Alguém irremediavelmente viciado em escritas e estrelas, projetando palavras interiores em espaços exteriores.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Umbutu
UMBUTU
(algumas considerações, no facebook, sobre Nelson Mandela)
Roberto Correa post em 05/12/13
Umbutu é uma expressão em Zulu (África do Sul) que tem um significado muito rico e de difícil tradução. Pode ser entendida como uma combinação e uma síntese de Gentileza, Espírito Humanitário, Delicadeza, Atenção, Humildade, Compaixão e Bondade.
É considerado o modo fundamental de como o povo Zulu encara a vida.
Algumas tentativas de tradução e interpretação, encontradas no Google:
“O homem não é uma ilha, ele é o que é por causa dos outros” ou “Eu sou porque você é” ou “A humanidade dos outros é muito mais importante do que a minha”.
Umbutu!
Quem gostava muito de dizer isso era o Nelson Mandela.
Quem dera os políticos brasileiros soubessem o que isso significa, quem dera!
Neste fim de ano, e ao longo de todos os próximos anos:
Umbutu pra você!
Umbutu pra todos nós!
Pepeu Sorrentino post em 07/12/13
Agora eu vou causar.....direitosos, podem me xingar, eu mereço....mas leiam (Mauro Panzera) pra ficarem com bastante raiva....
Mauro Panzera post em 07/12/13
Nelson Mandela desrespeitou as leis de seu país. Ajudou a promover saques. Participou de ataques a lojas que destruíram patrimônio de terceiros. Viajou com documento falso, provavelmente levando dinheiro escondido em cuecas e de origem não explicável legalmente. Ele usou nome falso. Foi um subversivo da pesada. Por iss...o foi preso, num julgamento monitorado por toda a mídia. Ele entrou nas listas de terrorista da Inglaterra e dos EUA.
Enquanto ficou preso, sua vida era uma espécie de Big Brother e seus crimes eram explicados para a população pela mídia livre. Depois que se elegeu presidente, mostrou que não aprendeu nada com a prisão. Teve vários membros de seu círculo próximo acusados de corrupção e outros delitos. Ainda assim, Mandela, na maior cara de pau, promoveu políticas de distribuição de renda, tirou recursos dos ricos para os pobres. Resolveu alinhar a África do Sul num tal de BRICS para tentar subverter a ordem econômica mundial.
Não se iluda, se fosse brasileiro, Mandela estava na Papuda.
Roberto Correa comentou em 07/12/13:
Prezado Mauro Panzera. Tudo que vc disse sobre o Mandela eu já sabia, e acho que isso pode render belas, extensas e exaustivas discussões sócio-político-ideológicas, que eu prefiro tratar numa quente mesa de boteco do que numa fria tela de computador (e que fique bem claro que isso é um problema meu, porque eu só consigo discutir Política, Futebol e Religião, bebendo, e muito! – se algum dia desses eu tiver o prazer da sua companhia numa mesa de bar, quem sabe?)
Mas, eu não sabia uma coisa que vc disse, justamente a última, e que achei muito interessante: o Mandela tentou “subverter a ordem econômica mundial” a favor, ou através, dos BRICS. Então, lembrando que o B dessa sigla é o Brasil, eu pergunto: Se o Mandela tivesse conseguido efetuar mais essa “subversão”, isso não teria sido ótimo para a economia brasileira e para nós brasileiros?!
Pepeu Sorrentino comentou em 08/12/13:
Roberto Correa você teria imenso prazer de bebericar umas cervejinhas com meu camarada Mauro Panzera...mas uma coisa me chamou a atenção nesse post, pelo menos da minha humilde e mal intencionada participação: cadê os direitóides? Ninguém nem se atreve a comentar....Mandela, assim como todos os líderes de esquerda admirados pela cultura pop, são um grande enigma, para os modernetes com camiseta do Che Guevara...que lo chupen, e que sigan chupando, como diria um grande ídolo da esquerda: argentino, simpatizante de Chaves e Fidel e igualmente polêmico....
Mauro Panzera comentou em 08/12/13:
Caro Roberto Correa, como diz o grande Pepeu Sorrentino, teremos prazer em molhar a garganta juntos um dia. Reparou que todas as "críticas" ao Mandela são tão positivas quanto a q vc exemplificou? O texto é uma mera ironia escrita em Dialeto Coxinha...sejamos subversivos, como Mandela. Me deve um cerveja...abs
Roberto Correa comentou em 09/12/13:
Prezados Pepeu e Mauro, que bom que vcs concordam que essa conversa somente pode ser possível, saudável e produtiva se regada a muita cerveja (mas eu vou preferir whisky ou vinho). É que, para mim, cada um dos pontos citados pelo Mauro devem, e merecem, ser tratados com a mesma intensidade que estamos dedicando a este ponto (o do BRICS). Numa mesa de boteco tudo flui de forma incrivelmente mais fácil, lúcida, rápida e conclusiva. Já pensou: cada um dos tópicos que o Mauro levantou pode gerar uma ou mais crônicas, e tudo junto pode compor um ou mais livros! E eu não pretendo postar ou publicar nada disso, só quero uma boa conversa com pessoas que saibam conversar sobre isso.
Mas, antes que os copos sejam colocados na mesa e as garrafas sejam abertas, quero adiantar rapidamente apenas duas questões:
Sou de uma geração que viveu um pouco mais de perto (e sofreu na carne, inclusive) os conflitos sócio-político-ideológicos que aconteceram na América Latina nos anos 1960 e 70. Creio que o meu conhecimento, ainda que pouco, e a minha visão e interpretação dessa parte da nossa história, são bem diferentes dos desses meninos que usam camiseta com estampa do Che (aliás, não tenho e nem quero ter uma, prefiro uma dos Beatles ou do Led Zeppelin). Assim como não compartilho de forma alguma com o pensamento e os “ideais” dos Chaves, dos Lulas e dos Morales, que andam por aí: seus mentores simplesmente não entendem o que seja uma real Democracia Socialista, ou Socialismo Democrático, que possa perfeitamente conviver com o Capitalismo, e vice-versa, como duas boas faces da mesma moeda. Ou então, o que é pior e mais preocupante ainda, desvirtuaram tudo isso em proveito próprio, da sua “turma”, ou a favor de outro “sistema”. Para mim, e para muita gente boa que eu conheço, o real Socialismo e o real Capitalismo têm concepções, ideais e propósitos muito superiores aos que são hoje praticados pelos sistemas sócio-político-econômicos vigentes (acho que nem mesmo o pessoal que fez a Revolução Russa de 1917 entendeu, ou quis por em prática, isso). E mais: se o Guevara ou o Lamarca estivesse vivo e se comportando como os seus antigos “camaradas”, teriam, por mim, a mesma reputação daqueles: estaria agindo numa puta ação, por pura putação!
Quanto à pergunta que fiz, no final do meu comentário anterior, eu mesmo respondo: Se o Mandela tivesse obtido sucesso na sua tentativa de “subverter a ordem econômica mundial”, através e, logicamente, a favor do BRICS, é óbvio que isso seria tremendamente benéfico não só para a África do Sul como também para todos os outros quatro países integrantes desse (natimorto) bloco; pois, no mínimo, isto deveria representar alguma mudança nas atuais regras e condições do comércio mundial que tornassem mais justas e equilibradas as relações (balanças) comerciais para o lado dos países “emergentes” e mais pobres. Todos nós sabemos que há séculos a tal “ordem econômica mundial”, via OMC e outros organismos internacionais de “regulação, fiscalização e controle”, é ditada somente pelos países mais ricos que, obviamente, regulam, fiscalizam e controlam somente a seu favor. Querer mexer na “ordem econômica mundial” estabelecida é procurar encrenca brava, pura insanidade, é batalha perdida. É querer pegar a chave-mestra, bulir com a menina dos olhos, tomar a própria alma, do sistema econômico financeiro do capitalismo instituído. Coitado do Mandela! Nem que ele fosse neto do Ghandi, pai do Obama, cunhado da Thatcher, afilhado do Lênin e descendente direto de Cristo, Buda ou Maomé, ele jamais conseguiria fazer isso para o BRICS!
(A propósito, nunca concordei que esse C fosse da China. Acho que ela já é grandinha demais pra caber nesse grupinho. Que tal dar esse C pra Colômbia, pra uma das Coréias ou pra Cingapura? Ou então mudar a sigla pra BRISA, que além de bem mais apropriada e atualizada – Brasil, Rússia, Índia e South Africa – refletiria bem melhor o espírito e a importância do bloco: um ventinho que passa...)
Estou achando ótima essa nossa conversa, ela pode nos levar a muitas outras boas conversas, mas realmente pretendo continuá-la somente numa mesa de boteco.
Que abram as garrafas!!! Que desçam os copos!!!
Pepeu Sorrentino likes this em 10/12/13.
domingo, 1 de dezembro de 2013
O Sorriso do Corvo
O SORRISO DO CORVO
da série Ensaios Húngaros (Hungarian Essays)
Ele estava lendo um belo, longo, quente, saboroso e muito interessante livro (927 páginas, letras em arabic typesetting, tipo 8, capa dura, papel pólen soft reciclado). Era um desses que prendem tanto a atenção da gente que a gente não consegue se livrar facilmente deles antes do fim; antes que o fim, enfim, chegue e a história acabe, ou que nós mesmos nos acabemos de tanto ler no meio da história, antes do fim. Ele não estava de pé na porta, e muito menos com o pé na porta, o que pouco importa. Já estava confortavelmente sentado com pés livres de botas, lendo e esperando pelo cozido que estava sendo cozido na cozinha, o qual provinha de uma gaiola, onde estivera anteriormente engaiolado antes de ser degolado.
E tal tipo de comida, se antes, em vida, estava presa numa gaiola, só poderia ser alguma espécie de pássaro. Um bom galináceo, uma pomba, uma codorna, uma perdiz – quem sabe, quem diz? E o bicho, dentro da panela, não tinha nenhum pé, muito menos dois ou quatro – o que era muito bom, pois êle detestava comer pés de aves, assim como jamais comia mamíferos alados – e, principal e exatamente, talvez por isso mesmo, a tal ave depenada (e de pé nada) lhe parecia muito boa.
Mas, como ele era muito desconfiado e sempre suspeitava de aves que êle próprio não havia caçado – o que era o caso daquela, que ganhara de presente, sabe-se lá de quem..., – ele retirou seu capuz, ou melhor, sua carapuça, e correndo feito uma mula, a trote, quase a galope, pegou um forte anzol seguro numa argola e, antes que a filósofa coruja crocitasse, foi pra beira do rio tentar pegar ao menos uma boa traíra (uma que jamais trairia seu paladar), para o caso de uma necessária, emergencial, e nem tanto eventual, mudança repentina de cardápio.
Mais tarde, horas depois, ele foi visto nas redondezas, como um doido e com um vago olhar fixo, vidrado, muito estranho, dando uma longa volta antes de voltar pra casa. É que, na verdade, ele estava muito contrariado e envergonhado por estar com as mãos vazias, de peixes e anzóis. Isso jamais houvera acontecido antes e ele não conseguia entender se os havia perdido, ou distraidamente deixado na beira do rio, no frigorífico, na feira-livre, ou em casa mesmo.
Tudo isso parecia ser absolutamente normal e lógico. Mas, por mais que parecesse, não era. Não, absoluta e absurdamente, não. As coisas não estavam se desenrolando tão natural e normalmente como pareciam, ou deveriam, estar. Muito pelo contrário, estavam se enrolando cada vez mais nas tramas da rede que ele mesmo tramou, e na qual totalmente se enroscou. Porque, ao invés de ir pescar legalmente com vara e anzol, ele preferiu utilizar meios ilícitos, que a lei não permite: rede, tarrafa e dinamite.
Além disso, tudo parecia suspeitamente semelhante a um daqueles tipos de assalto feitos por pessoas inescrupulosas, sarcásticas, zombeteiras e de muito mau humor, que poderiam ter entrado facilmente dentro do seu bunker-casa, que ainda não dispunha de nenhum telhado; visto que tal falta de cobertura (arquitetônica e policial) certamente poderia ter facilitado em muito o roubo.
Decorridos 17 anos e alguns meses, investigações preliminares, efetuadas conjuntamente por MP, PF, RF, CPI, DEOESPam-DF, CPMF, ISS, STJ, STF e 52ª. DP/sucursal CPCBN (todas elas, instituições húngaras, claro!), apresentam uma discreta tendência a favor (melhor seria dizer “contra”?) desta segunda hipótese.
E então, o corvo, prévio detentor privilegiado de tal informação, negra ave agourenta de um espécime que era uma espécie de alarme alado vivo, para todas as horas – ainda comendo uma suja raiz cheia de fuligem que ele pegara por ali –, como era amigo fiel e incondicional (talvez, menos na “condicional”) do nosso sub-repticiamente anônimo personagem central, tocou o berrante no meio da mata e, com um sorriso meio maroto, como se fosse um cachorro, soltou um alto latido denunciando a presença do suposto e lerdo larápio, que ainda tentava fugir pra se esconder no meio do matagal.
(i)moral da história: sorrisos corvenientes, isto é, convenientes e coniventes, são próprios de corvos sorridentes.
(by Brumbe, pursued by a crow in Budapest)
(from his “ood to oot rhyme serie”)
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