quarta-feira, 29 de março de 2017

rastros e traços

Rastros e traços

No meu ar ainda paira algo intraduzível,
incomparável, incomensurável, sem nome:
é o seu perfume
E na minha fronha e no meu travesseiro
ainda, travessamente,
se assanha o seu cheiro
Nos meus cobertores
ainda vibram, timidamente,
seus tremores e seus estertores
E no meu lençol
ainda há fagulhas do seu radiante e gratificante sol
Na minha janela ao vento ainda tremula a sua lua
E minhas vidraças e espelhos ainda tremem
por ousarem refleti-la toda nua
Sobre a mesa, numa taça de vinho,
sempre o melhor ou um muito bom
sempre fica o fino, levíssimo, discreto e refinado traço do seu invisível batom
E a minha cama só se declara e declama
realmente cama
quando a gente se ama
O meu quarto inteiro
de canto a canto
pelos quatro cantos
(geométricos e musicais)
só quer você inteira
de terça a terça feira
E às vezes, como um louco,
abro a porta e reviro tudo,
desvairado revirado,
até o tapete e o capacho,
mas, muito triste, nunca te acho
E toda a minha casa,
graciosamente,
agraciadamente,
por você chama, clama e reclama,
repetidamente,
todo dia
dia e noite
noite e dia

quinta-feira, 9 de março de 2017

devagaração

diverjo e divirto de frente, de prosa e de verso
do diverso, avesso e transverso
do que vejo, sinto e penso
(página ainda em construção
desejo, que seja, ainda em divagação
ou em mera devagaração
devagar... ação)