
Meu caso com as minhas dez casas
Em dias como esse, em que me dedico à inauguração de mais uma casa nova – cuidando das infra-estruturas, especialmente instalações elétricas, que tornarão mais uma casa habitável, casas como esse novo ap da Mainha e do Bê, onde estou trabalhando agora –, costumo sentir alguma coisa bastante rara e especial, algo de alto nível sentimental, um sentido de prazer e satisfação difíceis de explicar.
Talvez seja apenas um vício, uma mania, um estranho desvio sensorial-comportamental, ou um Transtorno Obsessivo Compulsivo (referente a propriedades imobiliárias) dos mais graves e perigosos. Mas, para mim, isso é extraordinário, mágico, sublime, algo que transcende os sentimentos terrenos normais.
É o prazer e a satisfação de trabalhar com coisas que, apesar de tão corriqueiras e prosaicas – como a instalação de uma janela ou colocação de uma porta –, certamente terão uma grande durabilidade ou permanência ao longo de um extenso período de tempo, talvez por várias vidas, por muitas gerações. E é nesse ponto que literalmente reside o prazer e a satisfação disso: pensar no conforto das pessoas e das vidas que usufruirão desse trabalho. Que certamente eu não esteja fazendo nada disso apenas em benefício próprio, mas para as pessoas que convivem ou conviverão comigo nesse lugar, e para as que virão muito depois de nós.
Observar, sentir, absorver e permutar as energias de uma nova casa. Uma casa nova que agora está profundamente vazia, solenemente quieta e silenciosa, mas que, logo logo, estará plenamente cheia de gente, movimento, vida, carinho, aconchego, felicidade e amor.
Há ainda aquela muito familiar e agradável sensação de pertencimento recíproco: ao mesmo tempo e na mesma medida em que a casa me pertence, também sou pertencido por ela, sou parte dela, propriedade dela. Na verdade, pensando bem, quando digo que uma casa “me pertence”, já estou implícita e simultaneamente falando dessa dualidade: a casa pertence a mim, e eu a ela!
É muito incrível e até meio doido isso: como é que trabalhos aparentemente tão simples e rudes como colocar luminária, instalar um chuveiro, pintar uma porta, assentar uma janela, montar um armário, ou envernizar um madeirame, podem provocar tais sentimentos tão puros, profundos e elevados?!
É a engenharia e o engenheiro flagrados em ação no seu jamais suspeitável lado oposto e contraditório: a sua capacidade de ter algum tipo de sentimento por pedras e tijolos, pelas paredes e muros que ergue, pelas colunas e vigas que monta, ou pelas portas e janelas que abre. A sua habilidade de passar dos cálculos, dos pesos e das medidas para tais sagradas e sublimes alucinações oníricas desmedidas.
Senti, e ainda sinto, isso inexoravelmente em cada recomeço, em cada novo princípio, em cada nova casa que morei, especialmente nos primeiros dias, nos dias de preparação, de montagem, de arrumação, da casa nova.
Provavelmente tais sensações e emoções sejam simplesmente apenas reflexos – como o reflexo na foto da casa do sítio, acima – das benesses e das divinas graças do reinício, do recomeçar, de uma nova vida e de um mundo novo, de novos horizontes e novas perspectivas, novos trabalhos e novos afazeres, novas energias e novos amores.
Por isso resolvi escrever essa breve crônica, não somente para efetuar o registro, mas, principalmente, para prestar uma homenagem às minhas dez casas (pela ordem cronológica em que nelas morei): Rua Silva Jardim, Floresta, BH – Rua Santíssima Trindade, Sagrada Família, BH – Estradinha do João Ladeira, Lagoa Santa – Rua Elizeu Dias Coelho, Cidade Nova, BH – Rancho Souza Fonseca, Lago do Cajurú, Cláudio – Rua Prudente de Morais, Ipanema, Rio – Rua Barão da Torre, Ipanema, Rio – Av. Bartolomeu Mitre, Leblon, Rio – Sítio Dona Luiza, Quinta do Sumidouro, Pedro Leopoldo – e a mais recente: Rua Tereza Mota Valadares, Buritis, BH (novo ap M&B).
Vale ressaltar que esta lista poderá ainda receber, no mínimo, mais três ou quatro novos endereços: do ap da Aninha, do ap da Da. Maira (isso mesmo, porque casa de ex-mulher costuma dar muito mais trabalho do que a própria casa do ex!), e um ap novo meu mesmo... em BH ou no Rio, in London or New York, em Quintana Roo ou Bangladesh... depende dos humores do mercado imobiliário do local pretendido e da minha pouco provável boa sorte junto às loterias federais brasileiras.
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