quarta-feira, 28 de maio de 2014

O Eletrocardiograma do Mundo


O Eletrocardiograma do Mundo

Num congresso internacional de telecomunicações que assisti no final do século passado, um dos palestrantes apresentou este gráfico, que representa, de forma bem resumida, mas bastante real, o comportamento do tráfego mundial de telecomunicações (telefonia, dados, tv, rádio e internet), em totais anuais, ao longo do tempo – ele apresentou um período de apenas dez anos (1988 a 1998), mas essa forma de onda se repetia igualmente nas décadas anteriores, e, certamente, se repete até hoje.
Observa-se claramente que os anos pares apresentam picos ou aumentos significativos de volume de tráfego, e esses picos ocorrem justamente em meados do ano (meses de junho e julho).
E o que é que acontece no mundo exatamente nesses anos e meses?!
É óbvio que são as Copas do Mundo e as Olimpíadas, que, alternadamente, se repetem a cada quatro anos, e mexem com todo o planeta – na verdade, os picos dos anos de Copa são um pouco mais elevados do que os dos anos de Olimpíadas, mas isso não vem ao caso.
O caso é que desde então, em todos os anos pares, ou seja, ano sim, ano não, quando vai chegando junho, eu não consigo deixar de pensar naquele simples gráfico cartesiano e na sua bela forma de onda cíclica, periódica, quase senoidal.
É claro que o meu colega engenheiro apresentou isso motivado por alguma questão essencialmente técnica, tais como: segurança de rede, interligação de sistemas, integração de redes nacionais e internacionais, maior utilização de cabos ópticos nas interligações, investimento setoriais e globais para incremento das redes, o que esperar (ou não esperar) do Governo Lula nos investimentos, ou coisa que o valha.
Mas eu, engenheiro um tanto quanto renegado, desvirtuado e alucinado, vi naquele gráfico algo muito além dessas políticas de investimentos, dessas técnicas avançadas e dessas estratégias tecnológicas.
O que vi ali foi o Eletrocardiograma do Mundo, de um coração planetário que pulsa mais forte a cada dois anos, com freqüência cardíaca à razão, ao ritmo, de um pulso anual, com picos de onda máximos a cada dois anos.

(Mais uma vez, estou a ver poesia na engenharia,
com essa interpretação poética de coisa tão hermética?!
Pois é, isso é que dá um engenheiro eletricista
cismar em querer ser humanista,
ousar se ligar em ciências humanas:
Troca osciloscópios por microscópios,
e ao invés de ver meros gráficos elétricos,
em simples e retas linhas cartesianas,
começa a enxergar eletrocardiogramas,
e acabará registrando neurônios como espectros
em seu próprio e derradeiro eletroencefalograma)

Um mundo em que a cada dois anos todo mundo se liga, se conecta, esportivamente, em torno dos mesmos interesses, simplesmente por pura diversão, por lazer e nada mais, pra nada mais fazer. Por bem da verdade, por algo mais: competição, vitória, títulos e troféus (e glória e grana).
Mas, em que pese haver nesse espírito competitivo ainda um pouco, ou muito, da alma do animal guerreiro e predador que ainda somos, as Copas e as Olimpíadas têm, pelo menos, o mérito de tentar aglutinar e canalizar esse nosso instinto belicoso para fins mais pacíficos e nobres, por meio de instrumentos bem mais sadios e benéficos do que flechas, machados, lanças, espadas, fuzis, metralhadoras e bombas.
Apesar, também, de toda essa exagerada e perniciosa exploração política, comercial e econômica a que estes eventos estão sujeitos, ajude o coração do mundo a bater cada vez mais forte, curta a Copa, viva a Copa, torça pro Brasil, pra Nigéria, pra Itália, pro Irã, pro Japão ou pro país que você bem quiser (menos pra Argh...tina!).
Outros bilhões de pessoas estarão fazendo isso pelo mundo afora ao mesmo tempo em que você também estará!

Nenhum comentário:

Postar um comentário