Médicos Vai-e-Volta
(uma
breve crônica medicinal)
Tem
uma coisa que me deixou bastante encafifado, grilado, ensimesmado mesmo, enquanto
fazia os meus exames médicos periódicos, os tais check-ups gerais, nessas duas
últimas semanas.
É
que, como raramente vou a médicos, reparei (e me deparei ou derrapei) num
quadro médico generalizado muito interessante, preocupante e sintomático –
ainda que eu ainda não saiba exatamente sintoma de quê (*):
Os
médicos de hoje em dia não sabem resolver, ou diagnosticar, as questões mais simples
e salutares em uma única, suficiente e saudável consulta médica.
A
gente vai, e sempre tem que voltar pelo menos uma segunda vez! É sempre esse
vai-e-volta danado!
Fui
ao oftalmologista pra ver as córneas, e tive que voltar pra olhar as retinas.
Fui
ao cardiologista pra, claro, mostrar o coração, e tive que voltar pra exercitar
o pulmão e o resto da respiração.
Fui
ao laboratório pra tirar sangue, e tive que voltar – neste caso,
justificadamente – pra pegar os resultados.
Fui
ao proctologista pra me submeter ao exame de toque de próstata, e.... ah, bom,
ainda bem que pra isso não tive que voltar! Pelamordedeus, né?! Já pensou ter
que sofrer mais de uma penetração dedal via anal no espaço-tempo de apenas um ânus,
digo, um ano?! Aí já seria, literalmente, muita sacanagem!
E
não sei por que, no exato momento deste besta e desconcertante exame, mesmo na anômala
e esquisita posição de quadrúpede em que me encontrava, me peguei a pensar,
certamente pra mudar de focus, que o médico ideal para esta especialidade talvez
fosse melhor um cubano, um curitibano, um curupira, um cuiabano, um curumim, um
cubatense... ou um kuderquistanês.
Pois é, nesse constante vai-e-volta, de médico em
médico, é naturalmente inevitável que ocorram conflitos de agenda ou
sobreposições de datas e horários: foi quando o segundo oftalmologista me
propôs marcar a sua segunda consulta pro mesmo dia e hora da consulta que eu
tinha já marcado com o proctologista. Então, pensei lá comigo, mas não ousei
falar com ele, pela simples falta de intimidade médico-paciente: Bela,
interessante e irreCUsável proposta! Uma proposta nada indecente! Ele quer que
eu examine os olhos da cara ao invés do olho do CUmpadre!
Em
tempo: todos os meus exames deram resultado positivo (positivo na inequívoca acepção
positiva da palavra Bom, de coisa boa, é claro!), principalmente os mais
importantes, o do coração, o anti-HIV e o de próstata.
(*)
Mas DESCONFIO que isso se deve a dois fatores principais que, aliados, se
reforçam permanentemente: 1) o crescimento constante das “especializações” e “sub-especializações”
médicas (movimento traiçoeiramente contrário à boa e saudável visão holística,
integralizada, do mundo e da vida!), que faz com que o que era feito por apenas
um médico passe a ser executado por dois ou mais, e, 2) a baixa remuneração que
os médicos recebem do INSS e dos Planos de Saúde, que incentiva-os a marcar desnecessárias
consultas consecutivas – o que poderia perfeitamente ser avaliado em apenas uma
consulta é realizado em duas ou mais.
Exemplo
real, onde estas duas coisas PODEM ter ocorrido: Um médico avaliou uma certa coisa
na parte da frente, outro médico, em outra consulta, avaliou a mesma coisa na
parte de trás. O primeiro concluiu sua parte, mas o segundo pediu que eu voltasse
pra fazer “um exame mais profundo”. Nesse exame confirmou-se a necessidade de
uma pequena e corriqueira intervenção para corrigir uma pequena anomalia, que,
segundo o próprio segundo, poderia ser feita ali mesmo, rapidamente, no
consultório. Mas ele não tinha, naquele momento, o aparelho necessário pra
isso. O segundo médico, então, me encaminhou a um terceiro para realizar o tal procedimento.
Ainda não fui ao terceiro. Será que vai aparecer um quarto?! (se sim, espero
que não seja um quarto de hospital!)
Aos
pacientes resta manter a paciência!
Aliás,
pra finalizar, tenho uma sugestão para os jovens médicos que queiram adquirir
experiência profissional e ficar rico, rapidamente, nas grandes capitais
(aqueles que não querem, não podem ou se sentem impedidos de, ir pra Amazônia,
pro Nordeste, pro interiorzão ou pras periferias): Montem clínicas exclusivas
para check-ups gerais que façam tudo, todos os exames, dos pés à cabeça, num
único dia! Sugiro até alguns nomes, bonitos, chamativos, americanizados: Clínica
One-Way, Clínica Non-Stop, Clínica GOBO (Go-One, Back-One, ou seja, Uma Ida,
Uma Volta).
Funcionariam
mais ou menos assim: a pessoa entra, de jejum, às 6hs da manhã, faz todos os
exames laboratoriais, toma um bom café da manhã, faz uma batelada de exames,
almoça, faz outra bateria, e só sai à tardinha ou à noite, com TUDO feito.
Exceção apenas para os resultados, que poderiam ser entregues em outro dia. Poderiam
até mesmo criar um “pacote executivo”, um “Super-Fast”, em que tudo seria feito
numa única manhã!
Claro
que as situações médicas excepcionais, que fujam às condições normais de
temperatura (ambiental e corporal), pressão (atmosférica e arterial), batimento
cardíaco, fluidez sanguínea vascular, estado psíquico e psicológico, funcionamento
dos sistemas nervosos central e periférico, articulações motoras, flexibilidade
muscular, integridade óssea, humor nas salas de espera, adaptação às refeições,
relacionamento com as recepcionistas, receptividade a outros relacionamentos, inclusive
com outros pacientes devido aos longos períodos de convivência em grupo, etc, seriam
tratadas à parte, em outras idas e voltas.
Tudo
bem, o paciente VAI num dia, faz TODOS os exames, e VOLTA em outro dia, pra
pegar TODOS os resultados. Mas, pelo menos, esse fatídico e irritante ciclo de
Vai-e-Volta ocorreria uma única vez! E por falar em ocorreria, ou correria, a
procura por este tipo de serviço teria imensa ocorrência, pois ocorreria,
serviria, interessaria a todas as pessoas que vivem sujeitas à correria das
cidades grandes, isto é, todo mundo.
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