domingo, 28 de junho de 2015

Praças de Braga a Praga


Praças de Braga a Praga

Na torre lateral, o ancestral relógio orloj
aponta o caminho das estrelas, ainda hoje.
E indica o ziguezague da lua no zodíaco,
e o rastro do sol do oriente
parabolando pro ocidente.
Mas, há algo estranho, esquisito,
algo astronomicamente recorrente,
um vai e vem cíclico, maníaco.

É que toda a história da civilização ocidental,
do dito mundo moderno atual,
começou e há de terminar,
e talvez recomeçar,
por sorte ou desgraça
inexorável, fatal,
em alguma praça
de Braga
a Praga.
(uma tcheca, outra em Portugal)

E em cada sombra de árvore,
em cada banco ao sol,
em cada gramado,
em cada escada escalada,
em cada recanto isolado e esquecido,
há o desejo e a possibilidade da parada,
do repouso, da quietude e do simples ficar,
que levam às templárias naves temporárias,
onde se pode embarcar
para os nebulosos e vaporosos
passados milenares do lugar.

Já subindo degrau por degrau, platô após platô,
se alcança, finalmente, imensos patamares
de onde é possível vislumbrar, ao largo,
as bruxuleantes caravelas portuguesas
que já navegaram naqueles longínquos mares.
(só não é possível dizer se são as mesmas)

Mas, é nas mesinhas dos cafés da praça
que a gente sempre senta pra tomar uns chopes
de duas horas e meia antes do almoço.
Mera desculpa, ardil, estratagema,
para saborear a graça
do vai e vem da moça.
(aquela do Theoremma)

Porém, na casa da rainha, sua flâmula, a Union Jack,
flameja seu blue’n’red e flutua on the Windback.
But, as they Sold the England by the Pound,
there is no glory, no victory, no proud,
e todo dia milhares de pessoas vagueiam insanas
ao vento gelado que sopra do oeste
no grande largo das rainhas anglicanas.

Dizem que há um terrível vaticínio
inscrito a ferro e fogo nas pedras
das catacumbas subterrâneas
no meio da praça do Vaticano.
Inescapável Lei Pétrea?!

E da arcada do meio veio um grito e um chiado,
não sei se de gente ou de bicho mateiro.
Algo agourento? Talvez apenas um miado.
Mas, não há com o quê se preocupar,
pois o desesperado fim do mundo
ainda demanda três séculos e meio
para, enfim, chegar.

sábado, 13 de junho de 2015

Insomnia


Insomnia

From the beginnings
Across the crossings
By the pillowwings
Until the finishings

Insônia

Dos iniciandos
Através das travessias
Pelos travesseiros alados
Até os terminandos

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Embarque


Embarque

Na sala de embarque de Heathrow
não há quem queira embarcar
nem de navio, trem ou avião.
Ninguém quer ir, todos querem ficar.
E da parede ao fundo vem uma canção,
aquela do Pink Floyd in The Wall:
Goodbye cruel world
I’m leaving you today
Goddbye
Goodbye
Goodbye

segunda-feira, 1 de junho de 2015

London in the brain


London In The Brain

Back to my city, again,
under sun, moon, stars, fog or rain,
there are allucinated desires to forever remain.
But, I know very well, it is totally insane.
It's like to drive on a strange and dangerous lane
always looking at an unknown pane.
To take a train to travel to Maine,
or a boat to sail to Suriname,
or a bike to ride to Xerem.
Misfortune without name.
By fortune, from here I carry one gain:
I never go away the same.

(photo: in the Big Ben)


Londres No Cérebro

De volta à minha cidade, novamente,
sob sol, lua, estrelas, névoa ou chuva,
há desejos alucinados de ficar para sempre.
Mas, eu sei muito bem, isto é loucura total.
É como dirigir numa estrada estranha e perigosa
sempre olhando para um altidor desconhecido.
É como pegar um trem pro Maine,
ou um barco pro Suriname,
ou uma bicicleta pra Xerem.
Infortúnio sem nome.
Por sorte, daqui levo um ganho:
Eu nunca vou embora o mesmo.

Caçador de cidades estrangeiras


Caçador de cidades estrangeiras

Tornei-me um caçador de cidades estrangeiras
Mas, caçador pelo simples prazer de degustar a caça
sentindo seus aromas e sabores
Pois, não as devoro inteiras
Deixo grande parte para outros predadores
Neste safari, já abati Braga em Portugal, nada mal.
Agora, enfim, chegou a vez da irlandesa Dublin
As próximas são antigas, já abatidas, são refeições repetidas.
Mas, sempre valem novas boas mordidas

(foto oficial pro meu mural:
Trinity College, minha universidade irlandesa)