quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Vestindo Aquarianas


Vestindo Aquarianas

Preparando meu filé goiano pré-fatiado, com queijo mineiro ralado, ao vinho chileno bem engarrafado e salada tailandesa empacotada, por volta da hora do chá da Rainha, 3 às 5 da tarde, eu costumo ligar a TV da minha cozinha, que só pega TVs abertas, e, enquanto o vapor de gordura do azeite sobe e o vinho pela garganta desce e se acerta, gosto muito de ficar vendo e saboreando o Sem Censura da Leda Nagle na TV Brasil que, cá pra nós, é sempre bem melhor do que qualquer outro programa das outras TVs abertas, nesse horário. Pelo menos, é bem mais saudável, palatável e de fácil digestão.
E ontem, 26/02/2014 – mas nem importa se foi ontem ou hoje, porque foi programa reapresentado, elaborado e cozinhado num dia qualquer do ano passado –, ela, a Leda, e suas convidadas (pois só tinha mulher), estavam discutindo algo que eu só consigo classificar ou nomear como: A Astrologia Aplicada às Roupas das Mulheres Conforme os Seus Signos.
Moda e Astrologia: não consigo pensar em outros assuntos tão estranhos para mim quanto estes dois. Tão eqüidistantes de mim quanto os Pólos terrestres estão do Equador, quanto Mercúrio está de Netuno, quanto o Sol está do centro da galáxia.
Se ao menos fosse Mundo e Astronomia, ao invés de Moda e Astrologia, talvez eu me sentisse um pouco mais confortável e feliz, flutuando num astral mais elevado, como que vestindo uma camiseta larga e rasgada, uma velha bermuda furada, uma havaiana pra lá de achinelada, e degustando o divino lácteo néctar diretamente na fonte: a própria via por onde transitam as constelações do zodíaco.
Mas, ainda assim a experiência à moda “gastrológica” foi muito interessante e, repito, sinceramente, foi um assunto muito melhor, mais proveitoso e mais produtivo do que qualquer filmezinho ou novelinha da Globo (pelo menos fiquei sabendo que cada signo exige uma roupa especial, assim como da sua recíproca, que também é verdadeira: cada roupa se adéqua a um signo especial, e vice-versa) ou uma daquelas reportagens sanguinolentas dos outros canais. Sanguinolento bastava o bife que eu estava passando na frigideira.
E lá estavam elas falando, signo por signo, constelação por constelação (outra vantagem: revisitei meus conhecimentos astronômicos, visto que as constelações astrológicas são algumas das principais constelações astronômicas que nos rodeiam) qual era a roupa ou vestuário melhor para cada mulher de acordo com os signos astrológicos, em detalhes tais como: mangas, decotes, barras de saia, vestidos justos ou folgados, terninhos, batas ou bermudas, suas cores e matizes, vincos, babados e penduricalhos, e artigos dessa linha – interessante é que elas não distinguiam as estações do ano, se era pro frio ou pro calor, ou então era só pro verão mesmo, estação predominante em 11,8 dos nossos 12 meses.
E elas foram falando de: libra, gêmeos, touro, intervalo comercial (na verdade, institucional, por se tratar de TV estatal), peixes, escorpião, sagitário, outro intervalo, capricórnio, leão, virgem ... e eu, já comendo os bifes, fiquei pensando lá comigo: Porra, meu, elas não vão falar de aquário, ou já falaram e eu não vi?!
É, porque aquário é assim: ou não falam ou deixam sempre por último. Não deu outra, ficou pro final. Quando a Leda, no último bloco, perguntou sobre aquário, a astróloga-porta-voz respondeu (achei muito engraçado): “ah... é porque aquário é assim: um aquariano nunca se parece com outro aquariano, um aquariano é sempre diferente de outro aquariano, e eles pensam sempre muito diferente de todo mundo, e muito na frente de todo mundo, e é muito difícil estabelecer padrões de vestuários para elas” (e ela ressaltou que isso valia tanto para elas quanto para eles).
A partir daí, todas as astrólogas-estilistas se enrolaram pra valer citando exemplos do irmão da amiga, da namorada do primo, da colega de faculdade, todos aquarianos, claro, que haviam feito consultas – ou melhor, inventado moda, como elas disseram – a respeito do que vestir. Pois nada, absolutamente nada, das meias aos chapéus passando por cintos e lenços, era objeto capaz de estabelecer um padrão mínimo aceitável que distinguisse as aquarianas, nem mesmo, ou muito menos, suas cores prediletas. Elas concluíram dizendo que as aquarianas não seguem moda, que as aquarianas ditam moda. Mas não a moda para agora, para o presente, e sim a moda adiante, para anos à frente.
O Sem Censura de ontem acabou assim, com uma grande incógnita: Como vestir as aquarianas? E eu já estava no último naco de bife, nas ervilhas finais, no derradeiro gole de vinho, quanto me flagrei aplicando a mim mesmo a eterna pergunta recorrente que, nestes casos, insiste e resiste em minha mente:
E o que é que eu tenho a ver com isso?!
Fora o fato de eu ser aquariano e gostar de Astronomia que é meia-irmã da Astrologia, e viver muito mais no mundo da Lua do que no mundo em moda, nada!!! Absolutamente nada!!!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Adão e Eva existiram mesmo!


Adão e Eva existiram mesmo!

Bem que poderia ter sido verdade essa notícia de que a Igreja Católica havia, enfim, reconhecido que Adão e Eva jamais existiram, o que é a pura verdade. Porém, felizmente para muitos bilhões, mas infelizmente para outros tantos milhões, o nosso famoso casal ancestral, o par primordial, aquele do “pecado original”, existiu de fato, é verdade, foi real.
Confesso que cheguei a ficar até bem esperançoso, em júbilo, entusiasmado mesmo, pensando cá comigo: que bom que eles estão tomando juízo afinal (mas, não Juízo Final!), pois, depois de tardiamente livrarem Galileu Galilei das fogueiras da Inquisição, reconhecendo que ele estava certo ao contestar os excêntricos dogmas geocêntricos da igreja, agora, enfim, indicam que poderão vir a reconhecer a verdadeira gênesis da nossa história e de todos os seres vivos: criação natural, seleção natural e evolução natural, naturalmente.
Mas, ainda tenho fé que, cedo ou tarde (na verdade “tarde”, porque “cedo” já era), eles finalmente irão decretar que essa estória esquisita e maluca de que “o primeiro homem foi feito de um monte de barro, através do sopro divino, e que a primeira mulher foi feita a partir de uma costela (coitadas das mulheres, tratadas como subproduto desde a ‘criação’!) desse mesmo homem”, é tão verídica e séria quanto às estórias de Papai Noel, do Saci-Pererê ou da Mula-sem-cabeça.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Nin de Passarin


Nin de Passarin

Os passarin tão fazendo nin
com gravetin e ramin de capim,
bem pertin da antena dos urubus,
dos urubus antenados.
Ninho feito em calha de água de chuva.
Ninho que não calha bem.
Bem que calhou foi a chuva fina que caiu.
Ninho que na primeira chuva grossa se vai.
Bem como eu, que no último sol de hoje, embora vou.
Bye bye Bahia.