Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
Aonde ia?!
Aonde ia?!
Como é que não percebia?
Há tempos eu não via
Nem sequer ouvia
Marina ou Maria
Luiza ou Luzia
Soraia ou Sofia
E assim não sorria
Mal sabia o dia do dia
Tal um zumbi que dormia
E por isso nada compreendia
Dos maus caminhos o que seguia
E como bêbado e cego andarilho vivia
Danado como um cão em beira de rodovia
Como jamais entendia minha vã e falsa filosofia!
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
O chão do lugar
O chão do lugar
Há de estar de pés nus, descalços, pra pisar
e realmente sentir, tocar e achar o chão do lugar
sua terra úmida, seca, estorricada ou esfarelada
sua areia quente, dura, fofa, molhada ou gelada
seu cimento áspero, suas lajotas lisas ou relevadas
suas pedrinhas de mosaico à moda portuguesa
com desenhos e texturas de certa incerteza
(também suas armadilhas, buracos, pedras e cacos)
Há de sentir, também, o vento na cara, o sol na pele,
a chuva, os cheiros, os odores, o barulho, as cores
com olhos, mente e espírito abertos a qualquer visão
Mas, não. Hoje só quero os meus pés neste chão
pra sentir essa energia, sua vibração, sua pulsação
(nem quero ver o céu, nem o dois-irmãos,
nem praia, ilhas e maravilhas, nem este marzão)
E em plena manhã de terça-feira de meio de Maio,
deixei as sandálias em casa e saí pra rua, sem atalho
(pela sombra, é claro, porque ao sol
este chão ainda está a setenta graus)
Desci a Bartolomeu,
atravessei a Ataulfo e a San Martin,
e vaguei ao longo da Moreira Delfim
(como o sol já marcava quase onze,
tomei uma água de coco no Doze)
Entrei na Espínola, virei na Dias Ferreira, dobrei na Guilhermina,
me perdi na Artigas, soçobrei na Venâncio, naufraguei na Urquiza
emergi na Carlos Góis, boiei na Linhares e levantei na João Lira
(pra curtir mais e prolongar o nonsense
parei pra tomar um chope no Bracarense)
Quase fui até o Canal, mas retornei pela General principal
atravessei a Quental e cheguei no meu atual quintal
cruzei a Paiva, sobrevivi na esquina (sem raiva!)
e voltei pela Bartolomeu
(nenhum pé doeu)
Hoje o Leblon é meu
Não, o Leblon não é meu
Este chão, sim, me pegou
O Leblon me ganhou
(Leblon / Posto 11,5 / Outono de 2003)
(foto by Brumbe: Praça Antero de Quental, Leblon, Rio)
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Alma Ampla
Alma Ampla
(parodiando Fernando Pessoa, em:
“Se a alma não é pequena, tudo vale a pena”)
Se a alma é ancha
o amor tem cancha
e não se desmancha
nem se fecha em concha
Sai pro mar, sai pra amar, se lança
Equilibra-se, navega e deslancha
apenas sobre uma prancha
Se a alma é mansa,
o amor tem casa,
descansa,
acasala
Se a alma é mesmo ampla,
o amor, seu templo encontra,
venera, reverencia e contempla
Entra e canta seu sublime mantra
Se a alma tem graça,
o amor tem orgulho
do seu lar, sua praça,
seu melhor e seguro refúgio,
sua proteção, sua inviolável couraça
Mas, se a alma não é ampla,
então, o tal do amor
não se suplanta,
e só faz dor
Pois o amor é isto (não sei o que você acha):
Na crista da onda, uma destrambelhada prancha
sem um surfista que a controle na manha, na mansa
Uma prancha aos solavancos, em cambalhota,
sem um surfista que a domine, na maciota
(By Brumbe/Wide Soul/Leblon/Posto 12,5/Outono 2006)
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