governo estadunidense ao Brasil, via ABC (American Broadcasting Company) e/ou Grupo Time-Life, como retribuição e agradecimento pelo sucesso do Golpe).
Muita gente diz hoje em dia, e eu concordo muito, mas parcialmente, que para desenvolvermos a nação e o país, dependemos somente de nós mesmos, principalmente privilegiando e incrementando, e muito, a Educação do povo (isto é claro: um povo ignorante é muito mais facilmente dominado). Concordo plenamente que a Educação é a chave-mestra para a soberania, o desenvolvimento e a independência de um povo, Só receio (daí a minha concordância parcial) que isso vá demandar muito mais tempo do que pensamos (décadas, talvez mais que um século), porque o golpe de 1964 feriu de forma pontual, cirúrgica e profunda exatamente isso: a nossa Educação e a nossa Cultura – investimentos que requerem longo prazo para dar resultados.
O Golpe de 1964 nos presenteou ainda, com grande e trágica ironia, como efeito colateral perverso, retardado (retardado mesmo, em todos os sentidos), o advento do Lula e sua Turma, agora nos anos 2000, pois “eles” são um subproduto, uma conseqüência indireta (ou direta mesmo), de 1964 – assim como o povo que os elege.
Se a cultura e a civilização brasileira, inclusive sua democracia, tivessem seguido seu curso de evolução natural nesses últimos cinqüenta anos, sem nefastas e danosas interferências externas do tipo desse golpe, dificilmente teríamos Lulas no Brasil de hoje, e muito menos antes.
Em outras palavras: numa Civilização Brasileira como a que deveria ter se desenvolvido após os anos 1960, seria muito difícil o surgimento de lideranças sócio-políticas com o perfil do Lula, simplesmente porque não teriam a quem liderar (a não ser que o Lula tivesse curso superior, pós-graduação, doutorado ou mestrado e larga experiência política anterior em outros cargos executivos públicos – mas, no caso, a sua capacidade e poder de liderança estariam na mesma medida, proporção e peso da capacidade de avaliação e crítica dos seus liderados, que, certamente, não seriam apenas operários; haveria médicos, engenheiros, veterinários, físicos, arquitetos, matemáticos, psicólogos, sociólogos, psicanalistas, advogados, juízes, músicos, artistas, industriais, comerciantes, professores, publicitários, estudantes ...)
Se não tivesse ocorrido o Golpe de 1964, talvez até passássemos por algum tipo de experiência política esquerdista, socialista ou até mesmo comunista – o que poderia ter sido bastante salutar para os músculos, os nervos, o cérebro e a alma da nossa democracia. Quantas grandes, fortes e seculares democracias do mundo, principalmente européias, já não passaram por isso e sobreviveram, se mantiveram, ainda melhor e mais sólidas?! Porém, esse direito pleno e inalienável nos foi descarada, covarde e criminosamente roubado no dia 31/03 daquele ano.
Mas, caso a tivéssemos, com certeza essa experiência teria causas, motivações e conseqüências completamente diferentes das desses insanos, irreais e utópicos Lulismos e Chavismos que tentam se alastrar por aí. Teria sido uma experiência melhor ou pior? Impossível dizer. Mas, o simples fato de poder ter a oportunidade e a liberdade de experimentar qualquer tipo de modelo ou regime político já é, em si, algo tremendamente positivo.
Pra finalizar à moda brasileira, de um jeitinho um pouco mais relaxado, irônico e engraçado: Sabiam que os militares resolveram aplicar o golpe no dia 31/03 só pra não cair no 1º. de Abril, Dia da Mentira?! Verdade! E que nos Estados Unidos da América esse mesmo dia, o 1º. de Abril, é o Fool’s Day deles, mas que tem um significado ligeiramente diferente do nosso: Dia dos Bobos?! Pois é, e até deveríamos ter traduzido e abrasileirado isso melhor: o Fool’s Day deles seria o nosso Fudei!
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