sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Uma catedral numa bolha de sabão

Uma visão atordoante, estonteante, deslumbrante!
Sua grandiosidade e majestade, sua suntuosidade e sacralidade não se encaixam muito bem em palavras e textos. Essas sete inócuas e ridículas designações que usei até agora, tentando classificar essa obra, dizem o quê?! Nada! Uma descrição condizente e fidedigna, minimamente útil e honrosa, jamais caberá numa folha de papel, numa tela de notebook , ou mesmo numa foto ou num vídeo. Somente a experiência direta, frente a frente, cara a cara, corpo a corpo, espírito a espírito, é capaz de significar alguma coisa.
De qualquer forma vamos lá, vamos tentar falar alguma “coisa” sobre “isso”, a experiência de uma breve visita al Temple Expiatori de La Sagrada Família.
Mas, em primeiro lugar, eu preciso dizer que hoje – tinha que ser hoje – aconteceram as duas coisas inevitáveis, inexoráveis, que sempre ocorrerem em todas as minhas viagens. Primeiro: encontrar um bando de brasileiros, geralmente adolescentes (dessa vez eram sete paulistinhas tagarelando tão alto dentro do metrô que não deu vontade nenhuma de falar com eles), e, segundo: ser parado na rua para dar informação (dessa vez, foi um barcelonês querendo saber... bem, como ele só falava catalão e eu só português ou inglês, infelizmente não nos entendemos). E, claro, essas duas coisas tinham que acontecer a caminho de La Sagrada Família, a rota mais congestionada da cidade em qualquer dia, a qualquer hora, seja via metrô, bus, trem, helicóptero, cavalo ou a pé.
Voltando à catedral: na praça em frente tinha um sujeito fazendo daquelas bolhas de sabão gigantes que a gente vê nos parques de diversão. E os bolhões de sabão, esvoaçando pela praça, estavam literalmente roubando a cena, pode?! Uma insana competição por atenção, entre uma gigantesca catedral e uma mísera bolha de sabão! Uma enormidade de pedra, ferro e concreto contra uma microscópica película de água. Pode?! Mas, pensando bem, nesse caso específico, pode sim! Muito bem que pode sim! Simplesmente porque, observando bem, nota-se que as tortuosas e arredondadas formas arquitetônicas do Gaudi têm muito a ver com a sinuosidade e a maleabilidade das bolhas de sabão (espero que os meus professores de estudos de formas arquitetônicas, da FAU-UFRJ, jamais leiam isso, senão eles vão querer me trucidar!)
De repente – ou o cara fez isso de propósito mesmo –, uma enorme bolha pairou e tremulou no ar, numa altura e num tempo suficientes, para que toda a catedral parecesse inserida, contida, dentro da bolha – que nem aquelas miniaturas de navios que a gente vê dentro de garrafas. E quem, como eu, teve a sorte e o privilégio de estar do lado certo da bolha, de frente pra catedral, pôde testemunhar essa leve, sutil e fugaz magia: uma catedral balançando e dançando dentro de uma bolha de sabão (e juro que eu não bebi, nem fumei, nem ingeri nenhum alucinógeno, antes ou durante essa minha visita à La Sagrada Família). Mas a bolha logo estourou e a portentosa catedral ressurgiu muito bem plantada e alicerçada no chão da praça.
Por outro lado, é até muito bom que haja bolhas de sabão pairando sobre aquela praça, pois para que seja possível ver, admirar e absorver um pouco de todo o esplendor da catedral são necessárias algumas horas, se não dias, de contemplação. E ficar vidrado nela assim pode ser meio perigoso. É bom se distrair com bolhas de sabão pra quebrar um pouco a atenção (e a tensão).
Outra coisa que chama bastante a atenção, além do contraste entre as torres do lado nordeste (mais antigas) e as do lado sudoeste (mais novas), são as estruturas com ferragens expostas (ferros de espera) nas colunas e paredões do lado sudeste, que certamente estão ali esperando novas torres. O único lado supostamente não torrificado, ou não torrificável (não confundir com terrificado, nem terrificável), parece ser somente o lado noroeste. Aqui, vale citar que os eixos principais do monumento estão deslocados 45º em relação às coordenadas geográficas N,S,E,W e, por isso, os seus quatro lados, ou faces, principais estão virados para NE,SE,NW,SW. 
E por falar em torrificar, que lembra mesmo terrificar, o que chama mais a atenção no contraste entre as torres NE e as torres SW é que enquanto as do SW são mais claras, limpas e luminosas, as do NE são mais escuras, apagadas e mortiças. As SW são mais “leves” e as NE são mais “pesadas”. A energia que emana das SW é francamente positiva, e a que vem das NE é carregadamente negativa. É claro que as pedras das do lado NE são mais escuras porque são mais antigas, porque já sofreram mais a ação das tais intempéries. Mas, não é só isso, há mesmo algo de sinistro, tenebroso e temeroso naquelas torres. Mas .... deixa isso pra lá.
E o que é no mínimo curioso, pra não dizer espantoso, é que quando eu estava no lado SW o tempo estava claro, havia sol e fazia calor, e quando, minutos depois, eu fui pro lado NE o tempo fechou, começou a chuviscar e até a fazer frio! (vide fotos). Mas ... deixa isso também pra lá. 
Algo também muito bonito de ver é a dança dos imensos guindastes por cima das torres. São quatro, e eles vão e vem, circulando constantemente, carregando material para as obras. Pois é, o magnífico Templo Expiatório da Sagrada Família, de Antoní Guadi, está em obras até hoje. Começou a ser construído em 1883 e ainda não acabou. E estão prevendo sua conclusão para daqui a 25 ou 30 anos! Acho que os catalães estão com sérios problemas de material, mão-de-obra ou grana. É a crise econômica que assola a Europa!



no lado "claro" da catedral


no lado "escuro" da catedral


a bolha de sabão que engoliu a catedral
 

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