Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
a mala
uma mala apavorada
Quando estive em Jerusalém, agorinha em junho passado, na Jerusalém de Cristo, Maomé, Moisés, Arafat e Oz, vi um belo banner ou cartaz de Amós Oz falando de paz, paz entre israelenses e palestinos, claro. E fiquei pensando: quem dera que o Oz fosse o tal mágico e pudesse nos agraciar com essa fantástica e linda magia, a paz (ficaria muito bonito até como manchete de jornal: A Paz de Oz!) Mas, logo me veio aquele sempre triste, desalentador e realista pensamento: coitado, nem que ele fosse o Mágico de Oz ele conseguiria tal incrivel magia. Daí, não sei porque, talvez inspirado pelos ares de Jerusalém, comecei a pensar em Arca da Aliança, Arca de Noé e coisas arcaicas desse tipo. Foi quando me lembrei da mala! Aquela apavorante mala quase abandonada! Acontecera poucos dias antes, logo que pisei em Israel, ainda no aeroporto. Imaginem a cena: 6 da manhã, aeroporto totalmente vazio, eu esperando até 8h pra pegar o primeiro bus pro hotel, sento pra dormir um pouco. De repente, numa cadeira próxima, chega uma senhora, uns 75 anos, bem apressadinha e aparentemente muito nervosa, com uma mala e uma bolsa Abre mala, abre bolsa, troca coisas da mala pra bolsa, e vice-versa, tudo muito rápido, fecha bolsa, fecha mala, pega a bolsa, e vai embora correndo... e deixa a mala pra trás! Imaginem de novo: 7 da manhã, eu sentado numa cadeira no Aeroporto Ben-Gurion, em Israel, com uma mala abandonada quatro cadeiras à minha esquerda! Eu e a mala, a mala e eu, só e abandonados! No principal aeroporto de Israel! Claro que fiquei simplesmente apavorado! Levantei e fui atrás da dona, lógico: lá ia ela correndo pelo imenso corredor dos check-in, quando a vi parar num deles lá no final. Felizmente, quando eu já ia cheguando perto vi que ela, naquele exato momento, se assustou, olhou pro chão, não viu a mala e saiu correndo de volta, e nem me viu. Voltei também, para me assossegar de que ela pegaria mesmo a mala. Ela pegou a mala, voltou pro check-in, e eu voltei a me sentar sossegadamente pra esperar o bus das 8h chegar. Depois de novamente acomodado na cadeira, já meio novamente sonolento, é que vi que havia uma câmera de vigilância direcionada bem para aquelas cadeiras, bem encima de mim, como, claro, há em todo bom aeroporto. E dormi pensando no que pensariam os agentes de segurança israelenses quando vissem aquela cena...
foto by Brumbe: aeroporto Ben-Gurion, Israel
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